Crítica


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Sinopse

Morando em seu trailer no deserto da Califórnia, John Link faz do local também o seu estúdio de tatuagem. Ele tem um cotidiano solitário, mas afastado das drogas e do álcool. No entanto, tudo muda com a chegada de sua filha que está sendo jurada de morte por traficantes.

Crítica

Herança de Sangue pode parecer só mais um filhote da bem-sucedida franquia Busca Implacável, com Mel Gibson encarnando a figura do super pai macho alfa protetor que Liam Neeson de repente se descobriu nascido para interpretar. Mas a verdade é que, muito antes de Neeson, Gibson já vivia personagens do tipo. Max Rockatansky (da trilogia Mad Max) e William Wallace (Coração Valente, 1995), provavelmente os heróis mais conhecidos da carreira do ator australiano, eram homens que abraçavam a violência para proteger (e vingar) suas respectivas famílias. Esse também é o caso de John Link, protagonista de Herança de Sangue. Ex-presidiário e alcoólatra em reabilitação, Link só quer paz, até que sua filha desaparecida ressurge perseguida por traficantes e ele é forçado a protegê-la.

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Dirigido por Jean-François Richet (do remake meia-boca de Assalto à 13ª Delegacia, 2005), o filme é, claro, uma bobagem, mas que poderia, ao menos, se assumir enquanto tal e divertir, rindo de si próprio. Ao invés disso, Richet e os roteiristas Peter Craig e Andrea Berloff apostam num sentimentalismo excessivo na relação entre Link e sua filha Lydia, vivida pela fraca Erin Moriarty, como que levando a sério seus dramas. A dinâmica entre os dois personagens simplesmente não flui, já que de um lado está um ator absurdamente carismático, que arranca dignidade mesmo dos papeis mais tolos que interpreta, e de outro uma jovem inexpressiva que não consegue fazer o espectador se preocupar com seu destino.

Na comparação inevitável com Busca Implacável, Herança de Sangue até ganha em alguns quesitos: por melhor seja Liam Neeson, Mel Gibson ainda está alguns degraus acima na capacidade de construir heróis ao mesmo tempo frágeis e implacáveis com seus inimigos; e o filme de Richet tem o mérito de não investir tanto numa visão de mundo conservadora, como fazia Busca Implacável, em que a paranoia castradora de um pai de classe média e ex-agente estatal se mostra totalmente justificável (em Herança de Sangue, os personagens estão à margem da sociedade e os preconceitos do protagonista, típicos de um red neck, com relação a imigrantes mexicanos, por exemplo, são postos à prova em determinados momentos da narrativa). Mas perde no que talvez seja o mais importante nesse tipo de cinema: a diversão.

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A exceção nesse último aspecto fica por conta da sequência no rancho do personagem de Michael Parks. O ator tarantiniano introduz no filme uma bem-vinda dose de insanidade, que, claro, se multiplica na interação com a figura igualmente fora dos padrões de Gibson. Provavelmente Herança de Sangue seria um filme muito melhor se sua narrativa se resumisse a uma hora e meia com os dois destilando impropérios um contra o outro.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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