Crítica


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Sinopse

Três irmãos, entre eles Theo, um menino surdo, viajam para a casa do avô que eles nunca tinham conhecido. Rapidamente há um choque de gerações.

Crítica

Divórcios são motivo mais que suficiente de consternação para os filhos de um casal. O chão some debaixo dos pés, aquela segurança de chegar em casa e ver seus pais juntos simplesmente desaparece. É um momento difícil. Ficar com a mãe ou ficar com o pai? Dependendo da idade dos filhos, nem é uma escolha possível. A justiça decide. Ou os próprios pais. No caso do trio de irmãos de Meu Verão na Provença, este problema foi adiado e substituído por outro. São levados, sem escolha alguma, para passar as férias com os avós, no sul da França. Se já não bastassem os problemas em casa, agora eles terão de se adaptar a um avô ranzinza, com quem nunca tiveram contato, em uma região isolada e nada urbana. O choque de gerações criará faíscas, mas também grandes mudanças.

O roteiro de Meu Verão na Provença foi escrito pela própria diretora Rose Bosch – que já havia trabalhado com Jean Reno em Amor e Ódio (2010). Ele é quem vive o avô Paul, um sujeito de maneiras rudes, que adora beber com os amigos, talvez para esquecer dos problemas do passado. Existem dores que o tempo ainda não conseguiu apagar. Quando jovem, Paul e sua mulher, Irène (Anna Galiena), costumavam viajar, ampliar seus horizontes junto de seus amigos hippies. Mas algo aconteceu naquela época, que acabou fechando Paul. Embrutecido pelo tempo, acabou perdendo contato com a filha após uma briga. Lá se vão 17 anos sem vê-la. O contato com os netos poderia ser o início de uma reaproximação? Paul nem cogita algo deste tipo de início.

Irène é quem leva seus netos para Provença. Adrien (Hugo Dessioux) e Léa (Chloé Jouannet) são adolescentes. Esperavam passar seu verão em Paris, curtindo seus amigos e paqueras. Ao chegarem na fazenda do avô, são recepcionados com o jeito rude daquele homem, não acreditando na falta de sorte de terem de passar tanto tempo ali. O caçula da família, Théo (Lukas Pelissier), é quem mais parece estar aberto àquela experiência. Surdo, se comunicando por libras e lendo os lábios dos familiares, é ele quem abre os caminhos no coração do avô, gostando de ajuda-lo nas lidas do campo.

Rose Bosch coloca estas peças no tabuleiro e está interessada em nos mostrar como elas se movem naquelas situações. Ainda que não exista nada de novo em Meu Verão na Provença, acompanhar a história daqueles personagens não deixa de ser um programa prazeroso. Ajuda o fato do elenco estar muito bem escalado. Jean Reno, já com idade para interpretar um avô, consegue convencer tanto nos momentos mais duros quanto nos sentimentais. O seu personagem passa pelas maiores transformações e como bom ator que é, consegue transmiti-las sem maiores problemas. O elenco jovem é uma feliz surpresa. Desde Hugo Dessioux, que mostra charme como um conquistador adolescente; Passando por Chloé Jouannet, que tem um arco romântico interessante; e culminando com o expressivo Lukas Pelissier, jovem ator que, assim como seu personagem, é surdo na vida real. Suas interações com Jean Reno são o coração do filme.


Poderiam existir mais obstáculos à frente dos personagens – até a internet funciona naquela fazenda, algo que causaria maior impacto no cotidiano daqueles jovens caso não fosse tão fácil – e alguns atores acabam não ganhando espaço merecido. É o caso de Aure Atika, como a sorveteira Magali, que parece desempenhar apenas papel decorativo no longa-metragem. São pecados que são facilmente perdoados, ainda mais com outros predicados cativantes, como a trilha sonora pinçada a dedo, com músicas de Simon & Garfunkel, Deep Purple, Shocking Blue e Bob Dylan. Dito isso, Meu Verão na Provença se mostra um bom programa família, que pode incitar conversas sobre o passado e como ele pode influenciar no presente quando não resolvido.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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