Jauja
Crítica
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Sinopse
Um pai e uma filha viajam da Dinamarca para um paraiso chamado Jauja. Ela foge apaixonada e o pai parte em uma violenta busca para encontrá-la. A única certeza é que todos que tentaram se encontrar neste lugar se perderam pelo caminho.
Crítica
O que é, afinal, Jauja? E não estamos aqui nos referindo exatamente ao longa realizado pelo diretor argentino Lisandro Alonso e vencedor do prêmio da crítica na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes. Questiona-se, antes, sobre a própria expressão, a origem do termo que o batiza. Para isso, vamos aos esclarecimentos: segundo povos antigos, Jauja era uma terra mitológica repleta de muita abundância e felicidade. Um lugar sem destino certo, impossível de ser encontrado em um simples mapa, e de onde ninguém retornava. Ir a Jauja era uma decisão difícil, pois ao mesmo tempo que garantia plena satisfação, também significava abandono completo e irrestrito em relação a tudo que ficaria para trás. Esse, aliás, é o sentimento através do qual é possível se relacionar com Jauja, o filme.
Não há apenas um campo de leitura na trama estabelecida por Alonso (também co-roteirista) em parceria com Fabian Casas (este estreante na função). Num primeiro plano, temos esse oficial (Viggo Mortensen) em campo aberto, acompanhado sabe-se lá porquê pela filha (Viilbjork Malling Agger) e por outros militares. Estão juntos em uma missão, sem saber ao certo para onde se deslocam nem quanto tempo ainda levarão nessa jornada. Estão longe de casa, e quando os laços que ligam os dois protagonistas começam a enfraquecer – ela está cansada, ele parece perdido – um evento surge para alterar a dinâmica entre eles: a garota se apaixona por um dos comandados dele, e ao invés de se manter numa postura mais cordata, decide fugir com o amado. Começa, aí, o calvário deste pai rumo ao desconhecido.
O segmento seguinte trata da busca deste homem atrás daquela que é também parte dele, mais ou menos como o destino que devem encontrar, mas do qual pouco sabem e dificilmente alcançarão. A narrativa de Jauja, a partir deste ponto, coloca-se quase que por completo nas costas de Mortensen, ator norte-americano já indicado ao Oscar mas que, desde o sucesso mundial que alcançou com a saga O Senhor dos Anéis, tem se aproximado cada vez mais de um discurso distante daquele produzido em Hollywood. E se Longe dos Homens (2014) foi filmado em francês na Argélia e o espanhol Alatriste (2006) representou sua primeira aproximação do cinema latino, sua afeição por cineastas brasileiros (já trabalhou com Walter Salles e Vicente Amorim) se desdobrou também, quase como numa consequência natural, pelos argentinos, antes com Ana Piterbarg em Todos Tenemos un Plan (2012). Nada, porém, foi tão hermético e abstrato quanto o que pode ser visto nessa parceria com Alonso.
Grande parte da trama resume-se a Mortensen vagando pelo pampa em busca de uma filha que não mais espera por ele e que talvez nunca ali tenha estado. Entre fantasia e alucinações, é na imensidão do fim do mundo onde nos sentimos, personagem e espectadores, absurdamente asfixiados, num crescente de abandono e solidão. A quebra proposta pela velha senhora da caverna – nenhuma e todas as mulheres de sua vida ao mesmo tempo – reforça o convite à reflexão, num exercício que somente os mais dedicados e resistentes conseguirão atravessar de cabeça erguida. E quando tudo parecia, enfim, apontar para um único caminho, temos o desenlace desta incógnita, que se apresenta como uma volta – ou seria um avanço – rumo ao desconhecido das memórias já esquecidas ou dos episódios ainda não vividos. Jauja está na ilusão, tão longe quanto o alcance de um sonho, passível de compreensão assim como um abrir de olhos que, em questão de segundos, apaga sentimentos e recordações de toda uma noite.
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