Crítica

Um dos elogios que se faz ao cinema argentino é que os filmes tendem a se preocupar primeiro com os dramas pessoais para deixar as questões sociais em segundo plano. Essa teoria se aplica completamente no autobiográfico O Garoto.

Gonzalo (Maximiliano García) foi abandonado pela mãe (Belén Blanco) e mora com a bisavó e a irmã bebê. O menino nutre esperanças de que sua mãe volte, mas todos os vizinhos sabem que esse não é o caso.

Por causa de um problema em seu carro, Lorena (Sofía Gala, de Tetro, 2009) é obrigada a ficar no povoado e se aproxima de Gonzalo. É pelo ponto de vista dela que o espectador percebe as nuances do conflito do protagonista. Esse é o maior trunfo do roteiro: revelar as camadas narrativas aos poucos, sem subestimar a percepção da plateia.

Com essa tática, o envolvimento com o enredo é construído gradativamente, o que poderia eclodir em um desfecho apoteótico, lacrimoso e emotivo. No entanto, o diretor Sergio Mazza se segura, provavelmente por se tratar de sua própria história de vida na tela. Com isso, escapa do apelativo, mas também não chega até onde poderia chegar.

Apesar de não explorar todo seu potencial dramático, o filme funciona. Para isso, conta com o talento inato de Maximiliano, que não se amedronta diante a responsabilidade de conduzir a emoção de O Garoto. Ele desempenha sua função com precisão cirúrgica, encanta sem soar pedante ou prodigioso.

Todo comedimento do roteiro se desfaz nos últimos minutos do filme. Há uma sequência que clama pelo final, mas a produção insere cenas adicionais durante os créditos para dar conta de determinar o destino dos personagens coadjuvantes. O encanto pelo protagonista é tão forte que não há qualquer necessidade de mostrar esses conflitos menores.

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é formado em Audiovisual pela ECA/USP. Escreve para os sites BRCine e SaraivaConteúdo, além de colaborar para a revista Preview. Participa do programa Quadro a Quadro na TV Geração Z e de videoposts do canal Tateia. Tem experiência em sites (UOL Cinema, Cineclick e GQ), revistas (SET, Movie e Rolling Stone) e televisão (programas Revista da Cidade e Manhã Gazeta).
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