Crítica

A promessa de Every Thing Will Be Fine, título otimista para o último trabalho de Wim Wenders, era o de um filme em 3D que, ao contrário do visto nos últimos anos, não se perderia no uso da tecnologia e a colocasse a favor da história. Para isso, o diretor alemão  escolheu o roteiro do escritor norueguês Bjorn Olaf Johannessen e montou um elenco com James Franco, Charlotte Gainsbourg e Rachel McAdams.

O que se passou entre o roteiro e o final das filmagens é uma incógnita. Every Thing Will Be Fine conta a história do Tomas (Franco), escritor que acaba causando a morte do filho de Kate (Gainsbourg). O caso o perturbará pelos próximos 12 anos, tempo em que o acontecimento será um marco para a ambas as vidas. Como exige a profissão, o evento será peça determinante do seu processo criativo.

Tendo Pina (2011) como um dos seus últimos trabalhos, um longa em 3D sem precedentes e extremamente elogiado, é difícil compreender o que fez Wenders enveredar para a linha dramática encontrada aqui, pobre e excessiva, presa simplesmente ao gatilho emocional da tragédia. A sequência inicial, do personagem de Franco na neve levando pela mão um menino em choque, parecia antecipar um  filme de grandes momentos. O que sucedeu foi um mar de expectativa e uma cena isolada no frio canadense.

Tomas é um personagem ensimesmado. Preocupado com a sua ficção, tem dificuldade para fazer de qualquer relacionamento uma acontecimento entre duas pessoas. Quem sofre com isso são as mulheres que passam por sua vida, como Sara (McAdams) e Ann (Marie-Josée Croze). O isolamento é superficialmente resguardado pelo motivo intelectual – tornar-se um escritor reconhecido – mas, no fundo, é a culpa que lhe consome.

Transcorrido o tempo do luto, Kate aceitará o que se passou. Somente não compreenderá o que faz Tomas retornar esporadicamente para vê-la. Tampouco saberão os espectadores que, exceto a curiosidade literária, nada parece fazer com que Tomas realmente se interesse pelo resultado das suas ações. Franco faz o possível, mas o papel de Tomas, de um homem que realizou o próprio julgamento e se declarou culpado, é duro

Para além da história superficial, fica a sensação de que o 3D do filme é desnecessário. Ainda que Wenders saiba como usar a tecnologia, evitando, por exemplo, os movimentos bruscos que não resultam bem, e preferindo trabalhar com a profundidade dos objetos – e a cena inicial é um bom exemplo disso – a tecnologia não faz diferença, e talvez o filme, que surgiu pensado em pesar a favor do 3D na produção atual, tenha conseguido o resultado contrário.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
avatar

Últimos artigos deWillian Silveira (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *