F1: O Filme

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Sinopse

Em F1: O Filme, Sonny Hayes é um ex-piloto com boa cota de polêmicas que retorna às pistas para competir ao lado do jovem talento Joshua Pearce. Em meio a adrenalina e a intensidade das corridas, ressalta um dos aspectos mais desafiadores desse esporte: a integração em time. Esporte/Drama.

Crítica

No início dos anos 1990, ou seja, há mais de três décadas, os dois maiores galãs de Hollywood eram Tom Cruise e Brad Pitt. O primeiro já desfrutava de uma condição confortável no estrelato desde Negócio Arriscado (1993) e, principalmente, Top Gun: Ases Indomáveis (1996). Já o segundo só foi começar a chamar atenção a partir de Thelma & Louise (1991), confirmando seu status de revelação em Entrevista com o Vampiro (1994), quando foi colocado lado a lado de… Tom Cruise, e não se deixou eclipsar! Muito tempo se passou, o cinema agora é outro, mas os dois seguem na ativa, ambos já tendo passado dos 60 anos de idade. Porém, se ambos seguem se mostrando viáveis enquanto protagonistas, seduzindo audiências e envolvendo espectadores, suas diferentes relações com o passar do tempo tem despertado curiosidade. Afinal, se por um lado Cruise se mostra esforçado em incorporar um visual atlético e disposto a assumir riscos cada vez maiores para comprovar uma suposta jovialidade – como visto nos recentes títulos da saga Missão: ImpossívelPitt tem se revelado confortável com as rugas e os cabelos que começam, lentamente, a embranquecer. F1: O Filme é um bom exemplo nesse sentido. Ele não esconde que seu personagem está longe do seu ápice. Mas encara a nova condição com tanta tranquilidade e carisma, que é quase irresistível não se deixar levar por sua presença. Eis, portanto, o resumo desta obra: você sabe exatamente o que irá encontrar pela frente, e nem por isso deixa de ser um passeio por demais prazeroso.

Sonny Hayes já teve dias melhores. Considerado uma promessa no circuito da Fórmula 1 quando primeiro assumiu o comando de um carro em disputa, acabou deixando passar o trem dessa possibilidade por causa de um temperamento instável e um acidente imprevisto. Hoje, tantos anos depois, segue correndo, pois o esporte está no seu sangue. Mas é considerado um elemento surpresa, alguém que é chamado como último recurso, aquela aposta certeira, que exige bastante, mas também entrega na mesma medida. Ele não quer compromissos, não promete café na cama e nem espera mais do que o combinado. Está bem assim, levando um dia após o outro, sem expectativas. Isso até que Ruben Cervantes, seu antigo colega de escuderia, volta a aparecer em seu caminho. O amigo agora é dono de sua própria equipe, e se encontra na mesma situação de todos os demais que vão até Sonny em busca de ajuda: desesperado. Em último lugar no campeonato, precisa urgentemente de uma vitória. O seu atual corredor, o jovem Joshua Pearce, é tão promissor, quanto irregular. Precisa que alguém experiente, que o guie. Que o faça entregar aquilo pelo qual todos anseiam. A combinação do velho com o novo não chega a ser original, mas funciona quando em equilíbrio.

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É justamente isso que o diretor e roteirista Joseph Kosinski, ao lado do escritor Ehren Kruger (a mesma dupla, portanto, de Top Gun: Maverick, 2022, que lhes rendeu uma indicação ao Oscar), almeja durante todo o desenrolar de F1: O Filme: um balanceamento entre o clichê e o inesperado. Como se diante de uma receita cujos ingredientes são conhecidos, mas que, mesmo assim, podem encantar e surpreender, graças à maestria do chef no comando – e da combinação apresentada na linha de frente. Se Brad Pitt, no papel de Sonny Hayes tem pouco o que fazer além de desfilar o seu charme habitual – algo que não se conquista, ainda que possa ser desenvolvido, o que o astro fez como poucos antes – estar ao lado de jovens talentos como Damson Idris (o novato Pearce) e Kerry Condon (a engenheira mecânica Kate McKenna, que obviamente se torna interesse romântico do protagonista) eleva o jogo a um outro patamar, disparando faíscas a cada encontro entre eles. Diálogos rápidos, enfrentamentos que levam aos desdobramentos prometidos e uma competição – seja na pista, no caso de um, ou na cama, ao se tratar da segunda – que serve para aguçar a curiosidade da plateia são elementos a serem manuseados com precisão, resultando em um conjunto tão apetitoso, quanto previsível.

Fofocas de bastidores afirmam que Kosinski havia pensado no seu parceiro de dois projetos anteriores – além do citado Maverick, ele e Cruise trabalharam também em Oblivion, 2013 – para conduzir as ações de F1: O Filme, mas este teria recusado, preferindo se concentrar no futuro do agente Ethan Hunt. Brad entrou no seu lugar, e o sucesso se deu da mesma forma. Potatoes, tomatoes. Tanto um, quanto outro. E se Cruise parece arrependido de sua decisão, declarando pensar agora em uma continuação para Dias de Trovão (1990) – outro filme também sobre corridas automobilísticas – Pitt por sua vez pontuou mais um acerto em sua carreira, podendo rivalizar com outros campeões de bilheteria da sua filmografia, como Guerra Mundial Z (2013) ou Sr. e Sra. Smith (2005). No meio de tudo isso, veteranos como Javier Bardem (como Ruben, também com pouco a fazer, mas cuja presença se mostra certeira) e Sarah Niles (atriz indicada ao Emmy por Ted Lasso, 2021-2023) ainda ganham (limitado) espaço para desfilarem excelência. E assim a fórmula um, esporte elitista e de limitado alcance, ganha um filme para chamar de seu, esbanjando talento em frente e atrás das câmeras (a trilha sonora de Hans Zimmer é um caso à parte), feito para ser desfrutado na maior tela possível e nas melhores condições. Se isso é pouca coisa, ao menos é mais do que muita gente tem demonstrado por aí.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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