Crítica
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Sinopse
Sete amigos estão conversando amigavelmente, como conhecidos de anos fazem naturalmente. Até que o jogo é proposto por um deles. Há uma tensão no ar, como se isso não fosse permitido, mas todos acabam aceitando. O que acontece em seguida é uma comédia de erros, onde toda a imagem que cada um deles cultivava de si mesmo frente aos outros vai sendo desconstruída, à medida que segredos e mentiras vêm à tona na mesa de jantar.
Crítica
A ideia não é original. Aliás, já está mais do que desgastada. Afinal, em um espaço mínimo de apenas dois anos, o longa italiano Perfetti Sconosciuti (2016) ganhou não um, nem dois, mas cinco refilmagens! Uma na Grécia (Teleioi Xenoi, 2016), uma na Espanha (Perfectos Desconocidos, 2017), uma na Turquia (Cebimdeki Yabanci, 2018), uma na Coréia do Sul (Wanbyeokhan Tain, 2018) e esta, Nada a Esconder, feita na França. É de se espantar, no mínimo, que Hollywood ainda não tenha descoberto esta ‘fonte’. E se duas destas versões estão disponíveis no Brasil, através do catálogo da Netflix – esta francesa e também a espanhola – o que se percebe é que, além da língua e de uma ou outra referência, os filmes são, basicamente, iguais. Ou seja, para quem está chegando agora, a proposta pode até parecer curiosa, mas para qualquer um com um pouco mais de experiência em relação à trama perceberá de imediato que se trata, em resumo, basicamente mais do mesmo. E com gosto requentado.
E olha que o título francês faz uma aposta alta naquilo que pode oferecer de melhor: o elenco. Os nomes mais conhecidos são os de Bérénice Bejo (indicada ao Oscar por O Artista, 2011) e o do ator e diretor Roschdy Zem, já premiado em Cannes. Ela é Marie, uma psicóloga, casada com Vincent (Stéphane De Groodt, de A Viagem de Fanny, 2016), um cirurgião plástico. Os dois convidam três casais para um jantar. Os primeiros a chegar são Marco (Zem) e Charlotte (Suzanne Clément, de Mommy, 2014). Logo em seguida aparecem Thomas (Vincent Elbaz, de A 100 Passos de um Sonho, 2014) e Léa (Dória Tillier, de Monsieur e Madame Adelman, 2017). Os seis estão curiosos pela chegada de Ben (Grégory Gadebois, de O Formidável, 2017), que deverá apresentar, pela primeira vez, a nova namorada. A decepção quando ele aparece sozinho (“ela estava com dor de barriga”, se desculpa) só não é maior do que a própria refeição, repleta de invencionices culinárias do dono da casa, riscos que os demais só aceitam pois, afinal, estão entre amigos.
Esse fino tecido, no entanto, está prestes a partir. E o movimento se volta nessa direção quando a anfitriã propõe um ‘jogo’: que todos coloquem seus celulares no centro da mesa, desbloqueados, e a partir de então as ligações, mensagens e notificações que os aparelhos receberem durante as próximas horas deverão ser ouvidas, lidas e compartilhadas por todos. Afinal, eles possuem, ou não, algo a esconder dos demais? Se são todos tão sinceros uns com os outros, não deveriam, ao menos em tese, ter com o que se preocuparem. E ainda que alguns relutem, lentamente acabam cedendo, e a brincadeira começa. Uma dinâmica arriscada, da qual não tardará para que um – ou todos – saiam feridos. A grande questão, no entanto, não é como – e nem quando – estes prejuízos começarão a se manifestar, mas, sim, qual será a repercussão – e a duração destas consequências.
Como não será nenhuma surpresa, a grande maioria das revelações que passam a acontecer a partir da anuência do grupo envolverá, de uma forma ou de outra, questões sexuais. Há os que traem e são traídos, aqueles com amantes no trabalho e também entre eles mesmos. Há o que vai ser pai e não sabia, e o que é gay e nunca havia assumido. E ainda que tais descobertas pareçam ser curiosas – afinal, pimenta nos olhos dos outros é refresco, já diz o ditado – e até mesmo divertidas logo de início, a mesmice da situação inevitavelmente acaba cansando. É justamente por isso que a única situação que ligeiramente foge desse quadro pré-estabelecido – uma filha já adolescente, envolvendo questões de confiança com o pai e com a mãe – oferece, mesmo que por poucos instantes, uma profundidade que, lamentavelmente, não chega a ser perseguida. É uma porta que se abre, através da qual vislumbra-se novas possibilidades, mas que logo é deixada de lado.
Agora, o grande tropeço desse Nada a Esconder está na falta de tato do diretor e roteirista Fred Cavayé (Tudo por Ela, 2008, refilmado nos Estados Unidos como 72 Horas, 2010) em sustentar os desdobramentos das situações expostas. E isso se verifica desde o começo, quando se anuncia que naquela noite específica ocorrerá um eclipse lunar bastante raro a ponto de interferir no comportamento das pessoas. O tom místico, portanto, adquire feições quase sobrenaturais, levando a audiência a se questionar se o que acontece em cena está, de fato, se sucedendo, ou não. E, em caso negativo, qual a reflexão possível a partir desse enfraquecimento de não levar adiante tais desfechos? Moralista e até mesmo preguiçoso, o que se vê é o desperdício de uma boa ideia, exaurida até às últimas instâncias, tudo em nome de um frescor há muito já perdido. Melhor mesmo, como geralmente acontece em casos assim, é ficar com o original. E olhe lá.
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NA Critica hein irmão, ta precisando demais reassistir a obra e olhar pela perspectiva de relacionamentos que são empurrados com a barriga, pela perspectiva de que Psicologia é uma profissional comum a qualquer ser humano, de que as chamadas DR's são mais que fundamentais para a saude de um relacionamento. Enfim, varios pontos que tornam o roteiro do filme maravilhoso e péssimo aos olhos de quem se acha. Vai estudar mais que essa formação em cinema, tá meio cansada. Valeu!