Onde Assistir
Sinopse
Em Irmãos, a jovem Irene vive em Roma quando recebe um chamado inesperado: deve voltar para Rimini para cuidar do irmão Omar, adulto e autista, que foi excessivamente protegido e não consegue ser independente. O rapaz, no entanto, tem sonhos claros - quer se tornar um cantor de rap, casar e ter filhos - e pede a Irene que lhe ensine a “ser adulto” de verdade. Comédia/Drama.
Crítica
É bom se deparar com a cara limpa de alguém com quem você já se acostumou a encontrar apenas por meio de efeitos especiais, maquiagens carregadas ou fotografias soturnas. Afinal, este é o caso de Matilda De Angelis, a protagonista de Irmãos, uma simpática comédia dramática baseada em fatos que chega ao Brasil por meio do 20º Festival de Cinema Italiano – de outra forma, sabe-se lá quando um título tão sem pretensão quanto este, mas ainda assim repleto de um carisma irresistível, seria por aqui apresentado. De Angelis é conhecida por produções internacionais como a noiva cobiçada pelo monstro de Drácula: Uma História de Amor Eterno (2025), de Luc Besson, ou como a espiã fatal de Citadel: Diana (2024), spin off dedicado a sua personagem. Aqui, no entanto, aparece sob o viés de uma persona absolutamente comum, e talvez por isso mesmo, tão fácil de com ela simpatizar. O dilema que carrega é um que pode – ou poderia – estar ao alcance de qualquer espectador, e o modo com que lida com essa questão, entre erros e acertos, é de fácil reconhecimento. Qualquer um poderia estar no seu lugar, portanto. Eis a força de um filme discreto, dono de uma narrativa com a qual se é possível se envolver sem imposições, mas de modo irreversível.
Irene (De Angelis, esbanjando vivacidade) está em um dos melhores momentos de sua vida, tanto profissional, quando pessoal. Prestes a adquirir o primeiro apartamento próprio ao lado do namorado de anos, está também participando de encontros e decisões fundamentais para o futuro da empresa onde trabalha. Tudo está indo bem, de acordo com seus planos. Isso até receber um chamado da mãe, solicitando ajuda. Irene mora em Roma, é uma jovem moderna e ativa, e se vê conectada com um mundo em constante movimento. Já os pais ficaram na pequena cidade do interior, cuidando de parentes mais velhos e do irmão que carrega uma característica especial: o rapaz é portador de autismo. Lidar com ele, com suas demandas e necessidades exige atenção vinte e quatro horas por dia. Mas há momentos em que algo mais forte se impõe. Os pais precisarão se ausentar por um declarado motivo de saúde. Não há como a filha, portanto, contra-argumentar. Ela precisa retornar, nem que seja por um período pré-determinado, e assumir os cuidados fraternos. Todo o resto terá que ser colocado em modo de espera.

A premissa não é das mais originais, e muitos poderão acusar um sentimento de déjà vu diante de grande parte da trama. E de fato, há pouco com o que se surpreender frente a jornada proposta. O irmão se mostrará não tão dependente quando a caçula imaginava, assim como essa descobrirá em si uma resiliência e uma determinação que não desconfiava mais ter. Os dois irão se estranhar de início, mas o modo como acabarão um se reconhecendo no outro é responsável por uma das melhores surpresas da história: Omar (a revelação Yuri Tuci, que carrega muito de sua própria experiência para a tela, em uma performance premiada) tem um sonho, e não admite que suas limitações o impeçam de buscar por tal realização. Ele almeja participar de um programa de auditório televisivo, ao estilo de American Idol e The Voice, que revele ao mundo o seu talento enquanto rapper. A música o acalma, o comove, o energiza e o transforma. Esse é um sentimento íntimo, mas que pela forma tão singela que Greta Scarano exerce sua direção termina por transbordar na tela, provocando na plateia uma torcida por um resultado pelo qual se é possível saber de antemão qual será o desfecho. A antecipação do que irá acontecer de forma alguma prejudica a fruição do processo. Um acerto que poucos podem se gabar de conseguir.
Há outras pequenas novidades, nada capaz de alterar os rumos dos acontecimentos, mas que conferem um charme específico ao conjunto visto em Irmãos. O pai silencioso e a mãe eternamente preocupada respondem por momentos singulares, desde a real motivação da ausência da dupla até a mudança de visão materna em relação ao filho que nunca permitiu crescer. E assim como em um outro sucesso de público também inspirado em uma história real – o francês Intocáveis (2011) – o longa escrito e dirigido por Scarano (atriz vista em filmes como Nuovo Olimpo, 2023, esbanjando talento em sua estreia como realizadora) também encerra com imagens das figuras reais que serviram de inspiração para esse episódio. O confronto entre o que parecia ser apenas ficção com a veracidade do real adiciona outra camada de envolvimento com a obra, ampliando discurso e aproximando o todo com o público. Eis, enfim, um conto que vale tanto pela caminhada, quanto pelo destino, elevando-se do lugar comum pela mão segura à frente do projeto e por dois talentos que com pouco a ser elaborado conseguem ir além do óbvio.
Filme visto durante o 20o Festival de Cinema Italiano, em novembro de 2025
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