Crítica

Alguns assuntos são bons demais para a tela de cinema. Os mais ingênuos até poderiam acreditar nessa afirmação, e ainda apontar com facilidade a música eletrônica como um destes temas. Afinal, existem coisas muito melhores de se viver, ou seja, de estar no centro da ação, do que ao lado, apenas assistindo como espectador. Raves, festas intermináveis e drogas ~ mais ou menos ~ recreativas parecem muito mais interessantes quando experimentadas do que apenas presenciadas à distância. E assim como ocorreu com o nacional Paraísos Artificiais (2012), que também abordava esse ambiente e teve uma recepção um tanto fria tanto do público quanto da crítica, o mesmo ocorre com Música, Amigos e Festa, longa de estreia na ficção do videomaker e documentarista Max Joseph.

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Música, Amigos e Festa fez história em seu lançamento nos cinemas norte-americanos, e não por um motivo pelo qual possa se orgulhar: sua estreia foi a terceira pior de todos os tempos para um título de grande distribuição – exibido simultaneamente em mais de 3 mil salas por todo o país – tendo tido que se contentar com uma média de público de pouco mais de 700 espectadores por cópia. O longa, que não teve custo declarado, acabou encerrando sua passagem pelas telas com pouco mais de US$ 3,5 milhões arrecadados – o que não deve ter dado para pagar nem mesmo o cachê do protagonista, Zac Efron. Para termos de comparação, o filme anterior do astro, a comédia Vizinhos (2014), somou mais de US$ 268 milhões (US$ 150 milhões apenas nos EUA) nas bilheterias. Ou seja, a queda foi grande. Mas havia motivo para tanto?

É curioso perceber durante o desenvolvimento de Música, Amigos e Festa que tamanha tragédia foi, de fato, um tanto exagerada. O filme está longe de ser memorável, mas possui um ritmo interessante, algumas sacadas bem pensadas – o grafismo que toma conta da tela, principalmente na primeira metade da história, é muito bem aproveitado – e um elenco disposto a defender seus personagens. Zac é Cole, um rapaz que vive no quarto dos fundos do amigo Mason (Jonny Weston, de Projeto Almanaque, 2014). Os dois, ao lado de Ollie (Shiloh Fernandez, de A Morte do Demônio, 2013), um ator que ainda não encontrou sua grande chance, e Squirrel (Alex Shaffer, de Ganhar ou Ganhar, 2011), o mais jovem da turma, passam seus dias nos subúrbios de Los Angeles, longe da badalação e do brilho de Hollywood, levando vidas sem maiores perspectivas nem ambições. Tudo parece mudar quando, durante uma balada noturna, Cole encontra James (Wes Bentley), um DJ consagrado, porém já sem tanta criatividade. Esse o ‘adota’ como pupilo, e o novato parece ter encontrado um caminho a seguir. Ao menos até se deixar levar pelos encantos da namorada do novo mestre, Sophie (Emily Ratajkowski, de Garota Exemplar, 2014).

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O que irá acontecer na metade final do roteiro é bastante previsível. Romances começarão – para terminar logo em seguida e deixar todo mundo magoado. Uma tragédia irá se impor para testar a amizade dos amigos, e enquanto uns decidirão investir em carreiras mais tradicionais e seguras – corretor de imóveis, quem? – outros seguirão rebeldes sem causa, indecisos entre ser a estrela das ruas ou o bom filho dentro de casa. Zac Efron está bem mais contido do que de costume, sem tantos arroubos carismáticos, compondo uma melancolia que pouco tem a ver com o perfil de um profissional cuja missão é tornar as noites irresistíveis. Mesmo assim, convence como esse jovem em busca de si mesmo, de um amor que acredite e de uma paixão além do mero retorno financeiro. E com sequências realmente eletrizantes – a performance final na festa ao ar livre é de arrepiar – e uma ou outra boa ideia, Joseph faz um filme que não revoluciona, mas dá uma boa ideia deste universo tão atraente e, ao mesmo tempo, destrutivo. É quase tão bom quanto uma festa perfeita. E a palavra chave aqui é o ‘quase’.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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