Crítica


6

Leitores


2 votos 5

Onde Assistir

Sinopse

Acompanhando as jornadas de seis refugiados, Napuli, Tarcha, Bruno, Dana, Nizar e Lahtow, esta é uma observação sobre o estado do mundo frente à crise dos refugiados que se espalhou por todo o planeta. Cada vez mais pessoas deixam seus lares para fugirem de motivos diversos como guerras e epidemias, buscando um porto seguro para recomeçar suas vidas.

Crítica

Talvez não exista, realmente, um tema contemporâneo tão importante quanto a imigração, especialmente quando ela é motivada pela necessária evasão de ambientes conflituosos. A partir dessa questão, pode-se analisar uma série de aspectos, alguns referentes aos que chegam e outros, ainda mais sintomáticos de determinadas linhas de pensamento, aos que deveriam fazer às vezes de anfitriões. Exodus: De Onde Eu Vim Não Existe Mais tenta ser abrangente, mais no que tange à amostragem que necessariamente aos meandros envolvidos no deslocamento de gente que não goza de segurança em suas próprias terras natais. O cineasta Hank Levine observa diferentes pessoas ao redor do mundo enfrentando adversidades parecidas, por conta, justamente, das barreiras à adaptação, da saudade dos familiares e da hostilidade crescente em nações nem sempre acolhedoras, como a Alemanha e seus “depósitos de estrangeiros”.

No Brasil, o filme acompanha Dana, síria que trabalha em São Paulo como secretária numa mesquita, cujo objetivo é reencontrar-se com os familiares residentes no Canadá. Na Alemanha, aborda o cotidiano combativo de Napuli, ativista política que precisou deixar para trás o convulsionado Sudão do Sul, e o togolês Bruno, morador durante anos de um espaço para expatriados, que atualmente luta por seus semelhantes. Em Mianmar, Lahtow e Mahka são apresentados como exemplos de refugiados em condições similares, que perderam o direito de morar em suas casas, pois elas se localizam em zonas de guerra. Nascida no Saara Ocidental, a idosa Tarcha é encarada como testemunha dos anos de opressão marroquina numa fronteira repleta de minas terrestres. Por fim, o longa registra a jornada de Nizar, sírio-palestino de passagem pelo Brasil, com destino à Alemanha, onde tentará um visto de permanência para formar-se farmacêutico.

Hank Livine trata cinematograficamente cada um desses protagonistas como sintomas de uma realidade dura, subordinada à ideia de espaços estritamente delimitados, propensos à segregação. A recorrência das informações complementares, surgidas na tela em forma de texto, confere a Exodus: De Onde Eu Vim Não Existe Mais um viés jornalístico, ao qual corrobora a predileção pela informação, em detrimento dos dramas humanos em voga. Determinados personagens ganham mais destaque, do que decorre uma constante impressão de mera complementariedade. A conjuntura de Mianmar, por exemplo, com pessoas arriscando a vida para visitar suas antigas moradias abandonadas em virtude dos embates, é praticamente relegada à função de adicionar outro elemento ao panorama geral. A dispersão oriunda do roteiro frágil também depõe contra a pujança narrativa, tornando o todo refém de forças circunstanciais.

Em Exodus: De Onde Eu Vim Não Existe Mais predomina uma sensação de distanciamento, embora Levine tente acessar recônditos no caminho. Quando ensaia extrair mais profundidade de certas situações, contudo, o documentário logo se desloca a outras histórias, sem justapô-las com intentos expressivos e/ou dramáticos. Momentos emblemáticos como a mulher localizando minas terrestres ou a discussão entre Napuli e seu noivo alemão, em que fica evidente uma incontornável diferença cultural, são subaproveitados como excertos de algo maior, permanecendo mais relevantes se circunscritos em si. Falta ao filme um senso de unidade acurado. Os fragmentos possuem méritos sobressalentes, pois dão conta das diversas faces de uma chaga global, mesmo dentro de um esquema bem definido, pouco poroso ao que não concerne à seara da constatação. Todavia, falta liga à urdidura, do que resulta uma trama bastante frouxa.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *