Crítica

Baseado na famosa franquia de bonecos da Mattel, que anteriormente originou diversos filmes animados e séries de televisão, Max Steel traz para o cinema live-action o universo de ação protagonizado por Max, jovem que descobre ser diferente dos demais. Apresentado como um adolescente deslocado, principalmente em virtude das inúmeras mudanças de cidade, ele (vivido por Ben Winchell) logo se depara com uma bela garota que passa a fazer parte de sua rotina. Já as sucessivas revelações das verdades por trás da misteriosa morte de seu pai modificam gradativamente as suas certezas. O diretor Stewart Hendler, todavia, não se detém nos conflitos que poderiam derivar desse turbilhão de novidades. Da maneira como a história é contada, com a ação acima de qualquer outra instância, os conflitos são preteridos, pois se julga mais importante, por exemplo, mostrar Max testando seus novos poderes.

Tampouco Hendler parece inclinado a dar peso dramático à mitologia que se pretende erigir. Frivolamente fundada numa tragédia familiar, a trama é emocionalmente estéril, sobretudo no que tange à interação de Max com sua mãe (interpretada por Maria Bello). As coisas só melhoram um pouco com a aparição de Steel (voz de Josh Brener), alienígena simbiótico tão tagarela quanto importante para o esclarecimento de fatos do passado. Max emana uma energia absurda e Steel se alimenta do excesso dela, ou seja, eles possuem uma conexão inquebrantável, embora o humano a rechace inicialmente. Max Steel segue impávido por um caminho de previsibilidades. Fossem menos pomposas as frequentes viradas do roteiro, estado deflagrado pela encenação canhestra, antever não seria necessariamente um problema. Mas, a superficialidade torna difícil, inclusive, criar empatia pelos personagens.

Stewart Hendler busca dar ao filme algum valor, ao menos com relação à imagem. Ainda que seus planos plasticamente belos sejam vazios, eles minimamente nos dão um respiro em meio à predominância de tomadas excessivamente escuras, vistas, especialmente, nos enfrentamentos, ou banais, abundantes na interação de Max com a cada vez mais confusa menina por ele enredada. Max Steel falha copiosamente na tentativa de construir um mundo novo, cheio de possibilidades, no qual a luta entre bem e mal ganha contornos e agentes extraterrestres. Outro desperdício latente é a participação de Andy Garcia, grande ator, mas que aqui fracassa frente à pobreza do material que tem à disposição. O vilão caricatural é um capítulo à parte. Ele lança mão de bravatas durante o combate de vida e morte, como se explicar o valor da eventual vitória fosse mais importante que atingi-la. Outra figura vazia.

O não envolvimento com os personagens decorre da total ausência de carisma deles, resultado indigesto da soma do roteiro e da dramaturgia frágeis com as atuações pífias. Mirando evidentemente o público infanto-juvenil, Max Steel subestima a capacidade de seu target por oferecer um espetáculo apressado, ironicamente sem energia, cujos acontecimentos giram em torno da excepcionalidade de um rapaz que não consegue demonstrar, de fato, como aquilo passa a ser determinante à sequência de sua trajetória. Para além do caráter escapista, há uma inabilidade flagrante, seja na condução do enredo ou mesmo nos esforços malogrados para conferir às pessoas alguma relevância. O longa-metragem até possui instantes de moderada diversão, mas eles são quase insignificantes diante das fragilidades que vão se acumulando, se impondo até implodir a capacidade de comprometimento com tudo que transcorre na tela.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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