Crítica
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Sinopse
Arthur é chamado para trabalhar no Ministério das Relações Exteriores assim que se forma. Responsável por elaborar os discursos do ministro, ele logo tomará contato com intenções golpistas e excesso de vaidade.
Crítica
Arthur Vlaminck tem um problema. Jovem em ascensão, acaba de aceitar o emprego dos sonhos: foi convidado para trabalhar no Quai d’Orsay, prédio ao qual o título nacional faz apenas referência, sem no entanto dar ‘nome aos bois’, como a denominação original o faz sem ressalvas. Ele foi contratado para ser responsável pela redação dos discursos do presidente do país. No entanto, apesar do cargo de confiança, entre ele e o líder máximo da nação há um sem número de assessores, ministros, secretários e legítimos ‘aspones’ (como tão bem foram interpretados por Selton Mello e turma no antigo programa da televisão brasileira). E pra complicar de vez, cada um falando a sua própria língua, com objetivos, interesses e necessidades diferentes. Esta verdadeira torre de babel compõe o centro da trama de O Palácio Francês, premiada comédia política dirigida por Bertrand Tavernier.
Casado com a bela Marina (Anaïs Demoustier, de Elles, 2011), Arthur (Raphaël Personnaz, de Três Mundos, 2012) é competente em sua atividade, mas logo percebe que não será fácil exercê-la a contento na nova posição que ocupa. O jogo dos bastidores tem função mais decisiva do que o bom texto, a pertinência no uso das palavras ou os dizeres certos nos momentos mais apropriados. Uma vez inserido neste cenário, ele reconhece como principal aliado o atarefado Claude (Niels Arestrup, de Cavalo de Guerra, 2011), braço direito do presidente e homem que, aos poucos, percebe-se ser o verdadeiro governante da nação. A composição deste personagem é um dos elementos mais interessantes da produção, indicando uma postura que se mantém tanto influente quanto apagada, agindo sempre nas sombras, como uma eminência parda que nunca se revela por completo, mas que está sempre pronta para a ação. O desempenho do ator é tão eficiente que correspondeu ao único prêmio do filme no César – o Oscar francês – na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, além de ter concorrido ainda como Atriz Coadjuvante (Julie Gayet), e Roteiro Adaptado.
Quem for assistir a O Palácio Francês esperando encontrar uma releitura de outras obras de forte teor político, como o excelente O Exercício do Poder (2011), certamente irá se decepcionar. Tavernier, um veterano já premiado nos festivais de Cannes, Berlim e Veneza, retorna às telas com esse trabalho dotado de uma sabedoria que apenas a idade e a experiência é capaz de proporcionar. Seu filme é elegante, afiado em suas críticas, porém não ofensivo. O tom geral é o de um humor leve, quase de situações, que aposta na comédia de erros para se fazer válido. O texto afiado, escrito por Christophe Blain e Abel Lanzac, ambos estreantes, consegue ser legítimo sem ser ranzinza, abordando questões que teriam tudo para soarem complicadas, mas que são facilmente absorvidas pela plateia, que gradativamente vai se envolvendo neste emaranhado de confusões, fofocas, boatos e falatórios. E, uma vez dentro, será impossível não rir e se admirar de tudo que é exibido. Além de se perguntar, é claro: “se na França é assim, imagina no Brasil?”!
Personnaz é um talento que vem se provando à altura dos desafios que tem assumido recentemente. O Palácio Francês é um trabalho no qual ele se adapta perfeitamente, pois conquista a audiência pela beleza, ao mesmo tempo em que nenhum momento prejudica a verossimilhança da história. Thierry Lhermitte, como o presidente, e até a icônica Jane Birkin, em participação mais que especial, são outros achados, respondendo por sequências bem humoradas que colaboram com o clima de leveza frívola ao qual o filme se propõe. Firme em sua posição de ridicularizar o sistema político francês, porém sempre com muito tato e personalidade, tem-se aqui um filme que sabe entreter sem desrespeitar a inteligência do espectador. Um exemplo, é preciso concordar, cada vez mais raro.
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