Crítica


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Sinopse

Joana, uma vendedora de ervas, tem um peculiar bicho de estimação. O bode é pivô de uma tensão entre ela e seu vizinho de barraco na feira.

Crítica

Quais são os símbolos que representam o bem e o mal? Quem os define como maléficos ou abençoados? Aqui, a figura retratada é o bode de estimação de uma jovem feirante que trabalha com ervas medicinais e curas oriundas de religiões afro-brasileiras. Seu vizinho comercial é um antiquado homem que abomina o animal e o correlaciona com entidades demoníacas – preconceito popular no norte do Brasil. Sob direção consistente, pois não arrasta ou explica em demasiado, O Balido Interno nos faz questionar o real perigo daquilo que cremos.

Das roupas aos olhares, tudo possui significado. Nesse jogo de representações folclóricas, o homem que vende artigos cristãos não suporta a existência da moça que negocia “obras do encardido”. A figura do peculiar mascote apenas reforça sua fúria. No primeiro embate, ambos estabelecem essas diferenças, antevendo dificuldades futuras que irão pautar esse relacionamento. Infelizmente, por força de intolerâncias enraizadas nos meios nos quais a dupla se encontra, uma compatibilidade parece existir apenas no terreno da fantasia.

De forma progressiva, as tensões vão sendo criadas e o mergulho do espectador se faz presente diante dos fatos. Seria possível um bode atrair mau agouro? Essa inquietação é representada com trocas de olhares entre o homem e o animal. Apesar do bicho jamais produzir alguma perturbação, ele significa o perigo eminente para aqueles que quiserem crer no maléfico – e esse é o grande trunfo do diretor Eder Deó na composição de suas reflexões antes de lançá-las ao público.

Atitudes devem ser tomadas, tanto para quem ataca, quanto para quem defende. A energia emanada pela atriz Glissia Paixão confirma seu espaço e não hesita em protegê-lo. Já a impetuosidade de Luciano Torres, personificando o caçador de bruxas moderno, reforça os antagonismos.

Enfim, alguém tinha de ser eliminado. No fim das contas, de forma artística e dúbia, O Balido Interno nos deixa um questionamento: quem é o bode? Qual é a figura capaz de se mostrar diabólica e que realmente tem poder para arrasar o que lhe é estranho? O bicho que não manifesta resistência? Ou o humano que aposta na intolerância? Na busca por exorcizar seus demônios internos, ambos acabam se perdendo. E assim, homem e animal se confundem.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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