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Sinopse

Tom Spall mora numa pequena cidade chamada Millbrook. Casado e pai de dois filhos, é dono de uma lanchonete. Certo dia, um assalto ocorre no estabelecimento, e ao enfrentar os bandidos, os mata. O incidente faz com que passe a ser considerado um herói por sua família e amigos, e também pela mídia. Enquanto lida com essas mudanças, recebe a visita de um misterioso homem que alega saber segredos do seu passado.

Crítica

Culpa e perdão. Estes dois sentimentos estão espalhados por cada minuto de Marcas da Violência, um dos mais impressionantes trabalhos do diretor canadense David Cronenberg. Igualmente inventivo, original e perturbador, ele poucas vezes se deixou levar pelo convencional e corriqueiro. Sua mente já nos entregou obras como o instigante Videodrome: A Síndrome do Vídeo (1983), o sucesso A Mosca (1986), o sexy e violento Crash: Estranhos Prazeres (1996) e o hipnotizante Spider: Desafie sua Mente (2002). Desta vez, no entanto, ele entrega uma obra que pode ser considerada como a mais “acessível” de sua carreira até este momento, e talvez esteja aí o segredo do resultado tão positivo: a simplicidade.

Tom Stall (Viggo Mortensen) é um homem de família. Pai de um adolescente e de uma menina, é apaixonado pela esposa e cuida de uma pequena lanchonete no centro da cidade onde mora. Certo dia, no entanto, quando dois bandidos tentam assaltá-la, ele consegue se desvencilhar de ambos com extrema habilidade, matando-os com suas próprias armas e sofrendo apenas um pequeno machucado neste processo. Esta atitude tão feliz quanto surpreendente acaba chamando a atenção da comunidade, além da imprensa, que o coloca nos telejornais nacionais, retratando-o como “herói”. Esta visibilidade desperta a curiosidade de dois gângsteres do outro lado do país, que acreditam ver naquele rosto a figura de um antigo desafeto, e partem no seu encalço em busca de vingança. A visita destes estranhos irá provocar mudanças radicais na vida do protagonista, inclusive em sua relação familiar. Afinal, ele é só um homem pacato que teve um lance de sorte ou um ex-assassino em busca de uma nova chance?

Esta possibilidade, a procura pela redenção, não é incomum nos dias de hoje. Quem nunca errou e partiu atrás de uma oportunidade para se refazer de enganos? Assim como o próprio governo norte-americano, que após o 11 de setembro de 2001 se empenhou no sentido de remediar más escolhas do passado, Marcas da Violência pode ser encarado como uma forte analogia do momento social e político atual. A ferocidade não é uma característica só das grandes metrópoles, pois pode ser encontrada até nos lugares mais insuspeitos, e isso é um reflexo direto da insegurança do mundo moderno. Cronenberg entende isso como poucos, e passa essa mensagem com justa sabedoria.

Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (William Hurt, que faz uma pequena – e assustadora – aparição quase ao final da trama) e Melhor Roteiro Adaptado (baseia-se numa graphic novel de John Wagner e Vince Locke), Marcas da Violência arrecadou nos Estados Unidos praticamente o mesmo valor do seu custo, que ficou em torno de US$ 32 milhões. Este foi também um dos longas mais elogiados de 2005, exibido no Festival de Cannes, indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme em Drama e Melhor Atriz Dramática (Maria Bello) e premiado nas associações de críticos de Ohio (Filme, Diretor e Atriz Coadjuvante – Bello), Chicago (Diretor e Atriz Coadjuvante), da França (Melhor Filme Estrangeiro), Los Angeles (Ator Coadjuvante – Hurt), dos Estados Unidos (Diretor e Ator Coadjuvante – Ed Harris), New York (Ator Coadjuvante – Hurt, e Atriz Coadjuvante – Bello) e Toronto (Filme, Filme Canadense e Diretor). Resultados que apontam algumas das diversas qualidades deste trabalho, mas que ainda assim são insuficientes para apontar em sua totalidade os inúmeros méritos que contém.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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