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Sinopse

Num futuro não muito distante, tempo virou moeda. As pessoas param de envelhecer aos 25 anos. Os ricos conseguem “ganhar” décadas de uma só vez, podendo até se tornar imortais. Os outros têm de pedir esmolas, pegar emprestado ou roubar mais horas pra chegar vivo até o final do dia. Ao ser falsamente acusado de assassinato, Will Salas terá de provar sua inocência e descobrir um jeito de destruir este sistema.

Crítica

De um lado temos Gattaca (1997), um dos mais interessantes e originais exemplares de ficção científica do final do século XX. Do outro, temos os malfadados S1mone (2002) e O Senhor das Armas (2005), duas produções que prometiam muito e entregavam pouco. Portanto, a dúvida natural é: para que lado pende O Preço do Amanhã, novo trabalho de Andrew Niccol, diretor destes acima citados e roteirista também do ótimo O Show de Truman (1998) e do tedioso O Terminal (2004)? Conclusão? Apesar de apontar seriamente para a primeira categoria, ao término da projeção é quase inevitável o sentimento de frustração.

O argumento é bastante interessante. Num mundo futuro, a moeda de troca e valia entre os cidadãos passou a ser o tempo que cada um dispõe. Cada ser humano nasce com direito a apenas 25 anos, a partir daí o envelhecimento é interrompido e cada um vive de acordo com sua riqueza. Ou seja, enquanto alguns mal chegam aos 30, outros vivem até os 100, 300 ou mesmo 1.000 anos, mantendo a mesma aparência de quando tinham apenas um quarto de século. E, obviamente, para que alguns sobrevivam décadas em ótimo estado, centenas de milhares precisam amargar péssimas condições de sobrevivência, minguando por cada minuto extra. O mundo passou a ser dividido por fusos horários muito mais restritos, e para circular entre um e outro altas taxas são cobradas. Agentes do tempo controlam esse intercâmbio, e todo mundo possui um relógio digital no punho esquerdo que registra cada segundo conquistado – ou perdido.

O protagonista de O Preço do Amanhã é Will Salas (Justin Timberlake, em mais uma boa interpretação, mostrando estar apto à condição de protagonista), um jovem proletário de 28 anos que vive apenas o dia a dia, sem grandes esperanças. Isso até o instante em que seu caminho cruza com o misterioso Henry Hamilton (Matt Bomer), um homem que o doa mais de um século, suicidando-se logo após. Essa mudança inesperada de condição desperta a atenção dos encarregados em manter a ordem social entre as classes, dando início a uma cuidadosa investigação. Ao lado de Salas estará a bela Sylvia Weis (Amanda Seyfried, em atuação protocolar), uma rica herdeira que se apaixona pelo fugitivo, dando início a um típico caso de Síndrome de Estocolmo aos moldes do clássico Robin Hood.

Andrew Niccol arma um cenário muito curioso em O Preço do Amanhã. Infelizmente, no entanto, este não se sustenta diante tantos clichês e soluções convencionais e óbvias. Tudo é muito chique, classudo e elegante, mas ao mesmo tempo é tão artificial e vazio quanto os personagens que o defendem. Há claras pretensões de evocar o estilo e o dinamismo de um Matrix, mas tudo o que se consegue é mais do mesmo, reduzindo as indagações levantadas e todos os porquês suscitados a um mero jogo de gato e rato, em que nem o próprio perseguidor possui convicção suficiente para atingir seu objetivo. E se tudo o que vemos é raso e asséptico, nada mais natural do que a apatia despertada nos espectadores, eliminando qualquer possibilidade de envolvimento com a plateia. Assim, tem-se um filme bonito e aparentemente competente, que numa análise mais ligeira até pode convencer, mas que não resiste a um olhar mais apurado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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