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Sinopse

Jack Reacher, um ex-investigador militar, é convocado para resolver o misterioso caso de um atirador que matou cinco pessoas aleatórias em Indiana. Depois de ser agredido em um bar, ele suspeita que alguém esteja tentando impedir sua investigação.

Crítica

Tom Cruise é um dos maiores astros de Hollywood. Disso ninguém duvida. O problema é que ele há um bom tempo se rendeu à imagem que o público tem dele, do superstar inalcançável que tudo pode e consegue. E isso tem se refletido também em suas escolhas cinematográficas. Dificilmente se vê um filme dele para “ver o filme”. Quem ali está é porque quer ver a estrela, não o personagem. Consciente disso, tem insistido à exaustão no seu tipo mais famoso, o agente secreto Ethan Hunt da saga Missão: Impossível. O protagonista de Jack Reacher: O Último Tiro é só mais uma variação deste mesmo tema – mais interessante do que aquela vista em Encontro Explosivo (2010), mas ainda assim inferior ao original.

Criado pelo escritor britânico Jim Grant (que assina com o pseudônimo Lee Child), Jack Reacher já teve quase 20 aventuras diferentes lançadas nas livrarias de todo o mundo. O filme que agora vemos é baseado no nono romance, One Shot, lançado em abril de 2005. Essa decisão é louvável, pois vamos direto à ação, sem gastar muito tempo explicando a origem do personagem, por exemplo. Por outro lado, perde-se muito da mitologia que existe ao redor dele. Como resultado, este Jack Reacher poderia ser qualquer outro – não há um carinho especial por ele por parte do público. Ou ainda, o efeito é contrário, pois quem o conhece dos livros certamente terá uma ideia bem diferente desta que Cruise tenta vender. O Reacher literário é enorme, bruto e carrancudo. Já o do cinema é baixinho, posa de galã e tem tiradas espertas. Dois mundos, duas realidades.

Um atirador de elite se posiciona no alto de um prédio de estacionamentos, à beira de um rio no centro da cidade. Do outro lado da margem, cinco pessoas escolhidas aparentemente ao acaso viram alvo e são assassinadas indiscriminadamente. Todas as pistas deixadas no local apontam para um ex-militar traumatizado pelo período que passou no Iraque. Acusado, ele chama apenas uma pessoa para vir ao seu socorro: Jack Reacher (Cruise). Ponto um: nós, os espectadores, sabemos que James Barr, o acusado, é inocente. Ponto dois: não entendemos porque a defensora pública (Rosamund Pike) passa a acreditar tão rapidamente no estranho que surge do nada para ajudar o suposto assassino. E por fim, há ainda o promotor (Richard Jenkins) e o policial (David Oyelowo) que vão no sentido contrário, desejando o fim da interferência no caso que estão conduzindo daquele homem cheio de segredos.

A situação muda um pouco de figura quando os desdobramentos da trama entram em cena. Primeiro, é claro que os assassinatos não foram feitos à esmo. Há um motivo para eles, e ir atrás dessa razão até que desperta nosso interesse. Depois temos os verdadeiros responsáveis pelo crime, e a investigação pelo que de pior fizeram para causar uma tragédia dessa apenas para cobrir seus rastros. Outro ponto de destaque é a participação do cineasta alemão Werner Herzog, de clássicos como Fitzcarraldo (1982), aparecendo como ator na pele do grande vilão. Apenas sua presença, encarnando todos os clichês possíveis do gênero, já dá abertura para o uso de um humor mais satírico. Pena que não há uma dosagem equilibrada, e o que poderia ser divertido acaba se tornando meramente maçante.

Nada funciona muito bem em Jack Reacher: O Último Tiro, e muitos destes problemas se devem à mão dura do diretor e roteirista Christopher McQuarrie. Premiado com o Oscar pelo roteiro de Os Suspeitos (1994), desde então só tem se envolvido em bobagens descartáveis, como o fraco Operação Valquíria (2008), estrelado pelo próprio Tom Cruise, ou o problemático O Turista (2010), com Angelina Jolie e Johnny Depp. Até sua estreia como diretor, em À Sangue Frio (2000), feito há mais de dez anos, já era fraca. Mas Cruise parece aprová-lo, tanto que vem desenvolvendo uma parceria artística também em outros trabalhos. Porém, visto este fraco desempenho, talvez essa decisão devesse ter sido repensada. Afinal, não basta carisma e um belo sorriso: é preciso ter conteúdo, algo que Jack Reacher até tem de sobra, mas que infelizmente foi esquecido nesta versão cinematográfica.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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