Sinopse
Moana 2 mostra o que acontece após a protagonista receber um chamado inesperado de seus ancestrais. Decidida a aceitar a missão que lhe foi dada, Moana deve navegar para mares perigosos e distantes da Oceania em uma aventura diferente de tudo que já enfrentou. Para tanto, contará com a ajuda de Maui (Dwayne Johnson) e uma tripulação de marinheiros improváveis.
Crítica
Seria fácil analisar essa mais recente investida dos Estúdios Disney no universo dos desenhos animados levando em conta apenas o que está na tela, exposto durante os seus quase 100 minutos, como se fosse essa uma obra isolada e desprovida de influências, tanto prévias, quanto certamente posteriores. Não apenas levando em conta o numeral do título – ou seja, trata-se de uma sequência, e será quase impossível não esperar por novos desdobramentos no futuro – como também por tudo que este discurso representa, tanto dentro do contexto no qual está inserido, quanto pela suposta contemporaneidade de sua narrativa e dos personagens que a conduzem. Ou seja, Moana 2 pode ser visto, claro, como um reflexo do sucesso do primeiro filme (Moana: Um Mar de Aventuras, de 2016, foi indicado a 2 Oscar e faturou mais de US$ 600 milhões nas bilheterias de todo o mundo), mas guarda em si mais do que uma mera relação de causa e efeito. Eis, portanto, um longa visto no cinema, mas pensado dentro de uma lógica de algoritmo digno das plataformas de streaming. É para esse público, portanto, que o todo se dirige. E ao mesmo tempo em que se aproxima de um espectador que será agraciado com aquilo que já espera, gerando uma sensação imediata – porém pouco duradoura – de satisfação, também se afasta do exercício cinematográfico, abrindo mão da criatividade, inspiração e qualquer toque minimamente original.
Talvez o mais simpático a ser dito sobre o resultado dos esforços conjuntos dos novatos David G. Derrick Jr., Jason Hadd e Dana Ledoux Miller seja que se trata de um longa episódico, tal qual uma minissérie feita para a telinha, daquelas que tanto pode ser vista ao longo de uma semana, como também maratonada de uma só vez. Para começar, o roteiro (escrito por Miller, em parceria com Jared Bush, o único dos até então citados nesse texto que esteve envolvido com o longa anterior) é praticamente uma reciclagem daquele visto há quase uma década, quando a menina da Polinésia, filha do chefe de sua aldeia, decide se aventurar pelos mares pela primeira vez. A diferença é que agora ela já é uma navegadora, mas isso não a impede de, mais uma vez, ter que contar com a ajuda do semideus Maui para, juntos, novamente se colocarem em confronto com um deus mitológico que, sabe-se lá por quais razões, se opôs contra os humanos. Se antes se tratava de um monstro de lava, agora é a vez de um ser que se esconde por trás de uma severa tempestade, mantendo em segredo uma ilha que, se recuperada, permitirá a integração de todos os povos do mar. Parece uma tarefa difícil, mas há algo impossível para Moana?
Em certo momento, Maui se vira para a amiga e diz: “vai lá, princesa”, como palavras de encorajamento. No entanto, ouve como retorno de forma resoluta: “eu não sou uma princesa”. Ele não se dá por vencido, e insiste: “é, mas tem muita gente por aí que pensa que você é, sim”. Vamos lá. Tecnicamente, ela não desfruta desse título apenas porque seu pai não é rei. Mas sua condição é a mesma. A interpretação, porém, pode ser outra. Afinal, até então “princesa” poderia ser a donzela presa no alto de uma torre que fica placidamente sentada à espera de um príncipe que venha salvá-la. Moana não precisa nem de uma coisa, nem de outra. Mas esse é um filme Disney, e como tal, ocupa um espaço de prestígio em uma longa linhagem de figuras que há décadas vem povoando os sonhos de meninas de todas as idades, desde Branca de Neve e os Sete Anões (1937)!
Em WiFi Ralph: Quebrando a Internet (2018), quando a pequena Vanellope invade um “encontro de princesas da Disney”, Moana é vista entre elas. Ou seja, não há como negar. Mas é certo, também, que seria ela uma princesa moderna, antenada com o seu tempo e não disposta a ficar acomodada. Por qual motivo, então, se colocam ao seu lado tantos coadjuvantes, todos lutando pelo mesmo tempo de tela, quando, no final das contas, caberá a ela resolver tudo praticamente sozinha. É aqui que um olhar mais apurado poderá depreender outras possibilidades. Maui está novamente presente, mas ele precisa mais de Moana do que ela dele, e sua função será mais de distração do que efetiva (até para tirar a ilha do fundo do mar, ele terá que esperar até que ela toque a terra mágica primeiro). Os demais reunidos – Moni, um guerreiro da mesma tribo, Loto, uma inventiva engenheira náutica, e Kele, o idoso agricultor – sem esquecer do porco e de HeiHei, o frango (Bacon e Ovos, como Maui apelidou os dois), ou mesmo do guerreiro minicoco, ou até a feiticeira Matangi, sobre quem pouco se sabe (e menos ainda ficará revelado ao término desta história), são não mais do que presenças divertidas pontualmente, mas que pouco agregam ao todo.
Desperta curiosidade perceber como Moana se sente mais à vontade ao lado de Loto, principalmente quando as duas discutem a respeito das saídas criativas para cada problema que lhes surge, ao mesmo tempo em que Moni só demonstra excitação quando diante de Maui, praticamente ignorando a presença das duas garotas que estão ao seu lado do início ao fim dessa jornada. Longe de firmarem como crianças – talvez nem mesmo adolescentes, e, sim, vistos dessa vez como jovens adultos – chama atenção vê-los tão desprovidos de interesses românticos (sem nem mencionar a questão sexual, uma vez que o enredo faz questão de se manter voltado a um público mais novo do que seus personagens). Ou esses, se manifestados por meio de outros recursos, o fazem sob o formato de novas e mais diversas conjecturas. Eis um ponto positivo em Moana 2. Pena que não há muito mais do que isso. De resto, tem-se algo que até envolve enquanto dura, mas do qual pouco persiste após seus instantes finais. Não por acaso, há uma cena pós-créditos já anunciando um terceiro episódio. Alguém ainda tinha dúvida?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Ticiano Osorio | 5 |
Francisco Carbone | 5 |
Chico Fireman | 4 |
Lucas Salgado | 6 |
MÉDIA | 5 |
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