Crítica
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Sinopse
Bart Bromley é recepcionista à noite em um hotel não muito movimentado. Quando se torna testemunha do assassinato de uma hóspede, descobre que sua própria vida pode estar em risco. O fato de sofrer de Síndrome de Asperger torna as coisas ainda mais complicadas, assim como a descoberta do primeiro amor.
Crítica
Se há um motivo para se assistir a O Recepcionista, este deve ser o interesse em conferir a performance de Tye Sheridan como Bart, o protagonista. O garoto de pouco mais de vinte anos, que aprendeu com profissionais experientes como Brad Pitt (A Árvore da Vida, 2011), Matthew McConaughey (Amor Bandido, 2012) e Nicolas Cage (Joe, 2013), além de ter sido guiado por Steven Spielberg no sucesso Jogador N° 1 (2018) e adentrado o Universo Marvel como o mutante Cyclope em X-Men: Apocalipse (2016), desde então tem se aventurado em uma seara mais ousada e independente. O resultado pode ser percebido na comédia dramática Friday’s Child (2018) ou nesse suspense que parte de uma premissa curiosa, ainda que não original – afinal, o caso da testemunha impedida de dar seu relato a respeito de um crime que apenas ela observou é quase um subgênero à parte. No entanto, a despeito de um desfecho decepcionante e de uma condução irregular, está em Sheridan a responsabilidade de manter a atenção do espectador até o fim, seja pelo comprometimento que demonstra como também pela imersão a que se dispôs para dar vida ao seu personagem.
Bart é um jovem independente que, apesar de morar no porão da casa da mãe, entra e sai a hora que quer, sem precisar dar satisfações, e está sempre atento aos seus compromissos, como o trabalho que executa como recepcionista noturno em um pequeno hotel próximo de onde mora. O que o torna diferente de seus colegas e vizinhos é o fato de sofrer de Síndrome de Asperger, uma condição que dificulta o trato social e torna sua convivência com os demais um fardo com o qual precisa constantemente lidar. Ciente de suas limitações, tem como hábito observar os outros e, pela repetição e prática, tentar, se não adquirir a mesma naturalidade, ao menos descobrir como imitá-los. Para tanto, deixa câmeras espalhadas pelos ambientes que frequenta – inclusive dentro dos quartos, o que sabe que é errado, apesar de tal conceito ser superado pela necessidade de aprovação. Ele não o faz por curiosidade ou para bisbilhotar: o que anseia é aprender, e com isso, superar suas dificuldades.
Porém, quando uma das hóspedes é atacada dentro do seu dormitório e morta, sendo que ele foi o único a presenciar o ocorrido, sabe que revelar a verdade ao investigador pode lhe colocar numa situação indesejada. Este, a princípio, seria o mote necessário para que a trama se desenvolvesse rumo a um cenário de reviravoltas e surpresas. O diretor e roteirista Michael Cristofer, no entanto, está mais interessado em ir atrás das reações deste que colocou no centro da ação do que analisar as repercussões provocadas por essa. Tanto é que logo deixa de lado as percepções do detetive responsável pelo caso para acompanhar Bart, que é transferido para um outro hotel da mesma rede. É nesse novo posto que conhece Andrea (Ana de Armas, deslocada, pois não convence frente às possíveis facetas que busca defender). Que ela possui uma agenda própria não chega a ser mistério. As ligações que acabam se estabelecendo entre eles, no entanto, soam forçadas, não como fruto de um planejamento. Por isso é que não chegam a se apresentar como críveis, falhando na criação de um ambiente que propiciasse a dúvida a respeito das suas reais intenções.
Em um conjunto de opções tão limitadas – além do casal, há ainda o policial (John Leguizamo, sem muito o que fazer), o viúvo da mulher assassinada (Johnathon Schaech, mais um galã do que de fato um intérprete) e a mãe do rapaz (Helen Hunt, sem justificar o Oscar recebido há mais de vinte anos) – não se torna uma tarefa das mais complicadas descobrir quem é o verdadeiro autor do assassinato sob investigação. Assim, sem um segredo que se sustente, o que se denota são tentativas desastradas de gerar um envolvimento romântico absolutamente artificial, que não encontra respaldo nas atuações. O próprio Asperger defendido por Sheridan, por mais convincente que seja, soa desconfortável, ainda mais em tempos como os atuais, que buscam diminuir às restrições às minorias, oferecendo maiores oportunidades àqueles que de outra forma seriam deixados de lado: se o personagem é capaz de trabalhar em uma posição de relacionamento com o público, não haveria alguém com as mesmas características capaz de assumir o papel, ao invés de entregar tal responsabilidade a um intérprete obrigado a recriá-la através da ficção? Não que seja uma necessidade, mas ao menos surge como um questionamento razoável.
Responsável por dois filmes estrelados por Angelina Jolie, o tenso Gia: Fama e Destruição (1998) e o desastroso Pecado Original (2001), Cristofer estava há quase duas décadas sem ir para trás das câmeras, período que ocupou à frente delas, aparecendo como ator em séries como Ray Donovan (2013-2016) ou Mr. Robot (2015-2019), ou nos bastidores, escrevendo os roteiros de filmes como Casanova (2005) ou Punhos de Sangue (2016). Nada digno de ser notado. O mesmo destino parece reservado ao seu retorno como realizador neste O Recepcionista, uma história que, justamente por trilhar caminhos há muito conhecidos, exigiria uma abordagem mais radical e diferenciada para que justificasse maiores atenções. Tye Sheridan é um ator que está além da mera promessa, cujo futuro certamente irá trazer performances intensas e complexas. Sua maior preocupação, nesse momento, deveria se ater às companhias. Se quando criança ou adolescente parecia escolher com mais cuidado a quem se aliar profissionalmente, essa é a maior lição a ser lembrada nessa nova fase de sua vida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Marcio Sallem | 4 |
MÉDIA | 4.7 |
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