Crítica

Poucas vezes os distribuidores nacionais acertam ao batizar produções estrangeiras com “versões nacionais” dos títulos originais, mas dessa vez quem optou por Inatividade Paranormal estava mais do que certo. Afinal, a casa do filme não tem nada de ‘assombrada’, e o que se vê na tela é simplesmente nada e mais nada. O que temos, em resumo, é mais uma sessão do típico humor dos irmãos Wayans – aqui, no entanto, representados apenas pelo mais conhecido deles, Marlon Wayans. Com o diferencial de que, se o mote do humor são as produções que imitam documentários, com a câmera na mão e ausência de maiores cuidados técnicos, o que se tem é uma matemática bastante simples: custos reduzidos e lucros ainda maiores. Mesmo que a arrecadação tenha ficado aquém de outros projetos dos mesmos realizadores, como Todo Mundo em Pânico (2000), As Branquelas (2004) ou O Pequenino (2006).

Completamente calcado no roteiro de Atividade Paranormal (2007) – nem inventar uma nova história eles foram capazes – o que temos em cena é o que acontece a partir do momento em que Kisha (Essence Atkins, que esteve também no filme anterior dessa trupe, o fracassado Ela Dança com Meu Ganso, 2009) decide ir morar com o namorado, Malcolm (Wayans). Exatamente como se passa no longa independente de terror sobrenatural que arrecadou milhões em todo o mundo, fatos estranhos e inexplicáveis passam a acontecer na casa dos dois. O curioso, no entanto, é perceber a indefinição do diretor Michael Tiddes (estreando num longa-metragem) sobre qual caminho seguir: se será o do simples besteirol, o da evidente piada calcada em sucessos anteriores de bilheteria ou se a graça virá do humor físico dos personagens. E, ao atirar para todos os lados, ele acaba errando todos os alvos.

Se no início da ação de Inatividade Paranormal os sustos provém da escatologia (como peidos e tortas na cara), logo passamos para os tipos bizarros (os amigos tarados ou o médium gay) para enfim seguir no deboche puro e simples. O desastre só não é completo porque Marlon Wayans é, inacreditavelmente, competente diante às câmeras, e mesmo sem uma grande versatilidade – seu tipo em cena é quase sempre o mesmo – ele consegue convencer no meio de tanta besteira. Sequências como a do sexo rápido do casal ou a dos móveis da cozinha manipulados por um fantasma sem jogo de cintura até provocam algum riso, e isso será o que de melhor o filme poderá oferecer.

Feito à toque de caixa com o único e óbvio objetivo de faturar alguns trocados nas bilheterias durante os últimos suspiros desse subgênero já bastante desgastado, Inatividade Paranormal possui muitas carências, mas talvez a maior dela seja a ausência de um mote que justifique sua graça. Para qualquer um que tenha visto ao menos um dos filmes que aqui servem de inspiração a tarefa de adivinhar de onde virão as próximas piadas é tão fácil quanto entediante. E se nos longas de terror a escassez de recursos é justificada pelo suspense estabelecido ao menos durante a projeção, dessa vez nem isso acontece, e tudo o que recebemos é mais do mesmo. Pior, impossível. Ou não?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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