Crítica

No site IMDb, um leitor chamou O Grupo Baader Meinhof de “necessário”. Este é, mesmo, o termo mais apropriado para defini-lo. E talvez seja por isso, também, que uma produção tão protocolar tenha conseguido indicações a prêmios importantes como o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta. Não que tenha sido premiado em alguma destas ocasiões, longe disso. Mas o tema que aborda – o real grupo terrorista comandado pelo revolucionários Andreas Baader e Ulrike Meinhof que durante os anos 60 e 70 deram base ao The Red Army Faction (RAF), na Alemanha Ocidental – é por demais pertinente para ser ignorado. Ou seja, o reconhecimento, neste caso, é quase tão institucional e burocrático quanto o próprio longa-metragem em questão.

Baseado no livro-reportagem de Stefan Aust, O Grupo Baader Meinhof é quase que uma transposição literal de todos os principais momentos das trajetórias destes jovens rebeldes que, indo contra uma sociedade pré-estabelecida a favor de conflitos vazios como a Guerra do Vietnã e a situação no Oriente Médio, começaram a agir por contra própria. Aos poucos, no entanto, os assaltos a bancos e a vocação de ‘Robin Hood’ foi ficando para trás, e, ao partirem para ações mais organizadas e ambiciosas, o que incluiu desde o sequestro de políticos a ataques à embaixadas, passando pelo uso de bombas caseiras e invasões à prisões domiciliares, passaram a ser reconhecidos não só pela mídia como também pelo governo, cada instante mais decidido a eliminá-los, não importando o preço para atingir tais objetivos.

O grande problema do filme dirigido pelo alemão Uli Edel, que resolveu retornar às origens após uma passagem de alguns altos (Noites Violentas no Brooklin) e muitos baixos (o soft-porn Corpo em Evidência, com Madonna, ou o infantil O Pequeno Vampiro) pelos Estados Unidos, é justamente a sua falta de envolvimento. Como protagonistas temos uma turma de arruaceiros, um tanto incertos das consequências de suas atitudes, que partiam abertamente para a violência em busca de algo que nem mesmo eles reconheciam direito. Do outro lado, em contrapartida, temos um governo conivente com uma série de injustiças dentro e fora do seu país, dono de uma postura arrogante e capaz de decisões altamente incompetentes. Ou seja, é complicado saber para qual lado torcer – ou lamentar.

Um dos destaques, no entanto, é o impressionante time de atores reunidos no elenco de “O Grupo Baader Meinhof”, que reúne alguns dos maiores talentos do atual cinema alemão. Como protagonistas estão o onipresente Moritz Bleibtreu (Corra Lola Corra), como Baader, e a intensa Martina Gedeck (A Vida dos Outros), como Meinhof. Ao contrário do que se possa pensar, os dois não eram amantes. Ele representava a intensidade, a energia, a voracidade e o desespero. Ela, por outro lado, era a intelectual, a jornalista responsável pelo registro dos acontecimentos e pelas palavras que exprimiam os sentimentos e as angústias por trás de cada revolta. Os dois acabam atuando lado a lado quase que por acaso, e uma união entre pólos tão opostos não poderia ser mais explosiva. Como contraponto temos o sempre excelente Bruno Ganz, visto nos recentes Vitus e O Leitor, mas que sempre será lembrado ou como o anjo caído de Asas do Desejo ou como o irascível ditador Adolf Hitler de A Queda. Ele é a voz sensata que tenta impor algum sentido para a captura destes jovens tão inconsequentes quanto irresistíveis.

O Grupo Baader Meinhof conseguiu também ser lembrado nas principais categorias do German Film Awards, a principal premiação do cinema alemão, mas novamente saiu de mãos abanando. Extenso (são mais de 150 minutos), cansativo e bastante tradicional, é uma produção de importante valor histórico – mas pouco além disso. Possui uma curiosidade intrínseca, e talvez por isso deverá ser resgatado do esquecimento. Mas enquanto entretenimento ou arte cinematográfica carece de maior relevância. Para ser apreciado com respeito acadêmico e uma boa dose de distanciamento crítico.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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