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Crítica
É absolutamente oportuno que em meio ao atual recrudescimento de várias políticas culturais e aos elogios do então presidente da república, Jair Bolsonaro, às práticas espúrias da Ditadura Civil-militar, surja um documentário como Memórias do Grupo Opinião. O foco do longa-metragem do cineasta Paulo Thiago é o conjunto carioca de artistas ligados ao Centro Popular de Cultura (CPC), de atuação destacada no cenário de resistência aos anos de chumbo. Naquele panorama marcado por um sem número de repressões, de cerceamento de liberdades individuais e coletivas, esse time de notáveis, que abarcava representantes do teatro, da literatura, do cinema, da música e das artes plásticas, furou bloqueios, entalhando na História a sua importância. Infelizmente, o documentário não dá conta da amplitude com a qual se depara, limitando-se apenas ao básico, enfileirando depoimentos que constroem um painel instigante, porém inconsistente.
Memórias do Grupo Opinião privilegia a veia musical, algo demarcado pela majoritária prosa em torno de pessoas imprescindíveis da área naquele período e pela releitura de clássicos por intérpretes da atualidade. O realizador deflagra a atemporalidade de composições como as outrora cantadas pelos mestres Zé Keti e Cartola, por exemplo, oferecendo-lhe roupagens contemporâneas bem executadas. Um dos assuntos que surge no fluxo de rememorações é a interlocução entre os musicistas da chamada burguesia da zona sul carioca, sendo deles Carlos Lyra o grande representante ainda vivo para contar história, e os equivalentes oriundos das favelas, cuja voz era completamente diferente. Todavia, não há uma investigação da pungência desse tipo de comunicação que certamente ajudou a enriquecer ambas as vertentes. O longa-metragem é combalido pela necessidade autoimposta de cobrir manifestações complexas num curto espaço de tempo. Soa apressado.
Outra fragilidade latente do documentário, que costura satisfatoriamente superfícies, mas raramente se dispõe a mergulhos profundos em busca de densidade, é o excesso de identificação, algo que aponta ao didatismo careta que destoa do ímpeto das obras e dos movimentos passados a limpo. Por conta, especialmente, da justaposição das menções verbais de personalidades com fotografias burocraticamente legendadas das mesmas, a montagem surge como instância meramente ilustrativa, que não encontra/cria espaços férteis para o estabelecimento de elos consideráveis do ponto de vista cinematográfico. Memórias do Grupo Opinião tem farto material, gente do calibre de Antônio Pitanga, Cacá Diegues, João das Neves e Ferreira Gullar, para citar alguns, discorrendo sobre gênios essenciais como Oduvaldo Vianna Filho, Nara Leão, Denoy de Oliveira e João do Vale, mas se contenta com estabelecer um percurso simples, no qual a reles informação sobressai.
Paulo Thiago opta por não externar a pessoalidade dessa exumação que lhe é cara, pois no passado foi integrante do Grupo Mensagem, que se apresentou no emblemático Teatro Opinião. Além disso, na tentativa de exaltar um momento bastante sui generis da produção artística brasileira, especificamente a carioca, o cineasta subaproveita a própria Ditadura Civil-militar como componente determinante da época. Excetuando menções esporádicas dos depoentes e certas fotografias simbólicas – com destaque especial, nesse tocante, ao registro do incêndio no Centro Popular de Cultura –, não há um empenho efetivo para resgatar das entranhas da memória os horrores que precisavam ser combatidos diariamente por uma gente cheia de talento, mas que era impedida de expressar-se livremente. Portanto, a eficiência do filme reside, pura e simplesmente, na sua capacidade de entrelaçar bons causos, sem com isso produzir um painel espesso sobre os assuntos tratados.
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