Crítica
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Sinopse
Sr. Hulot visita sua irmã casada com um industriário do ramo plástico. O sobrinho dele cresceu numa casa quase totalmente automatizada. Visto como possível má influência ao menino, Hulot ganha um emprego na fábrica.
Crítica
Já nas primeiras cenas, Jacques Tati, diretor e protagonista de Meu Tio, mostra um forte contraste que se estabelece como pilar do filme. O Sr. Hulot, seu personagem icônico, mora num subúrbio pobre e antigo de Paris. Já a irmã, o cunhado e o sobrinho vivem numa área vítima da modernidade. Sim, vítima, pois aquele progresso não é algo integrado à paisagem, mas uma intervenção violenta que visa empurrar goela abaixo das pessoas um estilo de vida cada vez mais baseado na desumanização. A casa da irmã de Hulot é o cúmulo desse avanço grotesco, a começar pelo peixe que ornamenta a fonte do jardim, um cuspidor de água só ligado para causar boas impressões e manter aparências. O próprio jardim deixa transparecer uma opressão estética sobre qualquer sentido de funcionalidade. Diminuem-se os espaços, criam-se vácuos inúteis na propriedade, tudo em prol de uma beleza esvaziada de porquês.
Ao contrário, o prédio onde Hulot mora possui um emaranhado de escadas, de desvãos à primeira vista desnecessários e contraproducentes, mas que aliviam a opressão das linhas perfeitamente simétricas e da assepsia exacerbada que dá as cartas nos outros cenários. O sobrinho do Sr. Hulot vive quase diariamente esses dois mundos distintos, com um pendor preferencial óbvio à liberdade de andar pelas vielas do subúrbio, brincando com os amigos no meio do mato, comendo guloseimas vendidas na rua, algo que sua mãe certamente não aprovaria. Aliás, ela, a irmã de Hulot, é quem mais personifica o ridículo dessa busca muitas vezes banal pela novidade. Meu Tio possui uma encenação sofisticada. A narrativa avança priorizando o poder da imagem, economizando a palavra para momentos em que ela realmente se apresenta como melhor opção para expressar o que se pretende.
Óbvio que todos os visitantes podem ver exatamente o momento em que a fonte é ligada, pelo esguicho que sobe além dos limites do portão. Essa é uma das soluções visuais das quais Jacques Tati se vale pela construir seu viés irreverente. Hulot é apenas um catalisador das mensagens que o diretor quer transmitir com Meu Tio, já que nada de muito relevante acontece com ele de fato. A real importância de sua presença desajeitada está em deflagrar a degradação do entorno, fazer cair máscaras, sem apontar dedos condenatórios ou discursar calorosamente. Por exemplo, enquanto o casal demonstra afeto numa data comemorativa presenteando com bens de consumo - ele ganha um portão de garagem e ela a notícia da compra de um carro novo –, Hulot proporciona ao sobrinho, em sua aparente alienação, contatos e experiências mais humanas, ou seja, pretere o “ter” em benefício do “ser”.
A automatização é outro ponto criticado em Meu Tio. A casa futurista é repleta de dispositivos tecnológicos que dão conta desde os afazeres domésticos até o entretenimento familiar. Tudo está ao alcance de um botão ou do acionamento infravermelho. A aparente facilidade resulta numa dependência. A moradia passa a possuir os proprietários, já que eles vivem conforme os ditames do espaço, e não o contrário. Essa constatação, em crescente evidência, nos faz questionar a relação do homem com os meios por ele criados para tornar a vida mais fácil. Como visto no filme, esses instrumentos para simplificar as tarefas, ao invés de liberar-nos para coisas menos maçantes que deixar a casa em ordem, muitas vezes se tornam objetos de desejo, totens do mundo moderno. Curioso imaginar como Jacques Tati reagiria, ou melhor, como registraria os dias de hoje, em que o novo, além de obsessão, vira obsoleto em questão de minutos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 10 |
Chico Fireman | 10 |
Diego Benevides | 10 |
Bianca Zasso | 10 |
Lorenna Montenegro | 9 |
MÉDIA | 9.8 |
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