Crítica


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15 votos 8.4

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Sinopse

Os gêmeos Ronald Kray e Reginald Kray foram gangsters que aterrorizavam Londres na década de 1960. Por trás de inúmeros assaltos à mão armada, ataques e assassinatos, eles ainda eram donos de uma das casas noturnas mais famosas da cidade. Mas os dois tinham um conturbado relacionamento enquanto Reginald buscava tentar controlar as tendências psicóticas de seu irmão.

Crítica

Tom Hardy é um ator que não cansa de impressionar. Dedicando a maior parte de seu tempo a projetos e personagens que tentam de alguma forma fugir do lugar-comum, o ator parece gostar de pôr seu talento à prova. Dessa vez, em Lendas do Crime, ele teve pela frente um desafio que deve ser particularmente interessante para qualquer ator, ao ter a chance de encarnar gêmeos idênticos. No caso, os irmãos Ronald e Reginald Kray, que ficaram famosos na Londres da década de 1960 como dois dos maiores gângsteres da região.

Baseado no livro de John Pearson, o filme escrito e dirigido por Brian Helgeland (vencedor do Oscar pelo roteiro de Los Angeles: Cidade Proibida, 1997), Lenda do Crime acompanha a escalada dos Kray no submundo do crime, eliminando rivais de seu caminho e montando grandes negócios com a máfia americana. Mas nada disso veio sem deixar rastros de sujeira e violência, sendo que a polícia, liderada pelo detetive Leonard Read (Christopher Eccleston), aparece constantemente no encalço deles. Ao mesmo tempo, acompanhamos o romance de Reginald com Frances Shea (Emily Browning), que por ser a narradora do filme assume também o papel de porta de entrada do público para o mundo dos irmãos.

As atuações de Tom Hardy em seu papel duplo, na verdade, é o que Lendas do Crime tem de melhor. Ronald e Reginald Kray são idênticos no visual, mas no resto tratam-se de figuras com personalidades e modos completamente diferentes, e o ator estabelece esses detalhes maravilhosamente em suas composições. No papel de Ronald, ele surge como um sujeito mais instável, bruto e amedrontador, tendo um jeito por vezes animalesco que combina com a irracionalidade do personagem (Hardy dá um toque curioso nesse sentido ao falar com o lábio inferior meio caído, deixando os dentes à mostra). É o oposto do que se vê em Reginald, que assim se firma rapidamente como a cabeça pensante da dupla, exibindo inteligência e calma para lidar com os negócios, além de ser uma figura um pouco mais humana, aspecto explorado em sua relação com Frances.

Mas vale dizer que o astro imprime em ambos os papeis uma camada ameaçadora que se faz presente constantemente, detalhe que contribui para que os Kray tenham uma presença sempre muito forte. Além disso, as trucagens de Brian Helgeland para colocar dois Tom Hardy em cena, o que inclui raramente mostra-los no mesmo plano (e quando isso ocorre, sempre há uma certa distância entre eles), ajuda a formar a relação um tanto fria que os irmãos têm um com o outro. Sendo assim, é interessante notar que eles são parceiros de negócios mais por conta de sua ligação sanguínea, já que afetiva e estrategicamente são figuras incompatíveis.

Enquanto isso, Helgeland constrói uma narrativa que sofre com irregularidades. Durante boa parte do tempo, o diretor impõe um tom surpreendentemente leve, o que, se por um lado é capaz de divertir (por exemplo, o modo como uma briga de bar tem início), por outro faz certas passagens mais dramáticas soarem deslocadas e forçadas, tirando muito do peso que o longa poderia ter. Já o roteiro não deixa de ser um pouco corriqueiro no desenvolvimento da história, algo que reflete até na narração simplista e expositiva de Frances. Aliás, considerando a importância da personagem no filme e a boa atuação de Emily Browning, é triste que a principal cena dela acabe não tendo tanto impacto.

Ainda que esses pontos o enfraqueçam, Lendas do Crime funciona satisfatoriamente como um filme de gângsteres, além de contar com pontos admiráveis tecnicamente. O design de produção e os figurinos recriam a Londres da década de 1960 com eficiência, enquanto a fotografia de Dick Pope faz um bom trabalho ao contribuir tanto para o luxo quanto para a sobriedade da realidade de crimes vista ali. Para completar, Brian Helgeland consegue criar ótimos momentos pontualmente, merecendo destaque o belo plano-sequência no clube de Reginald, que é hábil em mostrar todas as facetas do personagem. Mas, no fim, este é um longa que provavelmente será lembrado mais como uma prova do talento inegável de seu protagonista do que por qualquer outra coisa.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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Grade crítica

CríticoNota
Thomas Boeira
6
Francisco Carbone
5
MÉDIA
5.5

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