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Sinopse

Johnny English é a última salvação do serviço secreto inglês quando um ataque cibernético revela as identidades de todos os agentes do país. Tirado de sua aposentadoria, ele volta à ativa com a missão de achar o hacker por trás do ataque. Com poucas habilidades e métodos analógicos, Johnny English precisa superar os desafios do mundo tecnológico para fazer da missão um sucesso.

Crítica

O agente Johnny English (Rowan Atkinson) está de volta em Johnny English 3.0. Na verdade, ele é a única opção viável para lidar com um vilão desconhecido, isso depois que o Reino Unido sofre um severo ciberataque. Todos os demais servidores em campo têm suas identidades expostas e, portanto, cabe ao mais atrapalhado dos funcionários da majestade britânica a missão de detectar o criminoso digital, fazendo uso de bons e velhos expedientes analógicos. O começo é engraçado, com o protagonista desempenhando a função de professor numa tradicional escola inglesa, porém alterando o protocolo, ensinando aos alunos técnicas avançadas de espionagem. As brincadeiras frequentemente embasadas na diferença entre os conhecimentos dos jovens e a experiência não digital da velha guarda perdem rapidamente a graça, e quando o encarregado do trabalho ultrassecreto chega ao MI7 não é difícil prever que as piadas se sustentarão, basicamente, na, adiante bastante útil, obsolescência desse sujeito.

Johnny English 3.0 se fundamenta no carisma e no talento cômico de Atkinson, conhecido mundialmente como o Mr. Bean. Sua paródia de James Bond é divertida, mas o roteiro desta vez não dá conta de reforçar o conjunto, mantendo-o refém de momentos esparsos de inspiração. Quando English confunde pílulas, tomando uma de aceleração ao invés da para dormir, surge um espaço ideal para as gags físicas do intérprete, que deita e rola com as possibilidades da situação. De maneira semelhante, a sequência da confusão envolvendo a tecnologia de realidade virtual gera um efeito cômico curioso, com o servidor aprontando poucas e boas na cidade, imaginando estar reconhecendo a residência do antagonista. Claro, sua inabilidade é compensada pelas gigantescas doses de sorte e a presença do escudeiro Bough (Ben Miller), que geralmente o salva de cometer enganos, funcionando como um companheiro absolutamente fiel, e bem mais inteligente/consciente, diga-se de passagem.

Vítima de uma estrutura frouxa, Johnny English 3.0 possui uma trama marcada por sucessivos movimentos telegrafados. Exemplo disso, a menção à necessidade de abastecer o Aston Martin vermelho que imediatamente antecede a pane seca. Esquematicamente, isso acaba se tornando uma oportunidade de aproximação com a enigmática Ophelia (Olga Kurylenko) – atriz que foi a bond girl Camille em 007: Quantum of Solace (2008), ou seja, outra piscadela aos fãs do mais famoso espião do cinema. O diretor David Kerr não consegue esconder a ameaça, permanecendo num meio termo desengonçado entre municiar o espectador de informações e deixa-lo a mercê do mistério. Emma Thompson vive uma Primeira-ministra que faria de tudo para evitar o desastre na Inglaterra, inclusive se aproximar de um bilionário norte-americano que lhe oferece segurança digital em troca de controle irrestrito de dados. Apenas os termos do personagem caricatural de Jake Lacy já são suficientes para entregar a identidade do vilão.

Johnny English 3.0 é combalido por um andamento truncado, compartimentado, no qual não há exploração a contento dos elementos que o une parodicamente à figura emblemática de James Bond. Rowan Atkinson e Ben Miller funcionam bem juntos, exalando carisma e complementando-se, pois um acaba fazendo a escada para o outro. Olga Kurylenko aciona o piloto automático para criar alguém dispensável, senão na condição de ponte direta com a saga 007. O plano maquiavélico do vilão, um representante dos novos tempos, contrapostos pelo agente e sua pouca habilidade com gagdgets e afins, é apenas desculpa para enfileirar situações absurdas. A relação entre passado e presente é relativamente bem aproveitada, com brincadeiras se encaixando numa consecução de esquetes, como as vestimentas tradicionais do Reino Unido (a armadura medieval e figurinos escoceses) utilizadas para mostrar o dissenso entre o outrora e o presente. Pena que o efeito cômico dure pouco e não seja constante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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