Crítica
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Sinopse
Um rei libertino, um que foi cativado por um animal e uma rainha obcecada pela ideia de ter filhos comandam três reinos vizinhos, povoados por fadas e criaturas mágicas.
Crítica
Livremente inspirado na célebre obra de Giambattista Basile, O Conto dos Contos prima pela exuberância visual, já que nele até mesmo as criaturas mais abjetas reforçam, por contraposição, a beleza circundante. O filme é composto de três histórias passadas em impérios próximos. No primeiro deles, o Rei de Longtrellis (John C. Reilly) não mede esforços para combater a frustração da Rainha (Salma Hayek) que vive abatida por não ter filhos. Guiado pelo conselho de um homem enigmático, o nobre mergulha atrás do coração de uma besta marinha para fazer dele a iguaria que propicia a maternidade à sua amada. Mais tarde, o príncipe albino e seu “gêmeo” carregam o fardo da tragédia que possibilitou seus nascimentos. Os efeitos especiais se incumbem da construção desse mundo fabular, em que o implausível se torna corriqueiro e a alternância entre vida e morte é responsável pelo equilíbrio das coisas.
No outro reino, igualmente repleto de seres fantásticos e ocorrências inusitadas, o Rei de Highhills (Toby Jones) se afeiçoa a uma pulga. Paralela a essa relação incomum, para dizer o mínimo, a procura da bela princesa Fenizia (Jessie Cave) por um marido. A necessidade de cumprir a palavra faz o rei entregar sua filha a um ogro, pretendente que vence o desafio cujo prêmio é justamente a mão da jovem. A similaridade entre esses dois segmentos está da tenacidade dos herdeiros diante da tirania e do egoísmo dos pais. Rebelados contra as ordens superiores, um faz de tudo para manter o vínculo que lhe é caro, enquanto a outra mostra atributos reais, conquistando por seus próprios méritos, num entorno essencialmente patriarcal e, portanto, masculino, o direito de liderar. O sangue traz à tona, em ambas as tramas, o comportamento violento de certos personagens.
A terceira fração de O Conto dos Contos mostra a obsessão do libertino Rei de Strongcliff (Vincent Cassel) por uma mulher de quem somente ouviu a bonita voz. O “problema” é que a dona do timbre encantador possui, assim como sua irmã, um corpo bastante debilitado pela passagem do tempo. A magia se encarrega de consertar as coisas quando tudo parece perdido, mas também se retira em dado momento, reestabelecendo a ordem natural após um ato desesperado de alguém muito próximo da nova rainha. Aqui, o amor e o desejo estão condicionados à aparência. Garrone atém-se pouco à intenção de provocar sentido por meio da ordem em que as histórias são dispostas. O maior efeito negativo dessa aleatoriedade é a dispersão. Ainda que as partes sejam bastante interessantes, há, também, um sensível desequilíbrio prejudicial ao todo, percebido, sobretudo, do meio para o fim.
O Conto dos Contos não é constituído de fábulas inocentes. Mesmo almejando invariavelmente a beleza, não se furta de expor o lado feio dessa terra habitada por aristocratas, plebeus, bufões, magos, monstros e toda sorte de criaturas que reagem umas às outras. Muito distinta temática e visualmente do longa mais conhecido de Garrone, o drama com tintas realistas Gomorra (2008), esta realização evidencia a versatilidade de um diretor que vem se afirmando a cada trabalho. Mesmo não destituído de falhas, pois vítima, principalmente, da organização nem sempre favorável à funcionalidade das transições e à expressividade da comunicação entre os segmentos, o que acarreta um ritmo ligeiramente truncado, é um filme cujo valor reside no conjunto, não apenas na estética suntuosa.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Chico Fireman | 6 |
Wallace Andrioli | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 5 |
Muito bom !