Crítica
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Sinopse
Crítica
Rusty James (Matt Dillon) vive numa pequena cidade industrial norte-americana. Jovem e irascível, ele aproveita qualquer oportunidade para brigar, transformando em agressão física a incontinência de sua raiva. Gostaria de ter vivido a fase das gangues, época não tão longínqua assim, na qual seu irmão, conhecido pela alcunha de O Garoto da Motocicleta (Mickey Rourke), reinou como líder absoluto. Após período ausente, o antigo chefe das ruas retorna sereno. Fruto da experiência e/ou, como o pai alcoólatra deles (interpretado por Dennis Hopper) diz mais adiante, de certa clarividência que o faz ver o mundo como ele realmente é, repleto de miséria e sofrimento? Em O Selvagem da Motocicleta Francis Ford Coppola utiliza mais uma vez a família como núcleo de uma sociedade adoecida, em processo vertiginoso de falência.
Enquanto O Garoto da Motocicleta vaga por aí, sem muita perspectiva do que fazer, Rusty James incomoda-se com o nada, com a inércia que o prende num cotidiano vazio de significados. Ele não consegue levar adiante o namoro com Patty (Diane Lane) e perde pouco a pouco a consideração dos amigos, estes sem disposição a segui-lo cegamente ao precipício. Vê-se solitário, protegido pela lenda-viva que inspira respeito, mas ainda assim assustado diante da inevitável necessidade de andar com as próprias pernas. O preto e branco da fotografia confere a O Selvagem da Motocicleta um visual expressionista. O diálogo inteligente e constante entre luz e sombra atesta esteticamente a decomposição do entorno, bem como das relações. Aliás, vemos tudo destituído de cores, justo porque O Garoto da Motocicleta enxerga literalmente dessa maneira. Como espectadores, miramos aquele mundo particular valendo-nos dos olhos dele.
Rusty James tem o azar de crescer num período transitório, em que passado e futuro, ultrapassado e moderno, lutam para se redefinir. A vida já não é a mesma, as gangues deixaram as ruas porque a droga varreu até mesmo o romantismo dos embates de outrora. O saldo é um bando de sorumbáticos que se entorpecem para esquecer, para não se defrontar com o que está por vir. Na medida em que a trama avança, Coppola amplia o choque velado entre o primogênito e o caçula. O Garoto da Motocicleta carrega no semblante mais peso que sua pouca idade a priori permite, ficando cada vez mais ensimesmado, comportamento a certa altura confundido com insanidade. Rusty James, por sua vez, aumenta a inquietude, rompendo os poucos laços extrafamiliares que ainda mantinha sadios, se autodestruindo gradativamente.
A metáfora dos peixes é que melhor define o drama dos protagonistas. Assim como os animais, confinados num aquário de pet shop, os irmãos se veem presos naquela cidade tacanha, de tamanho desproporcional às suas ambições. Por isso, precisam da violência como válvula de escape. Em O Selvagem da Motocicleta, Francis Ford Coppola, baseado no livro Rumble Fish, de Susan Hinton, lança luz sobre personagens que buscam a direção certa sem o auxílio de bússola. Assim como os peixes (únicos elementos vistos em cores), que talvez tenham uma chance de sobreviver à própria natureza furiosa se no lago, com mais espaço para seus anseios, quem sabe Rusty James e O Garoto da Motocicleta tivessem melhor sorte caso não fossem produtos de um meio (parental e social) degrado e opressor.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 8 |
Chico Fireman | 9 |
Ailton Monteiro | 7 |
Wallace Andrioli | 6 |
Bianca Zasso | 9 |
MÉDIA | 7.8 |
Excelente resenha! Muito bom o texto.