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Sinopse

Passados seis meses dos eventos que os aterrorizaram, Rachel Keller e seu filho Aidan tentam deixar para trás as lembranças macabras atreladas à Samara e sua fita de vídeo amaldiçoada. Porém o pesadelo resolve voltar.

Crítica

Talvez Hollywood não devesse brincar tão irresponsavelmente com os espíritos do mal. Senão, como explicar os estranhos acontecimentos relatados pela equipe técnica que teriam acontecido durante as filmagens de O Chamado 2? Um mesmo local foi inundado duas vezes (e, aparentemente, sem razão alguma), um enxame de abelhas atacou um caminhão da produção, indo embora logo em seguida, tão rápido quanto teria chegado, e um veado colidiu com um carro de um assistente que saía do estacionamento. Fatos esses misteriosos e estranhamente similares com alguns vistos no filme. O diretor Hideo Nakata chegou a encomendar uma cerimônia religiosa para “limpar” o local. Talvez tenha ajudado para a conclusão do trabalho seguir em paz, mas de nada colaborou com o resultado artístico, pois esta continuação do bem sucedido O Chamado (2002) não poderia ser mais equivocada.

Seis meses após os incidentes apresentados no primeiro filme, a jornalista Rachel (Naomi Watts) e seu filho pequeno (David Dorfman, que parece ter gostado do ambiente, tanto que na mesma época marcou presença também na refilmagem de O Massacre da Serra Elétrica, 2003) se mudam para o interior, numa tentativa de recomeçar uma vida nova. Quando um assassinato na cidade onde estão agora morando parece ter sido causado pela mesma fita VHS amaldiçoada, ela decide investigar o que está acontecendo. Samara, o espírito diabólico da menina afogada no fundo de um poço pela pais adotivos, está de volta e decidida a possuir o corpo do filho da protagonista, escolhendo-a como sua nova “mãe”. Para evitar que isso aconteça e salvar a criança, esta terá que, sozinha, descobrir segredos do passado da menina e acabar de vez (?) com a maldição que paira sobre ela.

O Chamado 2 enterra de vez com qualquer boa imagem que tenha ficado da série com o longa anterior. Se a produção dirigida por Gore Verbinski optava pela sutileza e privilegiava o clima constante de progressiva e angustiante tensão, esta continuação é exagerada e óbvia, acabando com qualquer possibilidade de sustos ou surpresas. O enredo praticamente inexiste, preferindo optar por uma sucessão de episódios desconectados entre si, todos com o único propósito de tentar chocar o espectador, sem nunca, no entanto, atingir este intento com real efeito. Watts, que entre um filme e outro foi indicada ao Oscar por 21 Gramas (2003), deve ter tido suas razões particulares para participar deste fiasco – talvez uma obrigação contratual? Pois se antes aparecia como total protagonista, aqui ela tem muito pouco a fazer em cena, e a decepção em vê-la só não é maior do que a sentida ao presenciar Sissy Spacek, atriz vencedora do Oscar por O Destino Mudou sua Vida (1980), numa participação ínfima de menos de 5 minutos, sem qualquer relevância à trama e que apenas serve para fazer referência a um dos seus personagens mais icônicos, a traumatizada Carrie, A Estranha (1976), de Stephen King.

Infelizmente, ao chamarem o diretor japonês Hideo Nakata, realizador de Ring: O Chamado (1998) e Ringu 2 (1999), as versões originais feitas no Japão e que serviram de inspiração para as hollywoodianas, ao invés de revigorarem o tema acabaram derrapando no ridículo. Este O Chamado 2 está mais próximo de O Grito (2004), outro genérico descartável igualmente baseado num terror oriental, do que do primeiro O Chamado. É um filme cuja trama em nada acrescenta à mitologia iniciada anteriormente, cujo argumento sem sentido apenas despreza a premissa inicial (a fita de vídeo é esquecida logo no começo) e, ao invés de investir no suspense, desliza para o arenoso caminho do melodrama psicológico. Longo, mal fotografado e sem momentos particularmente marcantes, o filme acaba por provocar mais bocejos do que emoções. O que, para uma produção do gênero, é o mesmo que uma sentença de morte.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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