Inexplicável

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Sinopse

Em Inexplicável, Gabriel é um menino que ama jogar futsal. Após conquistar um título de campeão, descobre sérios problemas de saúde e chega a ser declarado morto. De forma milagrosa, ele se recupera - para espanto e alívio dos pais (Eriberto Leão e Letícia Spiller).

Crítica

Filmes como Inexplicável não deixam de ter um certo valor para qualquer cinematografia que se pretenda múltipla e diversa. Numa visão industrial do fazer cinematográfico, que vá além da mera expressão artística e busque um contato mais próximo e imediato com um público amplo e nem sempre tão exigente, relatos baseados em histórias reais compõem uma fonte quase inesgotável de argumentos e premissas a serem exploradas na tela grande. Isso não significa, por outro lado, que essa mesma representatividade possa ser conduzida sem esmero ou um mínimo de discernimento crítico. No longa escrito e dirigido por Fabrício Bittar – responsável por títulos como Como se tornar o pior aluno da escola (2017) e Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro (2018) – o que vale é o que está na tela. Não há espaço para reflexões profundas ou desdobramentos posteriores. A mensagem é clara. E qualquer conclusão além é descartada, pois o que importa é dito com todas as letras, evitando margem para interpretações dissonantes. Afinal, se todos pensarem igual, esse mesmo ato perde sentido.

Narrado de modo absolutamente linear, sem distrações ou mesmo proposições adicionais, Inexplicável se debruça sobre o ocorrido com a família Varandas quando o primogênito, Gabriel, desmaia em meio a um jogo de futebol. Levado às pressas para um hospital, o garoto de apenas 8 anos é diagnosticado com uma doença rara, exigindo um tratamento rápido e incisivo. O processo, por mais arriscado que soe num primeiro momento, parece dar certo, e logo ele estará novamente em casa, entre os pais e o irmão menor. No entanto, nem um dia depois uma outra crise se abate sobre a criança, obrigando um retorno ao complexo médico. Atingido por uma meningite, será necessária uma dedicação intensa do profissional que cuida do seu caso, além do amparo constante dos progenitores, cada um lidando com a questão a seu próprio modo.

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Essa diferença é importante, pois leva ao debate ao qual o filme, de fato, pretende abordar. Em certa cena, enquanto permanece sozinho na sala de espera, o pai, interpretado em tom monocórdio por Eriberto Leão – alternando entre o desprezo, quando demonstrações de fé se manifestam ao seu lado, ou desespero, quando não se tem mais o que fazer – presencia o mesmo médico da sua família anunciando no quarto ao lado que o paciente teria recém falecido. Logo adiante, a esposa – Letícia Spiller se mostra comprometida como uma mãe não disposta a ir contra o que sempre acreditou, por mais que as evidências apontem o contrário – lhe pede que os dois rezem com mais força para que o filho consiga, enfim, melhorar. A isso, o homem reage com indignação, questionando: “qual a diferença entre nós e aqueles que não se curam? Quer dizer que aquela criança morreu porque não teve reza suficiente e a nossa vai se curar se rezarmos o bastante? Isso não faz sentido!”.

A provocação dele, ao menos entre os mais céticos, faz sentido. Porém, Bittar não demonstra interesse em investigar tal dúvida, fazendo exatamente o contrário. E assim, Inexplicável acha um meio de justificar a recuperação quase milagrosa do garoto mostrando que o caminho é um só: devoção e religiosidade. Há pouco debate para a persistência médica, e os esforços do doutor interpretado por André Ramiro (ator que já teve melhores momentos, mas que no geral não decepciona) não chegam a receber o crédito com a ênfase devida – por mais que tenha sido ele o responsável por não desistir em buscar uma cura que até mesmo colegas seus haviam refletido ser impossível. E entre cenas de louvor e indecisões relegadas a um segundo plano, o que sobra é um conto sobre a superação da medicina – e esta é a história que deveria ter sido filmada – disfarçada de salvação milagrosa. Nem tanto aos céus, mas também longe de uma danação nos infernos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Alysson Oliveira
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MÉDIA
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