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Sinopse

Um professor universitário e sua esposa, prestes a ter um bebê, serão os responsáveis por um ato com consequências horrendas. Eles liberam, involuntariamente, uma entidade maligna com pretensões perigosas.

Crítica

Em O Chamado do Mal, Adam (Josh Stewart) e Lisa (Bojana Novakovic) formam um casal recém-chegado à cidadezinha onde ele lecionará na universidade. Dela, apenas sobressai o fato de estar prestes a se tonar mãe. Se tem uma carreira, se largou alguma coisa para seguir a proposta nababesca feita ao marido, não sabemos. O estofo é absolutamente negligenciado pelo roteirista e diretor Michael Winnick, que faz da principal personagem feminina ora completamente passiva, ora uma ameaça considerável à vida de todos ao redor. No que concerne à concepção da parte masculina dessa dupla fortemente assombrada pelo espírito obsessivo, há mais informações. Ele desempenha o papel do cético, aquele que apenas começa a acreditar no imponderável quando seu corpo é ameaçado por manifestações malignas. O sujeito dá aulas de matemática e tem conversas supostamente explicativas com o superior cego, Clark (Delroy Lindo), estudioso de fenômenos paranormais.

Portanto, o enredo de O Chamado do Mal é uma variação/compilação de entrechos típicos de filmes de horror. Todavia, o realizador busca tempera-lo com elementos pretensamente valiosos. A tentativa frustrada de, logo de início, apontar o gentil e descamisado David (Ben VanderMey) como um rival, já que Lisa se impressiona com o físico do aluno, tecendo comentários acerca disso, é um dos indícios da sucessão de equívocos. A vinda da cunhada, Becky (Melissa Bolona), tão maliciosa quanto atraente, também ensaia criar uma tensão sexual de potencial destrutivo, algo subaproveitado pela trama disposta a avançar em direção ao perigo, sem qualquer inclinação a criar um espaço solidamente ambíguo que substancie a atmosfera de tensão. Antes que todos entendam com o que estão lidando, amontoam-se jump scares telegrafados em meio à guinada que nos permite a aproximação da mulher. O especialista está ali meramente para pormenorizar as conjunturas.

Frequentemente apostando em cenas escuras, numa casa antiga povoada de versões macabras da filha perdida no aborto provocado, Michael Winnick não dá conta de instilar medo por meio das aparições, pois elas são banais, de escalada tortuosa rumo à tragédia. O elenco faz o que pode, mas há um desnível evidente entre a entrega de Bojana Novakovic, verdade seja dita, a figura que experimenta mudanças mais radicais, especialmente por ser o alvo predileto, e a burocrática concepção de Josh Stewart, intérprete limitado a vestir as carapuças dos arquétipos aos quais é filiado. Uma vez que a voluptuosidade de Melissa Bolona é mal utilizada pela direção, à atriz resta, igualmente, se encaixar no papel raso de beldade maldosa. Aliás, as personagens femininas de O Chamado do Mal são desprovidas de profundidade, permanecendo restritas a lastros bastante curtos de atuação. Nem a maquiagem salva o conjunto da queda inapelável no banal.

O cineasta é tão infeliz na urdidura desses componentes com bons potenciais que sequer a frequência das versões diversas do fantasma gera apreensão. O Chamado do Mal deixa sobremaneira clara a sua fragilidade conceitual quando se aproxima do fim, anticlimático em virtude do lançamento de perguntas e relativizações frágeis que causam mais confusão que desorientação. A maternidade é uma instância sublime e aterradora no filme, mas observada prioritariamente como fardo que, por conta da influência nefasta, pode provocar a danação de todos em volta. Nesse sentido, o homem, até então o único com algum contorno para além do superficial, é alçado concomitantemente às categorias de vítima e herói, por sua oportunidade de salvar o entorno ao resolver um dilema moral. Prova da falta de autocrítica direcionada a ele, a cena derradeira, em que uma atitude cruel e vingativa não ganha tempo suficiente para ser observada e/ou devidamente questionada.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Marcelo Müller
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Diego Benevides
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