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Sinopse

Depois que um urso mata seu irmão, Kenai se torna agressivo com os animais. Isso começa a mudar quando ele é milagrosamente transformado num urso e passa a acompanhar o jovem Koda em busca de sua mãe.

Crítica

O velho ditado de “rei morto, rei posto” nem sempre pode ser aplicado à exatidão. Uma boa prova disso era a situação dos Estúdios Disney no início dos anos 2000. Com a ascensão cada vez mais irrefreável da Pixar, muitos poderiam ler aquele cenário e chegar à conclusão de que a consagração de uma significaria, inevitavelmente, a decadência de outra. E não que estivessem totalmente errados – afinal, após um período como “parceiras” (a Disney apenas distribuía os longas feitos pela Pixar de forma independente), a casa mais tradicional acabou adquirindo a novata e tudo terminou virando a mesma coisa. Mas não se enganem os que pensam que tal postura empresarial representou a submissão de uma a outra. Afinal, se a Pixar e sua animação digital deixou claro um lançamento após o outro sua inegável fonte de criatividade, a Disney e seu estilo mais tradicional também tinha ao seu lado talentos de grande valor. Tais como podemos perceber em Irmão Urso, título em que os recursos computadorizados servem de auxílio no contar de uma história em o que importa são os sentimentos e a moral, acima de qualquer outra coisa.

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Ainda que as expectativas naquele momento fossem mínimas, é com grande prazer que o público é levado pela trama envolvente de Irmão Urso, a ponto de não conseguir conter as lágrimas no seu término. Após títulos problemáticos como Atlantis: O Reino Perdido (2001) e Planeta do Tesouro (2002), não se poderia esperar muita coisa, de qualquer modo. Mas essa aventura sobre fraternidade, perda e respeito foi eficiente o suficiente para recuperar a fama do estúdio e ainda oferecer um filme atraente tanto para crianças quanto para os adultos. O traço mais artesanal nos remete de imediato a clássicos como Bambi (1942), ao passo que as emoções desenvolvidas ser sinceras e honestas. Impossível ficar impassível diante de tantos apelos.

A história de Irmão Urso é bastante simples, e esse talvez seja um dos seus méritos. Kenai, o mais novo de três irmãos índios, é transformado em um urso pelos espíritos da floresta, numa espécie de lição para aprender a conviver com os demais seres da natureza. Por um descuido seu, o irmão mais velho foi morto num acidente que envolvia um urso, o que o fez desejar vingança. Agora, transformado, passa a sentir como são as coisas “do outro lado”. Ainda mais que, sob essa nova condição, consegue conversar com os outros animais, além de ganhar como companheiro um pequeno ursinho órfão. Ao mesmo tempo, há ainda o terceiro irmão índio, também motivado por um desejo de vingança, por acreditar que seus dois irmãos faleceram – sem saber que o menor é o urso que ele está à caça.

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O Brasil é notoriamente reconhecido pela excelência dos seus dubladores, além da preferência de grande parte do público por esse tipo de exibição ser uma tendência aparentemente irreversível. Assim, a grande sacada da Disney aqui foi apostar em talentos reconhecidos, como Selton Mello, como o protagonista, e os excelentes Luiz Fernando Guimarães e Marco Nanini como os dois alces atrapalhados que seguem os ursos em suas trajetórias, muito bem utilizados como alívio cômico durante a narrativa. Mas o maior dos prazeres em se assistir a Irmão Urso é perceber que antigos valores, como companheirismo, amizade e justiça ainda fazem sentido e possuem muita força, mesmo ao serem confrontados com uma plateia pouco acostumada a lidar com tais sentimentos. E isso, no final das contas, é o que verdadeiramente importa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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