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Sinopse

Um santuário remoto e sombrio perto de Berlim revela uma história cheia de horror e crimes contra a humanidade. Um grupo de youtubers acessa ilegalmente o sinistro bloco de cirurgia do local, para um desafio de 24 horas, com a intenção de que a aventura viralize nas redes. Equipados com visão noturna e câmeras térmicas, os adolescentes viciados em adrenalina perseguem os rumores de atividade paranormal no prédio em decomposição, apenas para aprender cedo demais que não estão sozinhos – e não são bem-vindos.

Crítica

Vai ser muito difícil um exemplar desbancar O Manicômio do topo da lista de Piores Filmes de 2019. Pode parecer uma constatação precipitada, mas ela começa a ganhar corpo logo nos primeiros momentos do longa-metragem alemão dirigido por Michael David Pate – que no Brasil será lançado apenas com cópias dubladas. Antes da chegada da turma que, pela enésima vez no cinema relativamente recente, vai desafiar seus medos numa propriedade com ares de mal-assombrada, a fase de apresentação é praticamente insuportável. Nela, YouTubers (os protagonistas) falam diretamente a câmeras como se estivessem apresentando seus conteúdos de gosto absolutamente duvidoso para milhões de seguidores fieis. Sim, é como ver cerca de meia hora de vídeos com gente chata e arrogante. Marnie (Sonja Gerhardt) tem um canal em que mostra pessoas encarando suas fobias. Ela possui abrangência limitada e, por isso, não perde a oportunidade de embarcar na jornada imbecil de algumas subcelebridades da internet por um manicômio abandonado e cheio de histórias macabras.

Desejar que a complexa questão da notoriedade, dos esforços para além do ponderável e do aceitável a fim de ganhar atenção, seja questionada profundamente no filme, é pegar um caminho sem volta rumo à decepção irrestrita. O Manicômio passa como um rolo compressor sobre qualquer possibilidade de estofo relevante da trama, de algo que diminua a sua superficialidade e seu mal enjambramento. Sem “perder tempo” com explicações e contextualizações, o realizador insiste em direcionar os holofotes ao histrionismo de uma juventude preocupada com a publicidade de seus atos, sem o mínimo cuidado quanto ao conteúdo daquilo que acaba inspirando, sobretudo, os adolescentes. Mas, novamente, esperar que a narrativa seja construída sobre essa observação social relevante é querer demais, em se tratando de um produto sem alma e qualidade, cuja linguagem, sequer, é capaz de provocar sustos pontuais. Prevalece uma lenga-lenga interminável, focada em discussões nada relevantes e/ou minimamente cativantes, que somente “enche linguiça” em prol de patavina.

É difícil não torcer para que uma desenfreada carnificina diegética ponha fim na agonia de assistir à O Manicômio. Isso, mesmo. Facilmente, torcemos para que aqueles personagens intragáveis sucumbam diante das forças que agitam o espaço com aparições supostamente surpreendentes, porém bobas e sem peso dramático. Michael David Pate não logra êxito ao fazer uma crítica (não que ele tente o suficiente) a essa nova leva de produtores de conteúdo descartável que visam a celebridade como única meta possível. No que tange à construção do horror, em si, o solitário elemento com alguma densidade é a direção de arte, único departamento de esforço maior que o totalmente em vão. De resto, nem criaturas abomináveis surgindo do nada, tampouco corpos de amigos mutilados por poderes ocultos dão conta de espantar a sensação de estar diante de um fracasso crasso e retumbante. O dispositivo das pessoas correndo com câmeras, falando como se à audiência futura, consegue amplificar a ruindade do transcorrer do enredo, esse amontoado de equívocos.

O Manicômio possui, ainda, diálogos sofríveis, alguns deles responsáveis por extrair o átimo de importância da mirada fragilmente ferina à perseguição do sucesso a todo preço. Durante a crise que se instaura tortuosamente, componentes como um rompimento amoroso mal resolvido no passado e a atração circunstancial entre membros dessa pegadinha estúpida e coletiva são tratados com a leviandade das demais instâncias, asseverando a quase completa falta de predicados do conjunto. Para tornar as coisas piores (sim, eles conseguem), há o plot twist enfiado a fórceps, que apenas afeta superficialmente a estrutura do filme, até porque, nos acréscimos da trama, outro plot twist se encarrega de desmenti-lo, enfatizando a desorientação dos criadores. Como mencionado antes, vai ser preciso que os concorrentes comam muito arroz com feijão para se aproximar da obra de Michael David Pate, que conquista a “proeza” de ser descartável enquanto cinema de gênero e de exibir um grupo tolo de alienados com menos carisma que um fantasma ou um cadáver.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Marcelo Müller
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Roberto Cunha
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MÉDIA
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