Crítica
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Sinopse
Antoine Doinel começa a se lembrar das pessoas que marcaram sua vida. Recém-divorciado, ele se apaixona por uma jovem ao encontrar a sua foto.
Crítica
Ao se despedir do filho, que está no trem rumo a um acampamento de férias, Antoine Doinel dá uma última recomendação: “Não se esqueça de seguir praticando seu violino para se tornar um grande músico”. Ao que o menino responde: “Mas o que acontecerá se eu não conseguir?”. Para, por fim, ouvir de retorno: “Bom, você acabará sendo um crítico musical!”. Esse pequeno diálogo, que passa quase que desapercebido pela ação de O Amor em Fuga, resume bem esse que é o quinto momento das aventuras do personagem criado – e cuidado – com tanto zelo por François Truffaut. Mais do que um alter ego, o que temos aqui é o alcance da maturidade do cineasta, que usou o protagonista o tempo suficiente para se sentir seguro com o seu cinema, e após muito treino agora está pronto para deixá-lo partir.
Vivido novamente por Jean-Pierre Léaud, seu intérprete desde Os Incompreendidos (1959), Antoine Doinel é uma incógnita repleta de contradições. Abandonado pelos pais, passou anos atrás de alguém que lhe desse carinho e atenção. Porém, uma vez conseguido o afeto almejado, se mostrava irremediavelmente avesso à situação e pronto para seguir adiante com sua peregrinação. O começo de O Amor em Fuga é simbólico por ilustrar com precisão esta verdade: Doinel está escapando sorrateiramente da cama onde uma bela jovem ainda dorme. Ao acordar, ela o vê se vestindo, que ao percebê-la atenta passa a dar justificativas para seu comportamento, afirmando ter sido aquele o último encontro dos dois. Em nenhum momento, no entanto, ela parece acreditar nele, levando o diálogo mais como uma leve brincadeira entre dois amantes. Ao se despedirem, combinam de se verem novamente no final do dia.
Obviamente as coisas não se desenrolarão de maneira tão fácil. E o que acontece? A vida, simplesmente. Como visto no anterior Domicílio Conjugal (1970), Doinel está se separando, porém de forma amigável – ele e Christine (Claude Jade) formam o primeiro casal – ou seria ex-casal – a ilustrar tal possibilidade em toda a França. E entre assinar os papeis do divórcio e lidar com os anseios da nova namorada, Sabine (Dorothée), ele ainda reencontra Colette (vista pela primeira vez no curta Antoine e Colette, integrante do projeto coletivo O Amor aos 20 Anos, 1962), seu primeiro amor. O ‘Clube das Ex-Namoradas de Doinel’ – como uma delas chega a afirmar durante a história – não é formado por mulheres raivosas, amarguradas, perdidas. Pelo contrário, ele deixa com elas o seu melhor, algo que é reconhecido com carinho e pesar. Tanto que insistem em compensá-lo de uma forma ou outra, principalmente perdoando suas falhas mais evidentes.
O Amor em Fuga talvez tenha sido o filme mais fácil – ao menos em termos de logística – de toda a carreira de Truffaut. Isso porque mais da metade da sua trama é composta por flashbacks, trechos das aventuras anteriores – além dos longas citados, há ainda Beijos Proibidos (1968) – e tal decisão é fundamental para fazer desse o mais emocionante de todos os episódios vividos pelo protagonista desde sua aparição original. Ou seja, o gênio do realizador está justamente em sua simplicidade. A liberdade com que o cineasta toma as ruas de Paris para ilustrar as passagens de sua história é plena, tal qual a defendida pelos personagens em cena. O resultado é uma obra emocionante, que encerra com emoção e respeito um belo arco dramático, tão dolorido quanto crescer, e da mesma forma necessário por se impor no momento certo de dizer adeus.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 6 |
Chico Fireman | 5 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6.3 |
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