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Sinopse

Quatro garotos são investidos de poderes telepáticos após salvarem um portador de Síndrome de Down de vândalos. Anos mais tarde, presos por uma nevasca num acampamento, eles descobrem uma conspiração alienígena.

Crítica

É impressionante como, às vezes, todos os ingredientes certos podem gerar um resultado tão errado! Esse, afinal, é o caso de O Apanhador de Sonhos: baseado numa história original de Stephen King, o mestre do horror norte-americano atual, o filme tem na direção um competente profissional de Hollywood, o cineasta Lawrence Kasdan (que soma quatro indicações ao Oscar), e consegue o feito de reunir no seu elenco nomes que despontavam de forma promissora (Thomas Jane, Timothy Olyphant) com talentos consagrados (Morgan Freeman), envolvidos numa trama de suspense alienígena, temática em alta na época depois do impressionante sucesso de Sinais (2002). E o que conseguem? Ao invés de um novo clássico, como outros já surgidos dos escritos de King, como Um Sonho de Liberdade (1994) ou O Iluminado (1980), decepcionam qualquer expectativa com um conjunto equivocado e confuso.

Quatro amigos, ainda crianças, salvam um quinto de levar uma surra de alguns valentões. Jonesy (Damien Lewis), Henry (Jane), Beaver (Jason Lee) e Pete (Olyphant) cresceram juntos, e deste incidente da infância lhes restou a lembrança de um amigo cada vez mais doente, Duddits (Donnie Wahlberg, mais conhecido por ser irmão de Mark Wahlberg e ex-integrante da banda New Kids On The Block) e incríveis poderes (um adivinha o futuro, o outro descobre coisas, etc.) que lhes foram conferidos a partir daquele dia. Como isso lhes aconteceu e como lidam com essa condição segue sendo um mistério.

O Apanhador de Sonhos tem lugar no dia em que eles, já adultos, resolvem se reunir para passar um fim de semana na casa das montanhas de um deles, uma tradição que repetem ano após ano. A diferença, dessa vez, é que situações estranhas passam a acontecer inesperadamente: fortes nevascas, animais fugindo da floresta, pessoas perdidas com “problemas estomacais”. Logo, o centro da ação muda para um acampamento militar, onde o Coronel Curtis (Freeman) e seu principal imediato, Capitão Underhill (Tom Sizemore), estão, em nome do governo dos Estados Unidos, lidando com um problema que, na verdade, é o cerne da questão em que os amigos encontram-se envolvidos: uma ameaça extraterrestre em larga escala, algo que há anos vem sendo planejado e mantido em segredo pelas autoridades e que talvez só possa ser solucionado graças à intervenção dos protagonistas – sem esquecer do quinto componente, Duddits.

A salada de referências identificáveis em O Apanhador de Sonhos é impressionante, que vão de Conta Comigo (1986) – outro texto de Stephen King, que também parte do pressuposto da relação de quatro amigos – a qualquer outro título sobre ataques alienígenas (e estes são muitos, como se sabe). A cada momento um outro filme, uma outra ideia, uma nova citação se conecta com algo já visto e vivido: a sensação de repetição está presente por todo o filme. Nada é novo ou minimamente original, portanto. E ao se aproximar da conclusão, a decepção em quem assiste só tende a crescer, até a confirmação de um desastre total. Uma das provas disso foi o seu pífio desempenho nas bilheterias norte-americanas, onde arrecadou um pouco mais de US$ 30 milhões – mesmo tendo custado mais do que o dobro desse valor!

Há alguns méritos, entretanto, que merecem ser ressaltados, tais como a direção de Kasdan. Se o material de origem parece ser de qualidade duvidosa, ao menos teve ele competência suficiente para dar uma roupagem curiosa ao pacote. Durante as mais de duas horas de projeção inúmeras reviravoltas acontecem, conseguindo prender a atenção do espectador. A intrincada rede de relações que vão sendo feitas com o decorrer dos acontecimentos funciona até determinado ponto, minimizando seus defeitos. Assim como o início do filme e as sequências dedicadas ao relacionamento dos amigos de infância. Se houvesse a opção de se concentrar apenas nas reações desses, sem grandiloquências militares, o resultado poderia ter sido de bem mais fácil identificação. Mas essas subtramas, desnecessárias no contexto geral, apenas perturbam, sem angariar valor ao desenvolvimento. E assim, aquele que se anuncia como O Apanhador de Sonhos, na verdade, resulta num verdadeiro “colecionador de tolos”.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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