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Sinopse

Magda acaba de ser deixada pelo marido quando descobre que tem um câncer de mama. Seu médico está otimista, mas ela terá que passar por uma mastectomia. Um dia, durante o jogo de futebol de seu filho, Magda conhece Arturo, um homem que acaba de receber a notícia de que sua mulher e filho sofreram um acidente de carro. Das duas catástrofes, uma ligação especial surge entre os dois.

Crítica

Após um hiato de cinco anos que seguiu o lançamento do esquecível Um Quarto em Roma (2010), o cineasta espanhol Julio Medem decidiu apostar em cartas maiores. Com o apoio da atriz mais renomada de seu país, Penélope Cruz, iniciou a produção do drama Ma Ma, com grandes pretensões – como concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Para isso, fez uso de artifícios e concessões que permeiam seu roteiro original e o caracterizam como um melodrama exacerbado, repleto de sequências grandiloquentes para sua protagonista e conduzido por uma trilha sonora ininterrupta. O resultado, ainda que interessante e razoavelmente criativo em seu primeiro ato, termina como uma compilação de boas ideias mal executadas ou repetidas à exaustão.

Logo na primeira sequência de Ma Ma conhecemos Magda (Cruz), professora desempregada que passa por uma série de exames ginecológicos aparentemente excruciantes e recebe péssimas notícias de seu médico: está com um câncer no estágio três. Mãe solteira e ex-mulher de um professor universitário que a trocou por uma aluna mais jovem, ela decide encarar a notícia com otimismo e seguir com os tratamentos necessários sem contar a alguém. Seus planos mudam ao conhecer Arturo (Luis Tosar), que prospecta jogadores de futebol para o Barcelona e se interessa pelo seu filho, mas que, no entanto, também é abalado pela notícia de que um acidente de carro matou sua filha e colocou a esposa em coma.

Ma Ma não é econômico em tragédias. Trata-se de um daqueles filmes que continuamente arremessa dilemas existenciais e morais para seus protagonistas enquanto avalia como eles os resolvem – Medem é como um menininho numa tarde de sol que brinca com uma lupa e algumas formigas. A direção do espanhol é inventiva e, somada à fotografia de Kiko de la Rica, que já trabalhou com ele em Lúcia e o Sexo (2001), reserva belos momentos para a narrativa, mas que infelizmente se repetem incessantemente. Um deles representa Magda se desligando do que está acontecendo ao seu redor: a câmera quebra seu eixo lentamente e acompanha a cabeça da protagonista tombando para trás, enquanto a paleta de cores do filme mergulha em tons de azul frios e melancólicos. As primeiras duas ou três vezes que isso acontece são interessantes, mas logo o momento perde o encanto e reitera que Medem prefere pecar pelo excesso.

Se há algo que funciona plenamente em Ma Ma é Penélope Cruz. A atriz se vale de cada momento em tela, dos mais difíceis aos mais ternos e íntimos, para representar Magda com coragem e afetuosidade. Há uma série de closes que capturam muitas nuances de sua interpretação e, em planos longos, a câmera parece se desestabilizar e perder o foco quando confrontada por sua beleza – mas talvez seja para demonstrar a fragilidade e a delicada efemeridade da personagem. Luis Tosar também faz o que pode para equilibrar Arturo, que perde sua família e logo já está nos braços de Magda. Seu personagem evidencia a ideia de Medem de que tudo pode ser substituído: o seio perdido de Magda pode ser recuperado numa cirurgia plástica; a ausência da filha e da esposa de Arturo pode ser suprimida por Magda e seu filho; até o ginecologista dela, que se torna seu amigo e confidente, também vai preencher o vazio de nunca ter adotado uma menina no decorrer da narrativa. A mensagem de Medem é que todo mundo deve ser feliz e não há espaço para depressão, mesmo se você tem um câncer em estágio terminal.

Há de se louvar, no entanto, a habilidade de Medem para criar símbolos imagéticos que economizam linhas de roteiro e diálogos explicativos. Os jumpcuts entre curtos espaços de tempo beneficiam essa mesma intenção, mas são algumas pequenas sequências que explicitam esse talento do diretor, perceptível desde Os Amantes do Círculo Polar (1998). A melhor delas ocorre quanto Magda repara, entre um misto de admiração e inveja, numa mulher que desfila de topless na praia. Na cena seguinte ela percebe alguns caranguejos que caminham perto de si – animal este que simboliza a constelação e o signo de câncer. Estava tudo indo muito bem, mas então o cineasta decide colocar umas sequências em um CGI bastante artificial do coração pulsante da protagonista e da menina que cresce em seu ventre – uma decisão tão descabida quanto passível de previsibilidade em suas intenções.

Ma Ma se encerra com uma dedicatória às mulheres, que enfrentam provações constantes como as apresentadas na ficção, sejam os exames difíceis pelos quais são submetidas ou as estatísticas alarmantes que acometem uma entre oito delas com câncer de mama. É um trabalho bonito e fácil de agradar, pautado nas lágrimas que pretende arrancar de seus espectadores. O final é daqueles que, mesmo triste, nunca deixa de ser otimista e edificante; uma reinvenção acidental, mas pouco louvável de Minha Vida Sem Mim (2003), da também espanhola Isabel Coixet.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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