Crítica

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Greta Gerwig interpreta constantemente um tipo de personagem imaturo que é impulsionado a uma maturidade autoimposta devido a pressões da sociedade. Aconteceu em Frances Ha (2013), Lola Versus (2012) e até mesmo em Mistress America (2015). As inseguranças de adentrar na vida adulta e suas grandiosas responsabilidades são recorrentemente seu ponto de partida e em Maggie's Plan a atriz não se afasta muito dessa abordagem, pelo contrário, só reforça ainda mais seu viés nessas interpretações. Felizmente, o filme de Rebecca Miller possibilita a atriz entregar uma performance que difere muito das anteriores, as quais eram um tanto quanto similares.

Maggie (Gerwig) é uma jovem que decidiu engravidar. Seu desejo é ser mãe solo, sem ter interferências de um companheiro. Porém, esse plano aos poucos vai por água abaixo quando ela se apaixona por John (Ethan Hawke), um escritor casado com a instável dinamarquesa Georgette (Julianne Moore). Isso ocorre ao mesmo tempo em que ela está encaminhando sua gravidez independente através de inseminação artificial, com a ajuda de um amigo feirante. Se achávamos que o plano de Maggie era apenas engravidar, nos enganamos. Passado algum tempo, depois de uma filha e três anos junto de John, a jovem nota que o casamento com ele talvez não tenha sido a melhor jogada. O casal parece não funcionar de diversas formas, da relação em si a até mesmo em pensamentos e perspectivas de vida.  E, então, chegamos ao plano ao qual o título em inglês se refere. Num insight após uma viagem de seu marido para um evento em que reencontra Georgette, Maggie conclui que o ex-casal era perfeito junto e trama um esquema para que sejam unidos novamente.

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Longe de ser uma das mais inspiradas produções já realizadas por Miller, que possui uma filmografia bem irregular após o excepcional O Tempo de Cada Um (2004), Maggie's Plan, ao menos, reúne um ótimo elenco, com destaque para a presença de Maya Rudolph  e Bill Hader. Mas infelizmente faltam diálogos cômicos inteligentes, ocasionando uma narrativa um tanto monótona. A performance de Ethan Hawke reflete e muito isso. Seu personagem se desenvolve como um cão perdido, um clichê de escritor sustentado pela mulher. John oscila entre Maggie e Georgette, conforme a comodidade de um dos lados. Talvez seja exatamente esse aspecto que Miller busque com o personagem de Hawke, afinal é na cumplicidade entre Gerwig e Moore que o filme se desenvolve de maneira mais concreta e profunda. O companheirismo inteligente e perspicaz das duas coloca os personagens masculinos em segundo plano, como algo descartável ou reutilizável.

Julianne Moore e sua Georgette de sotaque dinamarquês afetadíssimo é digna de uma comédia pastelão e ainda assim complexa com nuances de insegurança. E é na cena em que as protagonistas negociam a relação com John que se apresenta um dos melhores momentos da trama. Em tom cômico, mas ainda assim envolto de uma sinceridade ímpar, a conversa jamais cresce sem grandes desafetos entre ambas. Há um tom conciliador, objetivo e analítico. Como se Miller refletisse que aquele clichê de mulheres desesperadas nesta história não tem vez.

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É compreensível a falta de prêmios ao filme, mesmo com a seleção para festivais como Toronto, Sundance, Berlim e Nova York. Não há grandes novidades na narrativa de Rebecca Miller e falta certo brilho nos diálogos, que poderiam ser seu principal diferencial. Sobra como saldo positivo Greta Gerwig, ela que ao menos mostra que consegue ir além das suas personagens excêntricas e instáveis. Maggie tem uma independência e maturidade que pouco se viu a atriz apresentando nas telas.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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