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Sinopse

Histórias paralelas de pessoas que moram próximas à rua Magnólia, em Los Angeles. As tramas são marcadas por elementos comuns, tais como perdão, raiva, angústia e solidão, numa metrópole às vezes alheia ao sofrimento.

Crítica

Normalmente, quando se fala de coincidências no cinema, elas representam o ápice do filme. Histórias que se entrelaçam num determinado momento e, nesse ponto, ganham um sentido maior. É basicamente a pedra de toque de toda a filmografia de Alejandro González Iñárritu enquanto teve Guillermo Arriaga como seu parceiro roteirista. Muitos outros filmes também utilizam a estrutura com sucesso: de Short Cuts (1993) a Timecode (2000). E talvez por isso a abordagem escolhida por Paul Thomas Anderson para seu Magnólia seja, ainda hoje, tão admirada: ele faz com que as coincidências não sejam o ápice da trama, mas sua própria razão de ser.

O longa, escrito pelo diretor, conta as histórias de diversos personagens, que podem ou não se cruzar. Frank (Tom Cruise, inspiradíssimo em si mesmo) é uma espécie de guru sexual machista, que arrebata multidões de ogros ao ensiná-los segredos da cafajestagem. Ele é filho de Earl Patridge (Jason Robards), que está moribundo e é cuidado por um dedicado enfermeiro (Philip Seymour Hoffman), enquanto sua esposa, Linda (Julianne Moore), se afoga em pílulas. Paralelamente, um policial (John C. Reily) se apaixona por uma garota viciada em drogas, Claudia (Melora Waters). Ela, por sua vez, é filha de um famoso apresentador de um quiz televisivo (Philip Baker Hall), com quem está brigada. Por fim, há também Donnie Smith (William H. Macy, esplêndido) que, apaixonado por um bartender, acredita que chamará a atenção do homem dos seus sonhos usando aparelho de dentes.

Nem é preciso dizer que o elenco é estelar. E sintonizado: raros são os casos em que um grupo de atores dessa magnitude trabalha de forma tão orgânica, sem que um se sobressaia aos outros e mantendo a coesão da equipe. E olha que tem Tom Cruise no meio! O que não significa que as atuações individuais também não estejam bem dirigidas e calibradas: a profundidade de alguns personagens reside em seus gestos, mais do que em suas palavras.

A trama transcorre durante um último dia na região de Los Angeles conhecida como vale de San Fernando. Isso exige uma montagem dinâmica e criativa, de forma a não tornar o filme confuso ou, o que também seria possível, enfadonho. Mérito de Dylan Tichenor, que não só consegue o feito, como o amplia, conduzindo o espectador pelas histórias sem que ele sequer perceba as mudanças entre elas.

E já que o filme trata de coincidências, fica na mão da montagem destacá-las e realçá-las sem que tudo fique muito didático. As "explicações" se resumem a citações diluídas nas falas dos personagens (que vão da Bíblia à botânica) e a um segmento de cerca de 15 minutos, no começo do filme, que reflete sobre o papel da coincidência em nossas vidas a partir de lendas urbanas.

A trilha (o filme contou inclusive com uma composição indicada ao Oscar de Melhor Canção Original) também vale a pena. É importante perceber o papel especial que ela tem no longa, que foi inspirado em grande parte pelas músicas de Aimee Mann.

Mas é na mão da direção e do roteiro (não por acaso de mesma autoria) que reside o maior poder de Magnólia. É o olhar sensível e nada intrusivo de Paul Thomas Anderson o responsável por transformar o que poderia ser um simples cruzamento de histórias numa grande parábola sobre as relações humanas, especialmente em grandes cidades. Ao envolver o espectador na longa e enovelada trama até o ponto em que ele esquece que o filme pretendia falar sobre "encontros e coincidências", o diretor consegue fazer com que se olhe para esperanças, ambições, medos e verdades, mais do que para os pontos em que eles se encontram. E o melhor: quando o ápice finalmente é atingido, as coincidências já se deram há muito tempo, de forma que não resta muito mais do que o sobrenatural para coroar a história.

É diante desse fato inusitado, pelo qual Magnólia é amplamente conhecido, que o espectador é levado a ligar, ainda que de forma frouxa, a intrincada salada de pontos formada por versículos bíblicos, números cabalísticos e personagens "clarividentes". Quando chovem os sapos, cai a ficha de que, ao contrário da filmografia típica de "coincidência", o mundo não existe para que duas retas se encontrem num determinado ponto. Do contrário, essas retas se encontram para que o mundo, como o conhecemos, possa existir.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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