Crítica


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Sinopse

Dois cientistas símios, Cornelius e Zira retornam no tempo e chegam no século XX, em Los Angeles, EUA. Quando eles revelam sua habilidade para falar primeiramente são tratados como curiosidade, mas depois como uma grande ameaça, quando o governo crê na história que a Terra será dominada por chimpanzés e assim tenta evitar o nascimento do bebê de Zira.

Crítica

Quando o excepcional Planeta dos Macacos (1968) foi transformado em franquia, foi um pouco decepcionante que a continuação daquela história tenha caído de nível em De Volta ao Planeta dos Macacos (1970) que, apesar de seus comentários envolvendo religião e a ameaça nuclear, não é uma obra das mais interessantes. O final do filme, inclusive, tornava teoricamente impossível que a série pudesse ter um novo capítulo. Mas a ganância falou mais alto e este Fuga do Planeta dos Macacos (1971) foi lançado. Surpreendentemente, este é um caso em que devemos agradecer por tal ganância, já que este terceiro exemplar é um dos melhores da franquia.

Escrito por Paul Dehn (que na época roteirizou todas as continuações da série) mostra que Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall), com a ajuda do Dr. Milo (Sal Mineo) consertaram a nave de Taylor (personagem de Charlton Heston nos filmes anteriores) e conseguiram fugir antes que a Terra fosse destruída. Mas a explosão os fez entrar em um buraco no tempo que os envia direto ao passado, no ano de 1973. O casal vira o centro das atenções, sendo muito bem recebido por boa parte das pessoas e fazendo amizade com os cientistas Lewis Dixon (Bradford Dillman) e Stephanie Branton (Natalie Trundy) enquanto buscam se adaptar ao novo ambiente. Mas outros os veem como uma grande ameaça, considerando o futuro de onde vieram.

O uso da viagem no tempo obviamente é apenas uma desculpa forçada para que a franquia possa ter uma continuidade, ainda que coisas desse tipo já fizessem parte dela desde o primeiro filme. Mas trazer Zira e Cornelius para o passado acaba sendo perfeito para tratar temas que ainda são muito atuais na sociedade, como discriminação e preconceito. Isso pode ser visto quando Otto Hasslein (Eric Braeden) fala que os protagonistas devem ser abatidos antes que façam algo ruim, mesmo que eles sejam figuras incrivelmente bondosas e não demonstrem nenhum sinal de violência. Com relação a isso, o roteiro traz um diálogo sensacional e que faz o espectador refletir uma questão curiosa: "Será que mataríamos Hitler no útero, sabendo o que sabemos sobre ele e seus crimes de guerra?”.

Vividos por Kim Hunter e Roddy McDowall com o mesmo carisma dos filmes anteriores, Zira e Cornelius mostram um peso dramático muito maior desta vez, o que faz com que nos importemos com eles do início ao fim. Na verdade, boa parte da eficiência de Fuga do Planeta dos Macacos se deve ao fato de a história girar quase exclusivamente em torno desses personagens, que são alguns dos mais queridos da franquia. E o diretor Don Taylor acerta ao equilibrar bem a descontração de quando os protagonistas estão se adaptando ao mundo moderno, assim como a tensão que fica em volta deles a partir do final do segundo ato.

Os filmes clássicos de Planeta dos Macacos terminam com os créditos rolando sem nenhum tipo de música, deixando apenas algum efeito sonoro ou o próprio silêncio. É uma sacada que busca fazer o espectador sair da história com uma sensação um tanto incômoda. Na maioria das vezes isso funcionou satisfatoriamente, mas nunca tão bem quanto neste terceiro filme, cuja simples última fala tem um grande impacto e o ajuda a ser o exemplar mais trágico da franquia.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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