Crítica
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Sinopse
A filha de uma jovem muito pobre é confiada momentaneamente ao padre local enquanto sua mãe vai buscar o resultado de alguns exames. Enquanto isso, o pároco conta à menina a história de Maria, mãe de Jesus.
Crítica
Maria, Mãe do Filho de Deus é um filme que apresenta resultados divergentes, e de acordo com cada ponto de vista específico que deve ser julgado. Enquanto obra cinematográfica, sua representatividade é pífia. A direção é amadora, os protagonistas são muito fracos e o roteiro, plano e esquemático. Entretanto, esse não é seu objetivo. O intento aqui é catequizar, transmitindo dogmas da fé cristã a um número significativo de espectadores. Esta conclusão aponta para a necessidade que o longa tem de obter um número significante de público. E é nesse sentido que possui algum mérito, revelando-se um produto eficiente em seus propósitos finais.
Resultado direto de um esforço do padre popstar Marcelo Rossi, que decidiu abraçar o projeto emprestando seu nome e imagem, Maria, Mãe do Filho de Deus pode ser considerado uma “troca de favores”. Apesar do religioso ser uma celebridade, acima de tudo permanece um profissional da fé, e sua função na mídia é arrebatar uma maior quantidade de fiéis à religião católica. Este filme, portanto, é mais uma peça nesse jogo, assim como CDs e apresentações em missas-shows. Essa aqui, no entanto, representou sua jogada mais ambiciosa, revelando um potencial inesperado, tendo gerado inclusive alguns desdobramentos.
Deixando de lado a questão religiosa, a história de Jesus Cristo é uma das maiores e mais belas da humanidade, e esse é um fato difícil de ser negado. Tem-se em cena um conto de amor e desespero, entrega e redenção. Maria, Mãe do Filho de Deus carece de um roteiro melhor estruturado, preferindo centrar seu desenrolar num compêndio de passagens universalmente conhecidas. Dentro deste conceito, é importante destacar que a única razão do título ser o nome da Nossa Senhora é porque, além dela ser a padroeira do nosso país, aqui é um dos únicos lugares do mundo em que a fé nela é quase tão grande quanto a referente ao Menino Jesus e, em última instância, Deus. Há também o fato dela ser um ícone da Igreja Católica, o que a diferencia das demais religiões evangélicas. Para olhos afiados, fica evidente o golpe de marketing. Já aos desatentos, cabe o aviso de que temos aqui mais uma vez a trajetória de Jesus Cristo, com sua mãe, novamente, como coadjuvante de luxo.
Giovanna Antonelli parece, num primeiro momento, uma boa escolha para o papel de Maria, mas sua performance na cena carece de maior brilho. Acanhada, está constantemente com a mesma expressão no rosto, chorosa, sem vida ou profundidade. Luigi Baricelli, por outro lado, dá vida a um Jesus caricato e sem nuances em sua personalidade. Já quanto ao padre Marcelo, há o desconto dele não ser um ator, e sua presença se justificar apenas pelo carisma entre os fiéis. Assim, não tenta vôos maiores em sua participação, contentando-se em cumprir o esperado. Há ainda um respeitável elenco de coadjuvantes, com destaque para José Dumont (Diabo), José Wilker (Pôncio Pilatos) e Cláudio Gabriel (Judas).
O problema maior de Maria, Mãe do Filho de Deus é a direção, que não confere oportunidades maiores para o elenco mostrar o que é capaz, registrando tudo em tomadas curtas e sequências superficiais. Em uma passagem ou outra chega-se a vislumbrar a possibilidade de se atingir algum impacto, oportunidades que invariavelmente são desperdiçadas pelas mãos inseguras do diretor. Moacyr Góes está em melhor do que em sua estreia como realizador, no problemático Dom (2003), mas ainda precisa percorrer um longo caminho até ter um trabalho digno de nota no currículo (o que ainda não aconteceu).
Maria, Mãe do Filho de Deus foi feito para um público muito específico e com objetivos claros. Nesse sentido – e somente assim – pode-se declarar alguma competência. Mas, enquanto cinema, apresenta muitos passos em falsos, acusando a ausência de diversas qualidades essenciais a qualquer produto de entretenimento relevante. Até chegou a contar com um bom público (no seu final de semana de lançamento ficou em primeiro lugar no ranking de bilheterias nacionais, com mais de 150 mil espectadores), mas rapidamente resignou-se ao ostracismo artístico, como uma experiência única e não digna de muito crédito.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 4 |
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