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Sinopse

Apesar da audácia e da violência notórias, John Dillinger atraía a opinião pública ao seu favor, especialmente ao sustentar o discurso sobre lesar apenas instituições financeiras que cresciam roubando dinheiro do cidadão comum.

Crítica

Lançado durante o verão norte-americano, Inimigos Públicos chega aos cinemas com cara de blockbuster, querendo conquistar grandes públicos. Mas um período mais apropriado seria o final do ano, quando estreiam os longas interessados em prêmios e reconhecimento crítico. Afinal, estamos falando de um dos melhores trabalhos de 2009! Dirigido com muita competência pelo mestre Michael Mann, que recicla com sabedoria e perspicácia elementos já visitados em sua carreira, este é um filme que conquista desde o espectador ocasional atrás de um bom entretenimento até mesmo aqueles mais criteriosos, que valorizam desde planos elaborados até enredos inteligentes, passando por interpretações dedicadas e excelência técnica. Tudo o que se encontra presente por aqui.

Johnny Depp, cada vez melhor enquanto ator, conseguindo equilibrar com cuidado seu carisma de astro de Hollywood com a construção de um personagem verossímil, aparece como o lendário John Dillinger, um assaltante de bancos que infernizou a polícia federal dos Estados Unidos – o recém criado FBI – nos anos 30, período que ficou conhecido como Depressão, após a Queda de 29. Inimigos Públicos se concentra nos últimos 14 meses de atividades do criminoso, que chegou a atingir uma popularidade atualmente só igualada por estrelas de cinema e rockstars. Enquanto Dillinger era tratado pela população como uma espécie de ‘Robin Hood’ – afinal, ele roubava ‘dos ricos’, apenas – no seu encalço estava o burocrata J.Edgar Hoover (Billy Crudup, de Watchmen), comandante da nova força policial e desesperado por apresentar resultados, e um oficial obstinado, Melvin Purvis (Christian Bale, do recente Exterminador do Futuro – A Salvação e o homem por trás da máscara do morcego em Batman – O Cavaleiro das Trevas), que prometeu não descansar até colocar o famoso bandido atrás das grades. Neste meio tempo há ainda o romance entre nosso ‘herói’ e a bela Billie Frechette (Marion Cotillard, em seu primeiro trabalho após o Oscar conquistado por Piaf: Um Hino ao Amor).

São vários os tópicos que podem ser apontados como diferenciais em Inimigos Públicos, tornando este um produto acima da média. A própria elaboração dos protagonistas foge do lugar comum, fazendo-nos torcer pelos vilões, enquanto que os mocinhos são encarados como atrapalhados e facilmente corruptíveis. O espaço dedicado para a história de amor num filme tipicamente de gângster também chama atenção, pois serve de equilíbrio entre a ação e o sentimento, colaborando no envolvimento da audiência. Mann sabe o que está fazendo e o que pretende com este material. Não iria simplesmente se repetir, e se decidiu retornar ao ambiente já visitado em obras tão marcantes como Fogo Contra Fogo, Colateral e Miami Vice, havia de ser por um bom motivo. Nada como o absurdo da realidade para superar qualquer loucura da imaginação!

Inimigos Públicos é uma obra adulta, dotada de muito vigor e realismo, mas ainda assim dinâmica e intensa. Tem ação na medida certa, assim como tocantes momentos dramáticos e ótimas atuações. Apesar do alto orçamento – custou cerca de US$ 100 milhões – teve um desempenho razoável nas bilheterias, o que deve colaborar para que não seja esquecido quando chegar a temporada das premiações. Um filme que brinca com a curiosidade, desperta nossa compaixão e estimula o debate e a reflexão. Talvez possa ser apontada a longa duração ou o excesso de personagens, mas esses são percalços menores dentro de um quadro muito mais amplo e exitoso. Até quem não aprecia o gênero deverá saber reconhecer estes méritos, tornando esta experiência memorável.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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