Crítica


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3 votos 8.6

Onde Assistir

Sinopse

Malandro e aproveitador, Anselmo morre e acaba preso no limbo. Para garantir seu lugar no céu, precisa praticar uma boa ação e bancar o cupido. Para isso, recebe a missão de unir um homem e uma mulher com personalidades muito divergentes.

Crítica

O melhor de O Amor dá Trabalho é a abertura animada. Depois dela, ladeira abaixo. O protagonista é Anselmo (Leandro Hassum), funcionário público cuja rotina se baseia em engambelar e empurrar problemas com a barriga. O diretor Ale McHaddo orquestra essa apresentação com base na exploração de caricaturas e lugares-comuns. Até aí tudo bem, não fosse a inabilidade para lidar com tais elementos a fim de gerar alguma graça. Um acidente interrompe a vida do homem fanfarrão que, então, se vê diante de uma medonha entidade alfandegária, entre o céu e o inferno, que o sentencia ao departamento burocrático dos pedidos oriundos dos vivos. Se atingir 500 pontos, pode descansar eternamente no céu. Caso não cumpra a meta, arderá no fogo incessante do inferno. Desde o começo fica evidente que a missão assumida é apenas desculpa para uma jornada óbvia de redenção, com aprendizados sendo construídos de forma simplória. Mas nem isso funciona.

Logo se esgota o potencial das trapalhadas de Anselmo como o cupido que deve reaproximar Elizangela (Flávia Alessandra) e Paulo Sérgio (Bruno Garcia). Até que a encenação com os mortais sem enxergar o desencarnado não deixa a desejar, mas as demais dinâmicas são tão desprovidas de vitalidade quanto de importância. A previsibilidade poderia ser mais bem maquiada, não desenhada escancaradamente como na atenção aos procedimentos interditados ao espírito. Fica claro que o personagem de Hassum violará todas as regras, ainda que seu intuito seja nobre. Ah, é claro que o filme não perde a oportunidade de brincar com vários chavões relacionados ao céu e ao inferno, inclusive o de que o lar do capiroto está cheio de boas intenções. A esfera romântica, observada como essencial ao cumprimento da tarefa e, por conseguinte, ao sucesso do enviado do além, é destituída de consistência ao ponto de incomodar. Encontros, discordâncias, tudo isso soa bem falso.

Flávia Alessandra e Bruno Garcia não sustentam a genuinidade do relacionamento pregresso que interliga seus personagens. Aliás, ambos não sobrepujam a representação anódina e sem tempero. Ele se contenta em oferecer o registro contumaz, não dotando Paulo Sérgio de singularidades consideráveis. Ela tampouco logra êxito na tentativa de elevar Elizangela para além de um arquétipo superficial de vegetariana com preocupações ecológicas. No meio dessa conjuntura amorosa engessada pelos interesses de Fernanda (Monique Afradique) e Dan Dan (Felipe Torres), Leandro Hassum parece completamente indócil, incontrolável com suas caras, bocas e trejeitos burlescos utilizados ao ponto de despersonalizar Anselmo e fazer dele um mero decalque aglutinador de outros personagens construídos pelo ator. Nem mesmo a mensagem edificante surgida como forma revirar a trama é apresentada como algo relevante. Esquetes se sucedem sem dar liga ou criar unidade.

O Amor dá Trabalho se assemelha a programas humorísticos ou aos veiculados na internet, como Porta dos Fundos. Essa sensação é gritante nas cenas das reuniões dos deuses, com Hélio de la Peña empilhando piadas fracas ao interpretar Shiva, Falcão sobressaindo em meio a tantos equívocos como uma versão divertida de Odin, a cantora Ludmilla curtindo uma figuração como Iansã e Sérgio Loroza fazendo o que pode na pele de Xangô. Leandro Hassum, ator de diversos predicados, sobretudo cômicos, parece demasiadamente histriônico por conta da direção que não canaliza a contento seu talento. Jerry Lewis é homenageado em duas ocasiões, quando o protagonista imita a sua indefectível cena da máquina de escrever de Errando para Cachorro (1963) e na inserção comercial que mostra a lenda em Até que a Sorte nos Separe 2 (2013). Uma pena que o tributo não acarrete inspiração nesse todo repleto de chavões, pessoas/situações descartáveis/artificiais e noções surradas de humor se sucedendo. Quando os erros de gravação são melhores do que o filme...

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
3
Roberto Cunha
4
MÉDIA
3.5

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