Crítica


8

Leitores


2 votos 6

Onde Assistir

Sinopse

Os tripulantes da Enterprise são considerados fugitivos pela própria Federação que juraram proteger. Eles têm de voltar à Terra e enfrentar a côrte marcial pelos crimes cometidos a fim de salvar a vida de Spock. Mas, no caminho, descobrem que o planeta está sendo devastado por uma sonda alienígena.

Crítica

A tal viagem para casa, anunciada já no título, não poderia ser mais simples. O quarto filme da cinessérie Jornada das Estrelas tem um vilão muito claro e definido. Mas ele não é um homem apenas, com um corpo facilmente localizável e daí apreendido, é quase inumano, pois reside nos hábitos podres de nossa consciência primitiva. É parasitário, nômade, transita entre os homens que tomam as decisões ou que se anunciam como possuidores e descobridores do conhecimento, da força total deste universo, do segredo máximo da “criação”. Jornada nas Estrelas: A Volta para Casa traça essa história do mundo com singelo poder de autocrítica, com um humor jamais infantilizado por toda brincadeira que é fazer um filme. James Kirk (Willian Shatner), Spock (Leonard Nimoy) e os outros “tripulantes do espaço” tem um objetivo lucidamente construído: salvar, na Terra, duas baleias pertencentes a uma espécie que, no futuro, não existirá mais.

Para tanto, eles voltam à Terra do século XX, lugar de brutos e atrasados, povo inculto e tecnologicamente nulo. Vestidos a caráter, precisam encontrar as duas únicas baleias que ainda vivem e levá-las para trezentos anos à frente, na esperança de preservar a espécie. Mais ainda: uma sonda de proporções gigantescas se move as voltas da Terra, emitindo um sinal sonoro que paralisa a energia do planeta, altera a movimentação dos mares e destrói o clima da Terra. Esse som pede resposta e Spock descobre que é necessário que uma baleia responda esse sinal lá no futuro. A própria distância temporal, do século XX ao XXIII, é base para uma coleção de cenas que brincam justamente com isso. Os homens que vem do futuro se atrapalham com a tecnologia “primitiva e medieval”, com os computadores que precisam de botões com letras, números e vários sinais para produzirem palavras e codificações em microtelas pré-históricas. Ora, no futuro basta falar que as máquinas funcionam, não precisa mais tanto esforço braçal.

Mais que criar situações de humor, o filme dirigido pelo próprio Nimoy envolve e se deixa envolver por esse constante movimento do mundo, irrepreensível, este sim verdadeiramente poderoso e, por isso, mortal. Seus melhores momentos são espontâneos, até bastante óbvios diante das circunstâncias da “ficção científica”, pois rimos porque aceitamos o exagero, não importa o quanto ele seja extremo. Sua graça e seus sentidos, cientifica e empiricamente, se transformam em alegorias da viagem cósmica e da relação que o filme criticamente estabelece com o tal mundo real. Aliás, algo que é bem característico do gênero é essa lição do olhar distanciado que fala sobre aquilo que está próximo, mas que às vezes não é bem visto. Ele vê o todo, the big picture. A Volta para Casa se afasta do mundo para olhá-lo com um sorriso maroto, rir com ele dos maus e dos bens comuns. Mas não deixa de dizer: é apenas cinema.

Não lhe falta a boa piada, mas a brincadeira com o tempo e com a “evolução tecnológica” que nos levou longe também nos apartou de nós mesmos, nos criou enquanto maquinarias de inteligência, seres lógicos e frios (símbolos de uma ultramodernidade de ácido, pois corrói o ser em sua intimidade), e depois nos destruiu enquanto espírito humano – e sobretudo como seres da natureza, abrindo fogo contra a demolição da fauna e da flora com cenas de evidente crítica ao cientificismo positivista que nega a própria ciência ao querer ser mais que ela. Com o caldo característico da Guerra Fria preenchendo suas ideias de humanidade, ou seja, não pode existir mais guerra enquanto um lado dominar, Jornada nas Estrelas: A Volta Para Casa também olha para o futuro do cosmos, mas apenas para conseguir olhar aqui, mais perto, mais presente. Isso também é uma possibilidade lógica.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do RS. Edita o blog Tudo é Crítica (www.tudoecritica.com.br) e a Revista Aurora (www.grupodecinema.com).
avatar

Últimos artigos dePedro Henrique Gomes (Ver Tudo)

Grade crítica

CríticoNota
Pedro Henrique Gomes
8
Chico Fireman
7
MÉDIA
7.5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *