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Sinopse

Maria Callas: Em Suas Próprias Palavras conta a história da icônica cantora lírica que nasceu na cidade de Nova York em 1923, numa família de imigrantes gregos. Incentivada pela mãe a desenvolver dotes artísticos desde cedo, teve aulas de canto com Elvira Hidalgo no Conservatório de Atenas e não tardou a ser reconhecida internacionalmente como a melhor cantora de ópera de todos os tempos. Através de entrevistas, imagens raras de arquivo, filmagens pessoais e cartas íntimas, a vida e a carreira da artista são reconstituídas. Fanny Ardant, que a interpretou no filme Callas Forever (2002), é uma das entrevistadas.

Crítica

A versão brasileira do título deste documentário dirigido por Tom Volf empobrece bastante a poética simples, porém bonita, do original Maria by Callas. A grande artista, uma das maiores cantoras do século XX, demonstra ser exatamente cindida em duas pelo status de prima-dona alcançado nas décadas diante da ribalta, embora uma faceta inevitavelmente influencie a outra. Maria Callas: Em Suas Próprias Palavras busca pintar um retrato íntimo, no qual há poucas visões externas acerca da protagonista, a não ser, obviamente, a do diretor que encadeia o vastíssimo material de arquivo composto de entrevistas, registros caseiros e outros dispositivos habilmente instrumentalizados. A antiga professora do Conservatório de Atenas e o então administrador do mítico Metropolitan, de Nova York, ganham voz além de Callas. Ela, para celebrar uma genialidade atrelada à disciplina da jovem norte-americana na absorção dos ensinamentos. Ele, a fim de deflagrar os atritos que baniram a estrela temporariamente de um dos espaços culturais vitais dos EUA.

Seguindo basicamente uma linha cronológica retilínea, o realizador mostra Maria Callas falando da infância interrompida precocemente pelo desejo da mãe de vê-la sobressaindo nos palcos do mundo em virtude do talento igualmente identificado cedo. Aliás, em certos momentos há atenção especial à melancolia da artista diante da constatação retrospectiva das renúncias que a carreira impôs. Embora nem sempre Volf consiga ir além da mera constatação, rapidamente passando a novos temas, numa operação que arrefece a intensidade do filme em seu decurso, são identificáveis constantes similares. A cantora observa seu dom como um fardo que não lhe permitiu ter a vida considerada normal para uma mulher. Ademais, ela expõe em diversos instantes uma visão bem conservadora do papel feminino, chegando a dizer que o entende a partir da felicidade propiciada ao homem amado. O longa-metragem não utiliza o potencial disso, preferindo focar-se nos efeitos do cansaço mental. As imagens coloridas, restauradas, conferem uma vivacidade particular ao todo.

Maria Callas: Em Suas Próprias Palavras se detém muitas vezes na apresentação de números emblemáticos de Callas, rendendo-se, assim, à sua arte. Todavia, essa admiração ocasionalmente gera dispersão no painel em processo, quebrando ritmos e dirimindo a força do drama privilegiado. Sim, pois Tom Volf observa o ícone a partir da tristeza que o perpassou, condição emoldurada aqui pela solenidade da ópera, com o peso substancial dos graves retumbantes e aos agudos cortantes que Callas alcançou talvez como nenhuma outra. Mesmo reiterativo, o documentário dá conta de preservar a integridade da personalidade pública, demonstrando a sua batalha pessoal contra a depressão para continuar fazendo em cena aquilo que a imortalizou no meio. O envolvimento midiatizado com o magnata grego Aristóteles Onassis é encarado com sutilezas, tido, inicialmente, como um evento cercado de ternura e alegria, e, depois, como outra pedra pesada num forte descontentamento com a vida. A relação oscilante com a imprensa "carniceira" também se faz presente.

Justamente na hora de encarar o casamento de Onassis com Jacqueline Kennedy, Maria Callas: Em Suas Próprias Palavras expõe o nível de sua afeição por Maria Callas, por isso não devassando intimidades ou fazendo do sofrimento um degradante espetáculo póstumo. Somente há espaço para o dimensionamento do quanto a perda circunstancial do homem outrora alçado a um olimpo particular significou à diva numa conjuntura em que a carreira não mais parecia bastar. Com o tempo, o canto lírico passou a pesar inexoravelmente, mas ainda era parte indissociável de seu âmago. O longa captura bem esse paradoxo repleto de matizes. No que pese a contraproducente tendência a repetir procedimentos e incorrer desnecessariamente em tópicos anteriormente abordados, o conjunto é bem-sucedido no que tange ao aprofundamento da visão sobre essa mulher genial, que nem sempre foi feliz ao exercitar seus dotes. Provavelmente, o grande mérito do filme é a forma respeitosa com que se aproxima de um ídolo dessa envergadura descomunal, lendo-o como gente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
6
Roberto Cunha
7
MÉDIA
3.5

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