Crítica
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Sinopse
Primeiro humano nascido em solo marciano, Gardner deseja viajar à Terra para conhecer seu pai biológico.
Crítica
O título transmite a ideia, parcialmente errada, de que este filme é focado totalmente na distância entre dois apaixonados. A imprecisão decorre mais da falta de vigor inicial nessa esfera de O Espaço Entre Nós do que da eventual ausência dela. Até chegarmos ao relacionamento remoto que Gardner (Asa Butterfield) mantém com Tulsa (Britt Robertson), ele numa colônia em Marte, ela na Terra, há um preâmbulo de duração considerável, cuja função é contextualizar as ocorrências que dizem respeito à futura interação presencial dos jovens. Infelizmente, é com pouco enlevamento que a constante troca de mensagens virtuais acontece. O diretor Peter Chelson se demora bastante na introdução da história insólita do menino que veio ao mundo em circunstâncias inéditas. Para além da identidade, o local de nascimento impõe a ele uma dependência física, já que a gestação em gravidade zero acarretou mudanças biológicas, gerando restritiva incompatibilidade.
Acompanhamos o lançamento da missão interplanetária, as dificuldades que sobrevém à descoberta da gravidez da única mulher a bordo e as consequências imediatas do desfecho fatídico. Nathaniel (Gary Oldman), o idealizador da missão, entra em parafuso diante da necessidade de optar por divulgar a verdade, pondo em risco a continuidade do projeto pelo qual tanto batalhou e suou, ou esconder integralmente os fatos, com isso condenando Gardner ao anonimato. O Espaço Entre Nós considera diversas questões complexas, inclusive no que tange à ética científica, mas oferece respostas rápidas e simplistas a elas, reduzindo-as em demasia. A elipse que nos leva para 16 anos após o nascimento do garoto mantido incógnito é funcional apenas para enxugar a trama e criar buracos a serem preenchidos mecânica e banalmente mais adiante. Grandes entraves, como os que ameaçam a tão sonhada viagem do personagem de Asa Butterfield à Terra, então se resolvem facilmente.
O Espaço Entre Nós passa a ter outra pegada quando finalmente o jovem desembarca no planeta onde foi concebido. É a partir daí que Asa Butterfield trata de dignificar o percurso do protagonista, praticamente levando o filme nas costas, por conta de sua composição cativante de alguém que tem o olhar e os sentidos desvirginados gradativamente. O andar desengonçado, efeito colateral da diferença de gravidade, a ingenuidade nas interações com desconhecidos, o encantamento na companhia da menina com quem se identifica, tudo isso confere à produção passagens atraentes, ainda que circunscritas num conjunto marcado pela falta de profundidade. Gary Oldman é outro ator que sobressai. Em meio ao emaranhado de convenções e restrições vigentes, ele consegue mostrar sua contumaz competência. Portanto, é no campo das atuações, sobretudo nas desses dois profissionais de gerações distintas, que o longa-metragem atinge alguma personalidade, distanciando-se do puramente comum.
Sendo o percurso previsível, ainda que haja surpresas pontuais, nos resta aproveitar o carisma e a intensidade da paixão de Gardner e Tulsa, que predomina na segunda metade do enredo. A menção ao clássico Asas do Desejo (1987), de Wim Wenders, não é absolutamente trivial, ainda que tampouco determinante. Gardner, assim como o anjo no filme alemão, está disposto a sacrifícios para viver num mundo que não é o seu. Fosse incisivo na construção do vínculo entre o protagonista e a menina escaldada pelas sucessivas trocas de guarda, e Peter Chelsom poderia aproximar-se de Wenders sem queimar tanto as asas. A citação acaba soando como bem-vinda homenagem, mas de longínqua e frágil influência. Comédia romântica metida numa roupagem sci-fi, O Espaço Entre Nós ensaia adentrar na dimensão mais trágica do drama, mas se contenta com o banho descompromissado na água açucarada. Todavia, especialmente se comparado aos seus congêneres, não chega a decepcionar, até emocionando esporadicamente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 5 |
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