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Sinopse

Em fevereiro de 1952, uma das maiores tempestades que já atingiu a Nova Inglaterra fez com que um navio petroleiro americano rachasse em duas partes em pleno alto-mar. Para socorrer os 30 marinheiros embarcados, quatro membros da Guarda Costeira partiram a bordo de um pequeno bote, arriscando suas vidas em uma das mais ousadas operações da Guarda Costeira.

Crítica

De todas as grandes companhias cinematográficas de Hollywood, apenas uma nunca chegou a ganhar o Oscar de Melhor Filme. Estamos falando dos Estúdios Disney, um dos mais populares e tradicionais realizadores de sonhos de todo o mundo. Agora, diante tamanho sucesso, qual seria a razão de, ainda assim, não alcançar o feito máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas? Uma das possíveis razões esteja no quesito originalidade. Afinal, independente da trama abordada, se o selo Disney está presente algumas características serão inevitáveis, como feitos heroicos, emoções à flor da pele e personagens um tanto maniqueístas, que pendem ao céu ou ao inferno. Basicamente tudo o que está disponível em Horas Decisivas, um filme dono de pontos interessantes, mas que termina por revelar um conjunto aquém destas partes isoladas.

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O ano é 1952 e estamos em uma pequena cidade costeira dos Estados Unidos. O clima está terrível, tempestades se aproximam, e em alto mar um evento sem precedentes ocorre: dois navios de gigantescas dimensões se partem, literalmente, ao meio. Quando a tragédia acontece com o primeiro, todos os pedidos de socorro são enviados e as mobilizações em terra firme se dirigem para salvá-los. Porém, quando o episódio se repete com a outra embarcação, quase ninguém está disponível para ouvi-los. Cabe a uma tímida representação da guarda costeira, que envia uma equipe limitada, com apenas quatro pessoas em um barco não muito maior do que um bote, para encontrá-los. As condições são as mais adversas possíveis. Todos apostam contra o sucesso da empreitada. Mas quem consegue demover a obstinação de um homem comprometido com o que acredita ser o correto a ser feito?

Os primeiros momentos são a calmaria que antecede a turbulência. Vamos adentrando na história destes homens aos poucos, tendo como ponto de partida o oficial Bernie Webber (Chris Pine), um jovem inseguro diante do primeiro encontro com a mulher que irá mudar sua vida. Ele é o tipo de rapaz que é pedido em casamento pela garota e, quando isso acontece, responde que precisa pedir permissão ao seu superior – ele não se dá conta que tal cortesia é apenas uma formalidade, e não uma obrigação. O personagem é assim construído, de modo unidimensional. Pine se esforça todo o tempo em cena para conter seus impulsos em um tipo que lhe é ingrato, pois deixa de lado o carisma e a postura de liderança habitual numa tentativa de apontar uma personalidade mais convencional. Poderia até ser um com exercício de atuação, mas o resultado é apenas raso.

No outro extremo da ação está Ray Sybert (Casey Affleck), o marujo que fica responsável por toda a tripulação à deriva. A metade do navio em que ele e os demais sobreviventes se encontram segue flutuando, mas não por muito tempo. Botes salva-vidas não são uma opção – o mar está por demais revolto – e as formas de pedir ajuda se revelam ineficazes – ou ao menos é a sensação que lhes resta. Affleck consegue ser a tranquilidade – ou melhor seria dizer, maturidade – em meio ao desespero, oferecendo com olhares e a fala pausada uma composição rica e humana, com a qual o espectador consegue se identificar sem apelar para a emoção gratuita ou caricatura. Com muito menos a sua disposição ele consegue oferecer uma figura com a qual nos importamos e pela qual passamos a torcer.

Mas, como foi observado desde o princípio, trata-se de uma produção Disney, e como tal sabe-se de antemão como será seu desfecho – destacando, inclusive, valores da ‘família tradicional’ e da ‘união faz a força’. O diretor Craig Gillespie chamou pela primeira vez atenção com o atrevido A Garota Ideal (2007) e depois entregou o divertido remake de A Hora do Espanto (2011), apenas para na sequência realizar o telefilme Arremesso de Ouro (2014), feito sob encomenda para o Canal Disney. Horas Decisivas, seu trabalho imediatamente seguinte, é exatamente isso: uma produção para televisão – repare na quantidade de closes e planos fechados – disfarçada por um elenco de quase-astros e efeitos especiais turbinados (algumas cópias em cartaz chegam a ser em 3D, o que evidentemente é um desperdício). Descartável e longe de conter a emoção do episódio real, vale como resgate histórico, mas falha justamente naquilo que o pai de Mickey Mouse tão bem sabia: entreter.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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