Crítica
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Sinopse
Dona Mocinha chefia sua família e precisa lidar com questões financeiras e pessoais dela entre um discurso e outro de Carlos Lacerda contra o governo. Já seu neto Rodrigo, uma criança curiosa, está descobrindo o mundo.
Crítica
Após ter ficado quase vinte anos sem filmar – entre Teu Tua (1979) e Amores (1998) –Domingos Oliveira vem mantendo um ritmo intenso de produção desde a sua ‘retomada’ pessoal. Foram quase dez filmes em pouco mais de uma década, e em comum todos possuem o fato de serem muito típicos entre si, como se bastasse a presença do cineasta atrás – ou em frente – das câmeras para se ter um gênero por si só. Domingos é uma assinatura, e poucos realizadores nacionais conseguiram tal estatura. Seu mais recente trabalho, no entanto, é um dos mais íntimos, porém carece de algo a mais que o torne também atraente e, principalmente, interessante. Em Infância, o diretor revisita sua própria história, e a sensação que temos ao vê-la agora é exatamente a mesma proporcionada quando revemos algo que ficou marcado no nosso passado: sem graça e desestimulante.
Quem for atrás de Infância esperando reencontrar Domingos Oliveira enquanto ator irá se decepcionar. Ele aparece apenas por breves momentos, na apresentação e no encerramento da trama. Sua função é introduzir o espectador na história que será contada a seguir e que, curiosamente, ele é o protagonista – mas sua versão jovem, ainda criança, nos anos 1950, quando a família morava na casa da matriarca, Dona Mocinha (Fernanda Montenegro). E assim, durante um dia, acompanharemos os dilemas corriqueiros que espelham toda uma vivência: a avó controladora e autoritária, que sempre está a par de todos os acontecimentos – ainda que muitos se esforcem para esconder dela os problemas que vão surgindo pelo caminho – é a personagem mais cativante, mas há outros, como a mãe insegura diante dos desmandos maternos, o marido desta (e pai do menino) que abraça mais responsabilidades do que lhe cabiam e agora sofre com os riscos assumidos, o tio (irmão da mãe, filho da avó) separado, vergonha da família e um pouco vagabundo, o primo desbocado, a empregada assanhada e a professora recatada, entre outros tipos facilmente reconhecíveis.
Como se pode perceber, não há nada de muito novo em Infância. E a trama se desenvolve neste mesmo ritmo, sem inovar nem surpreender. Montenegro, sempre excelente, faz novamente a mesma personagem que tanto já explorou no cinema e na televisão, numa composição que certamente não lhe representou nenhum desafio. Paulo Betti e Priscilla Rozembaum, como os pais do menino, estão bem à vontade investindo em estereótipos tipicamente dominguianos – a presença dela, aliás, é a mais inusitada, pois aqui interpreta a mãe do garoto que representa o diretor, que na vida real é seu próprio marido. Conflito edipiano em vista? Ricardo Kosovski, como o tio, refaz sua participação quase que obrigatória de todos os filmes do diretor, repetindo gestos, chiliques e maneirismo. Nanda Costa – como a serviçal – e Maria Flor – como a educadora – são duas surpresas do elenco que acabam desperdiçadas em meio a conflitos pouco interessantes e nada motivadores.
Ainda que sua produção tenha sido constante nos últimos tempos, muitos dos filmes recentes de Domingos Oliveira não ganharam uma distribuição competente nos cinemas brasileiros, sendo que a maioria ainda hoje se mantém distante do grande público. É difícil imaginar um futuro diferente para Infância, um longa que se propõe universal – seja pela temática, ou mesmo por sua estrutura circular – mas que acaba reduzido a um discurso que pouco repercute além do próprio umbigo dos envolvidos em sua realização. Enfadonho, protocolar e nada estimulante, deixa claro os sinais de cansaço do seu roteirista e diretor, indicando que, talvez, esteja na hora de uma nova e necessária pausa. Afinal, de nada adianta falar muito, quando não se tem o que dizer – e, principalmente, ninguém interessado em ouvi-lo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 4 |
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