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Sinopse

Lorde Voldemort é uma ameaça real, tanto para o mundo dos bruxos quanto para o dos trouxas. Harry Potter suspeita que o perigo esteja dentro da Escola de Artes e Bruxaria de Hogwarts. Alvo Dumbledore convida seu colega, Horácio Slughorn, para ser o novo professor de Poções, já que Severo Snape enfim alcançou o sonho de ministrar as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Paralelamente, Harry começa a ter um interesse cada vez maior por Gina Weasley, irmã de seu melhor amigo, Rony.

Crítica

Novamente dirigido por David Yates, veterano da televisão inglesa que já havia comandado o longa anterior (Harry Potter e a Ordem da Fênix, 2007), Harry Potter e o Enigma do Príncipe é frustrante do início ao fim, causando decepções tanto para os fãs mais ardorosos como para meros curiosos sobre o universo mágico do menino bruxo mais popular do planeta. E as causas para estas desilusões são diversas. Por um lado está o fato desta ser apontada como a mais livre adaptação de todas da série até o momento, eliminando várias passagens e personagens importantes presentes no livro escrito por J. K. Rowling. Mas ainda pior é a indecisão do diretor em assumir o tom obviamente sombrio que o enredo exige ou pender para um clima mais leve e romântico, refletindo as angústias amorosas de milhares de adolescentes ao redor mundo. Esta segunda vertente é, obviamente, uma imposição marqueteira – afinal, estamos falando de jovens dos dois lados da tela, já que tanto os protagonistas quanto a grande maioria dos espectadores estão na faixa dos 15 aos 20 anos! Por fim, o que temos, ao invés de um momento climático entre o Bem e o Mal, é o ápice da disputa entre o artístico e o comercial. E não será muito difícil imaginar quem se sairá melhor.

Se nos últimos episódios tinha ficado bastante claro que o grande vilão, Lord Voldemort, estava restabelecido, recuperado suas forças e pronto colocar em ação seu intento de dominar o mundo, o que sentimos agora é uma pisada no freio, como se o melhor da festa tivesse que ser preservado para o final. Assim, O Enigma do Príncipe tem um sabor um tanto amargo, anticlimático, como se fosse apenas um preâmbulo para o que está por vir. Outra situação problemática é o próprio trailer de divulgação, que passava uma ideia de ‘filme-catástrofe’, com grandes ataques e perigos constantes. Mera ilusão! As cenas mais impactantes são todas dispostas nos dois minutos iniciais da trama, e para piorar aquele que todos temem – Voldemort em pessoa – nem chega a dar as caras nos mais de 150 minutos de duração do filme. Num caso assim, nada mais pode ser feito.

O enredo de Harry Potter e o Enigma do Príncipe perde um tempo precioso com o cotidiano escolar na Escola de Magia Hogwarts e as atribulações juvenis, como quem irá se declarar para quem, tolos ataques de ciúmes ou qual será o casal mais disputado da temporada. É tanto namorinho e paixonites inesperadas surgindo a todo momento que por pouco não seria justo batizar este episódio de Potter’s Creek (numa alusão ao extinto seriado Dawson’s Creek). Nem parece que um ser letal e famigerado está pronto para entrar em ação a qualquer momento, que Sirius Black, padrinho de Potter, foi assassinado poucos meses atrás e que a vida deles poderá mudar radicalmente caso algo drástico não seja feito pelo bem de todos. Assim, somente com as intervenções do diretor Dumbledore é que sentimos algo próximo à tensão que estamos esperando, com os preparativos e a elaboração de um plano de defesa e, principalmente, de ataque contra aqueles que podem colocar tudo em perigo.

A balança de sobe e desce continua com o adendo do oscarizado Jim Broadbent ao elenco, adequado como Horace Slughorn, o novo professor de poções que terá papel fundamental no plano arquitetado contra Voldemort, e as condições assumidas por antigos personagens que agora adquirem uma nova importância: Severo Snape (Alan Rickman, deliciosamente perverso e o melhor de todo o elenco) e Draco Malfoy (Tom Felton, perturbador diante suas ameaçadoras responsabilidades). Por outro lado, se um elemento crucial como o tal ‘enigma do príncipe’ do título é completamente desprezado, não merecendo mais do que algumas citações em passagens rápidas, sem que ninguém fique a par da sua real relevância dentro de um contexto geral, denota-se uma falta de cuidado maior com a própria natureza da trama desenhada.

Harry Potter e o Enigma do Príncipe fica ainda pior depois dos resultados amplamente satisfatórios dos últimos filmes, que compunham uma vertente crescente e extremamente positiva. De todas as aventuras cinematográficas do menino bruxo até o momento, está só consegue ser superior à primeira, e isto porque esta era muito mais um painel, um pontapé inicial, do que um argumento sólido e conciso por si só. Mesmo assim, não deve fazer feito diante um público ávido por estes personagens e ansioso em descobrir como será o término desta jornada. Ao menos com os ânimos arrefecidos é de se esperar que as expectativas se acalmem e tudo possa ser preparado com mais paciência, dedicação e respeito. Afinal faltam ainda dois filmes e um livro para ser adaptado, espaço mais do que suficiente para um encerramento com chave de ouro. Basta, para isso, não repetir os mesmos erros de agora.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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