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Sinopse

Agora a Ilha Nublar tem um parque de diversões aberto ao público, mostrando dinossauros vivos, tal como John Hammond imaginou. Depois de 10 anos em funcionamento, o empreendimento começa a perder audiência e para poder se recuperar, um dinossauro geneticamente modificado é criado como atração. O problema é que esse animal é bem mais difícil de ser controlado e pode colocar a vida de muitas pessoas em risco.

Crítica

Assim como no mundo ficcional visto nos filmes, a saga Jurassic Park também havia chegado pouco mais de dez anos atrás a um ponto em que a evolução se fazia imprescindível – no velho estilo ou muda, ou morre. E se em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993) a simples presença dos seres pré-históricos, revividos artificialmente graças à engenharia genética (ainda que na tela grande) já era garantia para deixar o público maravilhado, dos episódios seguintes exigia-se mais. O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997) apostou em mais dinossauros e em novos ambientes (San Diego, lembra?), enquanto que Jurassic Park III (2001) investiu no perigo aéreo – como esquecer do ataque dos pterodátilos? Porém algo que até agora não havia sido cumprido era a promessa original – ou seja, como esse tal Parque dos Dinossauros ainda não fora aberto? Pois é exatamente isso que Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, quarto título da série, entrega: uma ilha temática onde visitantes do mundo todo podem ver de perto seus monstros favoritos. E, como veremos, podem também virar presa das mesmas feras, assim que elas encontrarem um jeito de escapar.

O único personagem visto em algum dos filmes anteriores é o Dr. Henry Wu (BD Wong), presente do longa de estreia e o cientista responsável por trazer os animais novamente à vida. Dessa vez, ele está agindo de acordo com os interesses do supervisor Hoskins (Vincent D’Onofrio), um expert da iNGen que deseja dar à algumas espécies – os velociraptores, principalmente – uso militar, lançando-as em campo, uma vez que percebe-se que são mais inteligentes que as outras. Mas este é o menor dos problemas dos administradores do parque, o empresário Masrani (Irrfan Khan, de O Espetacular Homem-Aranha, 2012) e a gerente Claire (Bryce Dallas Howard). Para eles, o que importa é seguir atraindo a atenção do público. E é por isso que dão carta branca para a criação de uma nova espécie de dinossauro, alterado geneticamente a partir da combinação de outras raças. Tem-se, então, o Indominus Rex (D-Rex para os íntimos). Mas como agir quando um animal altamente perigoso e sobre o qual ninguém conhece escapa da sua zona de controle, colocando todos ao seu alcance em perigo?

Apela-se, é claro, para o herói disponível mais próximo. E esse atende por Owen (Chris Pratt), ex-namorado de Claire e um homem mais de atos do que de palavras. Caberá a ele o papel tão bem conhecido dos filmes anteriores: aquele que fica o tempo todo avisando que algo dará errado até que, como ele mesmo previra, uma coisa muito ruim acontece. Neste caso, estamos nos referindo à fuga do D-Rex, um predador ainda maior que o T-Rex e mais selvagem do que os velociraptores. Com ele à solta, nenhum dos 20 mil visitantes da ilha está seguro. E entre a indecisão de simplesmente abatê-lo – afinal, foram anos de pesquisa, estudos e investimentos para a sua criação – e elaborar um plano de contenção realmente exequível, quem acaba na linha de frente são justamente os dois sobrinhos de Claire, que estão no parque de visita e nem imaginam o tamanho do risco que estão correndo.

Bom, este é o cenário ao qual somos convidados em Jurassic World. E seria suficiente – afinal, quem decide ver um filme como esse quer ação ininterrupta, com dinossauros assustadores correndo atrás de homens e mulheres nas mais diversas situações. Porém, é impressionante a inabilidade do diretor Colin Trevorrow em aproveitar os elementos dispostos em cena. Por exemplo, em certo momento temos as duas crianças literalmente sozinhas, no meio da floresta, correndo por suas vidas de um ataque do D-Rex. E o que acontece em seguida? Os meninos pulam numa cachoeira e o bicho resolve seguir seu caminho para outro lado, eliminando a tensão em questão de segundos. O mesmo se repete quando os pterodátilos são soltos (novamente), ou quando nos deparamos com a espécie aquática – os mosassauros – que pouco fazem além de uma participação especial. Muita expectativa que acaba não se cumprindo.

Trevorrow estreou como realizador com o independente e pouco visto Sem Segurança Nenhuma (2012) – um título irônico que poderia se aplicar a este novo trabalho. Sua escolha para comandar a revitalização da série inventada por Steven Spielberg é, no mínimo, inesperada. Sem prática de lidar com grandes orçamentos e muitos efeitos especiais – em nenhum momento chega a se ter uma visão limpa e ampla do vilão, que parece estar sempre escondido – ele também demonstra pouca afeição aos seus personagens. A mocinha Bryce Dallas Howard é antipática e de poucos amigos, enquanto que o herói está presente apenas para repetir frases de efeito – “eu sou o macho alfa” – pois pouco faz em última análise. As cenas de pânico na multidão, por exemplo, são mal exploradas, enquanto que alguns membros do elenco – como Khan e o francês Omar Sy, que nem ele próprio deve ter entendido o que fazia ali – são descartados sem a menor cerimônia.

Mais próximo do final tenta-se algo novo em Jurassic World, que é estipular a luta entre os próprios dinossauros, quando velociraptores e até um T-Rex são chamados para enfrentar o temível D-Rex. Mas nem isso dura muito – até porque, convenhamos, não é tão inédito assim – e logo volta-se o foco ao casal de apaixonados e aos dois garotos em fuga, todos juntos tentando sobreviver, por menores que sejam as esperanças. Há algumas boas cenas de ação, Chris Pratt se confirma como um protagonista de respeito e talento – como havia indicado em Guardiões da Galáxia (2014) – e o final oferece a deixa perfeita para outras sequências. Mas tem-se algo, de fato, novo? As mais de duas décadas que separam esse do longa original foram suficientes para se pensar em uma narrativa surpreendente e que consiga fugir do lugar-comum do gênero? Infelizmente, a resposta é tão óbvia quanto a certeza de que mais do mesmo é tudo o que Hollywood parece ter a oferecer nos dias de hoje.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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