O Ritual

Crítica


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Sinopse

Em O Ritual, dois padres, um questionando sua fé e outro lidando com um passado problemático, devem deixar suas diferenças de lado. O objetivo agora é unir forças para realizar um exorcismo difícil e perigoso em uma mulher que está possuída por uma entidade maligna. Horror.

Crítica

Em uma Hollywood cada vez mais carente de ideias originais, olhar para o passado tem se mostrado mais do que uma opção, e, sim, uma estratégia de sobrevivência. Sequências, continuações, remakes, releituras, prequels, spinoffs… tudo parece ser viável na busca por qualquer tipo de ligação com algum outro título de fácil reconhecimento pelo grande público – e que, em tese, possa garantir um mínimo de interesse já de partida. Ainda que num primeiro momento não pareça se encaixar nessa tendência, O Ritual é um típico representante do movimento “olhar para trás para seguir adiante”, por assim dizer. Da mesma forma como James Wan vem fazendo há mais de uma década com a saga Invocação do Mal, o diretor e roteirista David Midell também se aproveita de um suposto “caso real” para colocar em pé essa história de terror que, por sua vez, teria servido de base – e é aqui onde a ligação se dá – para um dos maiores clássicos do gênero. E ao fazer uso destes dois pilares, transforma em escárnio e abuso tudo aquilo que poderia minimamente despertar interesse em um espectador curioso por ambos, restando apenas o excesso e o barulho.

Assim como O Exorcista: O Devoto (2023) tentava tirar leite de pedra apresentando-se como nada menos do que o quinto longa-metragem a se basear no inimitável O Exorcista (1973) – primeira obra de terror a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme, tendo sido premiado em Roteiro Adaptado e Som, além de ter somado quase duas dezenas de premiações em seu lançamento há mais de cinco décadas – esse O Ritual tenta pegar carona na mesma onda. Porém, sem revelar eventos prévios, muito menos investigar desdobramentos posteriores. A pretensão dessa vez está em levar às telas o episódio verídico que teria, acredita-se, inspirado o escritor William Peter Blatty a elaborar o livro que depois serviria de base para o filme dirigido por William Friedkin. Ou seja, é mais ou menos um “como tudo começou”, que serve mais como ferramenta de marketing do que como laço evidente durante a trama. Tem-se, de similar, apenas o básico: uma menina “possuída pelo demônio” e um padre em crise religiosa tendo que livrá-la dessa maldição.

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Mas se há algo que David Midell não possui é sutileza. Bob Logan e o saudoso Leslie Nielsen fizeram melhor ao se aventurarem pelo mesmo terreno com a comédia besteirol A Repossuída (1990) – ao menos se tinha a verdadeira Linda Blair em cena e o deboche era evidente desde o começo. Com O Ritual, no entanto, esforça-se para imprimir um tom austero, mas a falta de jeito do condutor da trama atrapalha qualquer comprometimento neste sentido. Há de se considerar também as escolhas equivocadas da produção. Talvez nenhuma seja maior do que optar por Dan Stevens como protagonista, quando se tinha Al Pacino ali ao lado esperando por mais tempo em cena. Afinal, eleger qual ponto de vista assumir durante os eventos presenciados é de única e absoluta responsabilidade do roteirista (e também diretor, não por acaso). Foi Midell que decidiu apostar no padre Steiger (Stevens), que perdeu o irmão há pouco e passa por um momento de questionar a própria fé, ao invés de investir no perfil do clérigo Riesinger (Pacino), o veterano com larga experiência em situações similares e cuja noção do que ambos estão prestes a enfrentar é o que melhor define o enredo.

Steiger é avisado logo no início que a igreja que coordena será cenário de um exorcismo. A jovem Emma Schmidt (Abigail Cowen, de Enquanto Estivermos Juntos, 2020) será levada para lá. A ele cabe apenas recebê-la e proporcionar o que for necessário para tudo corra da melhor maneira possível. Quem irá conduzir o procedimento será Riesinger, que virá de outra paróquia especialmente para a ocasião. Enquanto o primeiro se preocupa em fazer caras e bocas em meio à dúvidas banais e espantos já esperados, resta a Pacino não muito mais do que frases de efeito e uma composição de canto de olho, do esperto que sabe da incredulidade que o cerca e tomado pela paciência necessária para se confirmar ciente do melhor caminho a tomar frente a cada desafio. Sobre as etapas em si, há pouco a se observar. Apesar do título, O Ritual parece mais interessado em provocar sustos de ocasião do que em estudar o passo a passo de uma metodologia cercada de suspeitas e dúvidas. Mais uma oportunidade desperdiçada, que nem as cartelas com explicações antes dos créditos finais são capazes de reverter tamanha frustração.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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