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Sinopse

Garoto que envelhece quatro vezes mais rápido que o normal, Jack Powell tem aos 10 anos a aparência de 40. Indo à escola pela primeira vez, ele tenta fazer amizade com as crianças de sua idade, algo que se provará uma tarefa árdua.

Crítica

Francis Ford Coppola percorreu os anos 1970 com obras de grande apelo estético e narrativo que remetem ao principal período de maturação e glória do cinema norte-americano. O Poderoso Chefão (1972), A Conversação (1974) e Apocalypse Now (1979) marcaram a carreira deste que permanece entre os principais realizadores do cinema estadunidense, mesmo quando se considera a eventual intromissão de obras meramente comerciais e esquecíveis em sua filmografia, como Jack.

Nesta esquemática comédia, Robin Williams apresenta um desempenho pouco inspirado como Jack Powell, acometido desde o nascimento por uma síndrome que o faz envelhecer quatro vezes mais rápido que o normal. Aos 10 anos, com a aparência de um homem de meia-idade e cansado de se manter escondido dentro de casa, onde recebe educação de um tutor peculiar (Bill Cosby), ele convence os seus pais (Diane Lane e Brian Kerwin) a lhe matricular numa escola convencional. Com esta premissa, o filme se lança a uma série de gags, inicialmente preconceituosas e posteriormente edificantes, que servem a um discurso simplista sobre respeitar as diferenças.

Salvas as devidas particularidades, Jack se arrisca a uma atualização do que Quero Ser Grande (1988) ofereceu anos antes. Enquanto Tom Hanks apostava na consciência infantil projetada, pontual em sua personificação de criança vivendo adulto, Williams recorre a uma visão mais banalizada da infância. Transitando entre o riso tímido, a energia pulsante e aquele eventual choro pueril, o ator se esquece de imprimir nuances mais contemporâneas do que ser criança nos anos 1990 representava – e parece apoiado em memórias de sua própria meninice.

Há alguma graça em Jack, seja no flerte inadequado de Fran Drescher com o protagonista-título ou nas travessuras do grupo de meninos em uma casa na árvore, porém na totalidade o filme é apenas estranho e incorreto. Ainda que em retrospecto Robin Williams pareça nostálgico em suas cativantes performances, o ator simplesmente não funciona neste papel, que por sua vez soa (muito mal) concebido justamente para ele. E quem acaba se destacando no elenco é Jennifer Lopez como Miss Marquez, que parece não ter envelhecido um ano sequer desde a realização do filme, há quase duas décadas.

Enquanto se esforça para manter a aura inocente da produção, Coppola exagera no cálculo de uma fórmula que acaba totalmente inadequada, não funcionando nem como comédia dramática ou drama cômico. O cineasta desaparece numa produção obviamente controlada pelo estúdio, que apostou mais do que devia no roteiro de estreia da dupla Gary Nadeau e James DeMonaco – este responsável por Uma Noite de Crime (2013).

Jack está longe de ser o pior filme já feito, porém é certamente o pior filme dirigido por Coppola. A obra do cineasta possui pérolas essenciais a qualquer cinéfilo, porém não é irretocável assim como o próprio – afinal, se Coppola fosse perfeito, não seria tio de Nicolas Cage. Caso insista na sessão, esteja avisado: seguindo a lógica do filme, duas horas desta suposta comédia dramática equivalerão a oito horas mal aproveitadas de sua vida.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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