Crítica
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Sinopse
Julia fica intrigada quando seu namorado começa a investigar uma história macabra envolvendo uma fita de vídeo amaldiçoada. Ao se sacrificar para salvara a vida dele, ela descobre um fato aterrador: há um filme dentro do filme.
Crítica
Em uma indústria acostumada a regurgitar a si própria de tempos em tempos, ter levado mais de uma década – exatos doze anos – para resgatarem Samara, uma das assombrações mais emblemáticas do cinema de terror do início deste século – chegou a ser premiada como “Melhor Vilão” no MTV Movie Awards – parece até um contrassenso. Isso não seria problema, no entanto, se este retorno viesse embalado por uma proposta minimamente inovadora, que aumentasse o espectro da trama original e expandisse seus horizontes. O Chamado 3, do espanhol F. Javier Gutiérrez (cuja única direção anterior foi a ficção científica Tres Días, 2008, exibida em uma mostra paralela do Festival de Berlim e indicada ao Goya), no entanto, naufraga em cada uma dessas pretensões, oferecendo apenas vislumbres de dois ou três possíveis bons filmes que, combinados, nunca conseguem se elevar a um patamar sequer digno de atenção e interesse.
Quem imaginou que após todo esse tempo encontraria Samara já mais adaptada aos novos tempos, enganou-se. O terceiro capítulo da saga começa exatamente do mesmo modo que os anteriores, com jovens prestes a serem condenados por terem assistido, há exatamente uma semana, a um bizarro vídeo em uma fita VHS. Quando nos deparamos com a realidade que muitos dos adolescentes de hoje – público primordial para esse tipo de produção – nunca teve contato, e, na maioria das vezes, desconhece por completo o que seria um videocassete, é de se estranhar a familiaridade destes personagens com tão ultrapassada tecnologia. Mas a menina cabeluda em busca de vingança não está nem aí, e se for preciso colocar um avião inteiro abaixo para cumprir sua ameaça, que assim seja.
Um dos poucos nomes conhecidos do elenco, Johnny Galecki (o Leonard da série The Big Bang Theory, 2006-2017), por acaso, encontra um destes aparelhos em uma feira de objetos usados, e decide levá-lo para casa. Ao tentar instalá-lo, descobre a fita em seu interior, e a assiste movido pela curiosidade. Pois bem, a maldição está lançada. Porém, ao contrário de O Chamado (2002), em que Naomi Watts levou seus exatos sete dias para descobrir a origem do mal e como vencê-lo, o professor interpretado por Galecki vai além, organizando uma verdadeira seita – ou seria um experimento biológico? – que busca comprovar a existência, ou não, da vida após a morte. Assim, cada um dos seus alunos passa a assistir ao vídeo, um salvando a pele do anterior e, no processo, torcendo para que o próximo faça o mesmo. O problema, claro, surge quando a corrente se rompe e Samara ressurge, agora vindo de uma televisão de LED e fazendo ligações para celulares. Nada mais lógico, uma vez que a cópia do seu legado está sendo providenciada por arquivos digitais e se espalhando com uma rapidez impressionante através de e-mails e programas de mensagens em redes sociais.
Este argumento, percebe-se, já deveria ser suficiente para garantir um filme ao menos competente. David Loucka (A Casa dos Sonhos, 2011), Jacob Estes (Detalhes, 2011) e o oscarizado Akiva Goldsman (Uma Mente Brilhante, 2001), obviamente, não ficaram satisfeitos, e resolveram inserir outras subtramas no roteiro. Com isso, uma história que teria tudo para ser direta e linear, acaba ganhando contornos mais movimentados e confusos. Isso porque um dos estudantes envolvidos no processo, Holt (Alex Roe, de A 5a Onda, 2016), acaba envolvendo a namorada, Julia (Matilda Lutz, do italiano Summertime, 2016). Juntos, os dois partem em uma investigação muito similar às vistas nos dois capítulos anteriores. Só que as descobertas deles os levam ao que teria acontecido com a mãe de Samara e a cidade onde ela teria sido concebida, envolvendo até mesmo um padre cego (Vincent D’Onofrio) dono de atitudes tão suspeitas quanto as de Brian Cox, o pai adotivo da garota no longa que deu início à trilogia.
Como se percebe, há mais de uma linha narrativa brigando para ganhar espaço no enredo de O Chamado 3, e nem Gutiérrez, muito menos o trio de roteiristas, parecem saber exatamente qual caminho seguir. Para piorar, toda a elaboração visual, o estudo de paleta de cores e a ambientação soturna do primeiro capítulo é mais uma vez deixada de lado, tendo sido substituída por uma trilha sonora inoportuna, constante e exagerada e efeitos de câmera e de composição digital que mais atrapalham qualquer tipo de concentração do que colaboram no sentido de provocaram algum tipo de reação assustada. Apesar do título fazer referência a uma das obras mais marcantes do gênero neste século, tudo o que se tem aqui é mais do mesmo, sem nada de novo que mereça ser destacado. E se até o batismo original já aponta para a multiplicidade de intenções – a melhor tradução para Rings, na verdade, seria Chamados – isso parece ser o bastante para indicar que, ao invés de tentarem retornar a uma posição única dentro deste cenário, o que se pretende aqui é seguir sendo apenas mais um, sem pertinência nem relevância.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Alex Gonçalves | 2 |
MÉDIA | 3 |
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